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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Criptomoedas podem ser um ativo no mercado, mas precisam ser reguladas, diz economista

Nos últimos meses, o mercado financeiro acompanhou preocupado a queda dos valores do bitcoin, até então símbolo de ganhos rápidos. A desvalorização trouxe um debate sobre a validade e a segurança das criptomoedas.

Em uma série de boletins informativos, a Unctad (Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento) analisou os riscos e os custos, incluindo ameaças à segurança de sistemas monetários, desses recursos.

Segundo a economista Marina Zucker, da Divisão de Financiamento de Dívida e Desenvolvimento da Unctad, essas moedas entraram realmente como um novo ativo do sistema financeiro, mas ainda não são regulados. O que pode se tornar um problema.

“A gente vê historicamente que no sistema financeiro aparecem novos produtos, mas eles precisam ser regulados de forma correta para não impor risco nem para a economia nacional nem para os consumidores”, disse ela.

Criptomoedas pode colocar economias em risco (Foto: Divulgação/Unsplash/ André François McKenzie)

Em uma das análises, a Unctad aponta que, além desta instabilidade financeira, as criptomoedas podem colocar em xeque o uso de controle de capitais, que é uma ferramenta muito importante para países em desenvolvimento gerarem crescimento doméstico.

“A gente, no estudo, também percebeu que criptomoedas, e não só bitcoin, bitcoin é uma das 19 mil criptomoedas, criptoativos que existem hoje, elas podem facilitar evasão de recursos domésticos e colocar em xeque uma ferramenta muito importante para países em desenvolvimento que é o controle de capitais. Além em muitos países ainda não há imposto sobre elas. Em países que estão colocando impostos para criptomoedas, às vezes ainda não há formas de garantir que esse imposto chegue ao poder público. Então, elas podem diminuir os recursos financeiros do governo. Esses são alguns dos riscos que as criptomoedas impõem para os países em desenvolvimento”, afirmou.

Segundo a Unctad, dos países emergentes, a Ucrânia é a que mais tem investidores em criptomoedas com 12,7% da população. Em seguida vem a Rússia com 11,9% e a Venezuela com 10,3%. O único país de língua portuguesa na lista é o Brasil, com 4,9% aparecendo em 11º lugar.

A relação inclui 20 economias avançadas e emergentes. Das avançadas, Cingapura vem em primeiro com 9,4% seguida por Estados Unidos com 8,3% e Reino Unido com 5%.

Marina citou o caso de El Salvador, na América Central, que foi o único no mundo a definir o bitcoin como uma moeda de curso legal. Segundo ela, havia muita expectativa de que as criptomoedas iriam aumentar a questão da inclusão financeira e a remessa de migrantes, um recurso importante para os países em desenvolvimento, mas não foi isso que aconteceu.

“A gente vê que isso não se concretizou, somente 10% da população em El Salvador está usando o bitcoin de maneira corrente. E, segundo dados mais recentes, menos de 2% das remessas de migrantes que vão para o país são canalizadas para criptomoeda. Então, na verdade, essas promessas de se resolver os problemas dos países em desenvolvimento não foram respondidas”, disse ela.

Marina Zucker destacou ainda que muitas famílias que investiram em criptomoedas tiveram suas economias em risco com a queda do valor das moedas. Além do próprio governo de El Salvador, que ficou exposto às variações de câmbio e à diminuição dos recursos disponíveis.

Para ela, esse é um exemplo de que as moedas não são uma solução para os países em desenvolvimento. “Elas são um ativo especulativo, por isso devem ser regularizadas, mas não consideradas moeda de curso legal”, declarou.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News

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