Pelo menos 20 pessoas morreram em um ataque triplo com carro-bomba na segunda-feira (3) na Somália, entre elas dois funcionários do governo local. Segundo relato de testemunhas, dois veículos carregados de explosivos detonaram pela manhã e um terceiro à tarde em Beledweyne, cidade a cerca de 300 quilômetros da capital Mogadíscio. As informações são da rede Voice of America (VOA).
Segundo o comissário de polícia de Beledweyne, Bishar Hussein Jimale, os ataques foram coordenados pelo Al-Shabaab, organização jihadista associada à Al-Qaeda. Ele acrescentou que entre as vítimas, além de civis e soldados, estão autoridades, incluindo o vice-comissário de finanças na região de Hiran e deputados e ministros em Hirshabelle.
Ainda na segunda, a autoridade policial disse que o trabalho de resgate seguia em andamento na busca de pessoas feridas, bem como para encontrar e identificar corpos.
“Lamentamos, mas não choramos”, disse ele, prometendo vingança contra o Al-Shabaab.
Dois dos ataques atingiram a base militar de Lama Galaay, que abriga os escritórios do presidente regional e vários funcionários do governo local. Já o terceiro carro-bomba explodiu enquanto se dirigia para o mesmo alvo.
Os ataques ocorrem dois dias após o governo somali ter anunciado a morte de um comandante da organização terrorista conhecido como Abdullahi Nadir, ocorrida após um ataque aéreo na região de Middle Juba. A queda do líder foi descrita pelo governo local como um “espinho removido da nação somali”.
Nadir, que atuou como chefe de finanças do Al-Shabaab, era apontado como provável substituto do líder do grupo, Ahmed Diriye, que estaria doente. Sua cabeça havia sido colocada a prêmio pelo governo dos EUA e a recompensa era de US$ 3 milhões.
Por que isso importa?
O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.
O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.
Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação
“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.
O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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