Evgeny Prigozhin, aliado do presidente russo Vladimir Putin e tido como principal financiador da organização paramilitar Wagner Group, pediu ao Comitê de Investigação da Rússia que avalie a possibilidade de punir o jornal Fontanka e seus editores, por uma reportagem referente à atuação do grupo de mercenários na guerra contra a Ucrânia. As informações são da rede Radio Free Europe.
Foi o Fontanka quem primeiro revelou os esforços do Wagner Group para recrutar novos membros em presídios russos. A reportagem citava o caso de uma mãe que tentava encontrar o filho, que cumpria pena de dois anos por roubo de carro quando desapareceu da prisão. Mais tarde, ele foi localizado em Luhansk, uma cidade no leste da Ucrânia atualmente sob o controle da Rússia.
Vladimir Osechkin, chefe da ONG Gulagu.net, que monitora o sistema prisional russo, disse recentemente que Prigozhin teria ido pessoalmente a algumas unidades prisionais oferecer o perdão presidencial em troca dos serviços dos presos. Um detento que presenciou o recrutamento afirmou que condenados por homicídio premeditado e roubo são especialmente bem-vindos, nas palavras do recrutador.
De acordo com Prigozhin, essas alegações são “falsas” e têm o objetivo de “criar uma imagem negativa” da Rússia e de seus governantes. Daí a necessidade de, segundo o aliado de Putin, ser iniciada uma investigação contra o Fontanka, a autora da reportagem, Ksenia Klochkova, e o editor-chefe Aleksandr Gorshkov.
O ‘chef’ de Putin
Empresário do ramo gastronômico, Prigozhin é conhecido como “chef de Putin”, em função dos muitos contratos que tem para fornecer refeições ao governo. Ele é apontado também como responsável por comandar o trabalho de financiamento do Wagner Group, que tem um histórico de abusos dos direitos humanos em em países como Líbia, Síria, República Centro-Africana e Moçambique.
A atuação do Wagner Group sempre foi envolta em mistério, inclusive com alegações de que ele sequer existia. Porém, as inesperadas dificuldades enfrentadas por Moscou para derrotar as tropas ucranianas levaram o Kremlin a buscar reforços, e os mercenários surgiram como alternativa. A ponto de o grupo ter o nome citado na TV estatal e de ter criado uma campanha para recrutar novos membros em todo o país.
Na TV, o Wagner Group protagonizou uma reportagem da emissora Rússia 1.“Este local foi libertado por especialistas do Wagner PMC (empresa militar privada, da sigla em inglês), os famosos ‘músicos’ da famosa ‘orquestra’”, disse o correspondente de guerra Evgeny Poddubny enquanto visitava a usina de Vuhlehirska, na região de Donetsk. Ao lado dele nas imagens aparecia um mercenário mascarado, usando capacete estampado com uma caveira e duas espadas cruzadas.
A fim de manter o suporte ao exército russo, que tem perdido equipamento e pessoal num ritmo bem superior ao de qualquer projeção, o Wagner Group precisa recrutar novos membros. E tem feito isso abertamente na Rússia, recorrendo inclusive ao sistema carcerário, algo que as próprias forças armadas são suspeitas de fazer.
Em ao menos 27 das 85 regiões da Rússia há campanhas de recrutamento, com faixas nas ruas, recrutadores ativos e processos online. “Você quer passar um verão inesquecível com novos amigos e obter lucro? A empresa de viagens Wagner Group oferece passeios na Europa, África e Oriente Médio”, diz um anúncio na rede social VK, a versão russa do Facebook. A promessa salarial é de cerca de US$ 4 mil por mês, sendo o contrato válido por no mínimo quatro meses.
Por que isso importa?
O nome do Wagner Group remete ao pseudônimo de seu fundador, Dmitriy ‘Wagner’ Valeryevich Utkin, que por sua vez tomou como referência o compositor alemão favorito de Hitler e um dos símbolos da Alemanha nazista. O financiamento, privado, é uma incumbência de Prigozhin.
Há indícios de que ao menos dez mil pessoas já serviram à misteriosa organização desde que ela deu as caras pela primeira vez. Foi em 2014, quando os mercenários foram destacados para dar suporte às forças separatistas pró-Rússia da região de Donbass e na Crimeia, na Ucrânia.
De lá para cá, há sinais de presença do grupo em conflitos em diversos países. Os mercenários são acusados de inúmeros crimes de guerra, e agora acredita-se que por volta de mil deles estejam em ação na guerra iniciada no dia 24 de fevereiro na Ucrânia.
Embora o grupo alegue não ter nenhuma relação formal com o Kremlin, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC) do Departamento do Tesouro dos EUA já designou o Wagner Group como uma “força de procuração do Ministério da Defesa da Rússia”, segundo artigo assinado por James Petrila e Phil Wasielewski e publicado no blog Lawfare.
Há cerca de um ano, um mercenário ouvido pela BBC afirmou que a organização “é uma estrutura que visa promover os interesses do Estado para além das fronteiras do nosso país (a Rússia)”. E classificou os combatentes como “profissionais da guerra”, pessoas em busca de emprego ou apenas “românticos que querem servir seu país”.
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