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terça-feira, 18 de outubro de 2022

Solução política ‘não é mais suficiente’ para enfrentar a atual crise no Haiti, diz ONU

Uma solução política no Haiti continua indefinida e, por si só, não é mais suficiente para enfrentar a crise e salvar milhares de vidas que, de outra forma, seriam perdidas, alertou Helen La Lime, representante especial da ONU (Organização das Nações Unidas) no país.

Na segunda-feira (17), ela pediu aos embaixadores que ajam de forma decisiva e ajudem a enfrentar os persistentes flagelos da insegurança e corrupção, que junto com uma crise de saúde estão “acelerando a espiral descendente do Haiti”.

Mais cedo, o secretário-geral António Guterres disse a jornalistas que o atual bloqueio de suprimentos humanitários e civis vitais, imposto na capital de Porto Príncipe por gangues fortemente armadas, bem como o risco crescente representado pela epidemia de cólera, exige ação” para criar um corredor humanitário que salva vidas.

“Estou falando de algo a ser feito com base em critérios humanitários rígidos, independentemente das dimensões políticas do problema, que precisam ser resolvidos pelos próprios haitianos”, explicou o chefe da ONU, acrescentando que vem instando o Conselho de Segurança a agir, reforçar a polícia nacional com formação e equipamento, mas a crise atual “significa que é preciso fazer mais”.

Menino lava as mãos na cidade de Tiburon, Haiti, maio de 2020 (Foto: Unicef/Edler Fils Guillaume)
Epidemia e insegurança

La Lime ressaltou que, em apenas algumas semanas, dezenas de casos de cólera foram confirmados, com mais da metade resultando em morte, e centenas de suspeitos a mais nos Departamentos Centro e Oeste.

E, enquanto os casos não documentados da doença mortal transmitida pela água aumentam em partes da capital, as gangues continuam bloqueando o terminal de Varreux, onde a maior parte do combustível do país é armazenada.

“As consequências para a infraestrutura básica do Haiti têm sido graves, interrompendo as operações nos hospitais e fornecedores de água do país, impactando a resposta à doença”, disse ela, ressaltando que sem combustível o lixo não pode ser removido dos bairros, enquanto as chuvas torrenciais promovem inundações, o que “cria condições insalubres para a propagação de doenças”.

A representante alertou que, até agora, nem o trabalho da polícia nem os apelos do corpo diplomático, incluindo a ONU, para a criação de um corredor humanitário, foram bem sucedidos.

Quase mil sequestros foram registrados apenas em 2022, e a insegurança geral continua impedindo milhões de crianças de frequentar as aulas, isola bairros inteiros e deixa famílias expostas à extorsão, com algumas queimadas vivas em suas próprias casas.

“Esperamos que as chegadas neste fim de semana a Porto Príncipe de importantes equipamentos táticos adquiridos pelo Haiti, entregues pelo Canadá e pelos EUA, ajudem a polícia a retomar o controle da situação”, enfatizou.

La Lime ressaltou que qualquer apoio de segurança reforçado à polícia também deve ser acompanhado de apoio ao sistema de justiça, tanto para garantir a responsabilização adequada, mas também para reforçar as iniciativas lideradas nacionalmente, como as unidades judiciárias propostas especializadas em processar crimes relacionados a gangues, bem como crimes financeiros.

“Sob tal estado de persistente agitação civil, violência e saques, os direitos básicos estão sendo flagrantemente prejudicados em todo o país. As gangues continuam ferindo, sequestrando, estuprando e matando”, descreveu.

Se isso não bastasse, a privação econômica também deixa a população em seu estado mais vulnerável em anos: com a violência das gangues impedindo uma resposta humanitária proporcional à cólera e à escassez de alimentos. Um recorde de 4,7 milhões de pessoas enfrenta fome aguda, incluindo dezenas de milhares que estão agora à beira da fome.

“Para apoiar as instituições haitianas em sua busca por ordem cívica e responsabilidade e para salvar milhares de vidas que de outra forma seriam perdidas, os membros deste Conselho devem agir, e de forma decisiva, para ajudar a enfrentar os persistentes flagelos da insegurança e corrupção no Haiti” , concluiu La Lime.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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