A China acelerou os planos e pretende anexar Taiwan “muito mais rápido” do que se imaginava. O alerta foi feito na segunda-feira (17) por Antony Blinken, secretário de Estado dos EUA. Ele abordou a questão um dia após o pronunciamento do presidente chinês Xi Jinping durante o 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), em Beijing.
“Houve uma mudança na abordagem de Beijing em relação a Taiwan nos últimos anos”, disse Blinken em um evento na Universidade de Stanford, na Califórnia, de acordo com a rede Bloomberg. Segundo ele, a China tomou uma “decisão fundamental de que o status quo não é mais aceitável e que Beijing está determinada a buscar a reunificação em um cronograma muito mais rápido”.
As declarações do chefe da diplomacia norte-americana vão ao encontro do que disse Xi na reunião do PCC que deve garantir-lhe um inédito terceiro mandato de cinco anos. “Continuaremos a lutar pela reunificação pacífica”, disse o presidente chinês no Congresso. “Mas nunca prometeremos renunciar ao uso da força. E nos reservamos a opção de tomar todas as medidas necessárias”.
Segundo Blinken, uma China “muito diferente emergiu nos últimos anos sob a liderança de Xi Jinping”. Ele argumentou: “É mais repressiva em casa, é mais agressiva no exterior. E, em muitos casos, isso representa um desafio para nossos próprios interesses, bem como para nossos próprios valores”.
Apesar do alerta, o secretário de Estado afirmou que EUA e China deveriam se aproximar. Falou isso sob o cenário da guerra na Ucrânia, a respeito da qual os chineses tentam manter uma posição de neutralidade, em que pese sua aliança com a Rússia.
Blinken sugeriu que o posicionamento chinês é insatisfatório, dizendo que Beijing “precisa responder aos sinais de demanda de que países de todo o mundo estão se tornando um ator positivo, não negativo, em questões que os preocupam”, segundo o site The Defense Post.
Apoio militar
A grande dúvida que ainda paira quanto à posição norte-americana na relação China-Taiwan diz respeito à ajuda militar em caso de uma eventual invasão da ilha. Em setembro, em entrevista à rede CBS, o presidente Joe Biden chegou a afirmar que “sim”, enviaria tropas para defender Taiwan em caso de uma agressão chinesa.
Na ocasião, o entrevistador comparou a situação da ilha à da Ucrânia, onde as tropas norte-americanas não agiram diante da invasão russa, embora o governo forneça armamento crucial para a defesa de Kiev. “As Forças dos EUA, homens e mulheres dos EUA defenderiam Taiwan no caso de uma invasão chinesa?”, questionou o jornalista Scott Pelley, a que Biden respondeu objetivamente: “Sim”.
A resposta afirmativa é até agora o mais claro posicionamento de Washington sobre sua atuação militar em socorro à ilha autogovernada. Formalmente, porém, a política diplomática norte-americana ainda é de ambiguidade, respeitando o compromisso firmado com Beijing de apoio ao conceito de “Uma Só China”, que considera a ilha parte do Estado chinês.
Na segunda-feira (17), Blinken manteve o tom ambíguo ao afirmar apenas que os EUA honrarão seus compromissos com a ilha, segundo a rede britânica BBC. Não entrou em maiores detalhes a ponto de explicar o que isso significa.
Caminho semelhante seguiu o secretário de Defesa Lloyd Austin em entrevista ao podcast GPS, no início do mês de outubro. Questionado se Washington está se preparando para enviar tropas a Taiwan, como declarou o presidente, ele preferiu não se comprometer. “As forças armadas americanas estão sempre preparadas para proteger nossos interesses e cumprir nossos compromissos. Acho que o presidente foi claro ao fornecer suas respostas a uma pergunta hipotética”, disse.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para a China. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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