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sexta-feira, 19 de agosto de 2022

As trocas de prisioneiros ao estilo de Vladimir Putin

Este artigo foi publicado originalmente em inglês no jornal independente The Moscow Times

Por Andrei Soldatov e Irina Borogan

Em meio à guerra na Ucrânia, Rússia e EUA se encontram ocupados organizando a troca mais sensível entre os dois países há mais de uma década. As negociações dizem respeito a um infame traficante de armas russo Viktor Bout, o chamado Mercador da Morte, que está em uma prisão americana desde 2010.

Em troca de sua libertação, os EUA procuram dois cidadãos americanos; o ex-fuzileiro naval dos EUA Paul Whelan e a estrela do basquete Brittney Griner, ambos atualmente em prisões russas.

Vladimir Putin é um veterano neste jogo e certamente exigirá um preço muito mais alto dos americanos.

Agora, é uma espécie de clichê que Putin esteja obcecado em imitar o grande estilo da Guerra Fria, incluindo as trocas. O exemplo mais citado é a troca de 2010, quando dez agentes secretos russos – os chamados ilegais –, incluindo a espiã ruiva Anna Chapman, foram trocados no aeroporto de Viena por quatro russos que haviam sido ativos da inteligência ocidental. O evento foi uma reminiscência das trocas de espiões da época da Guerra Fria na ponte Glienicke, que liga Berlim e Potsdam.

O Kremlin executou a operação em 2010 com muita habilidade. O escândalo foi retratado como uma grande vitória para o SVR (Serviço de Inteligência Estrangeira) – mesmo que todos os espiões russos tivessem sido capturados – para transmitir a mensagem de que a inteligência russa estava de volta ao cenário mundial. Também foi descrito como uma vitória para a FSB (Agência de Segurança Federal), que pegou os quatro russos.

A estrela do basquete Brittney Griner, presa na Rússia: moeda de troca (Foto: Wikimedia Commons)

Putin não é puramente um estudante das operações da Guerra Fria. Ele também aprendeu lições durante seus 22 anos no poder, quando acumulou sua própria história de trocas. Por fim, ele desenvolveu sua própria estratégia e estilo com um elemento de assinatura: sempre mude os termos do contrato.

Putin era diretor da FSB no final dos anos 1990, quando o Kremlin estava rotineiramente envolvido no obscuro processo de trocas e pagamentos de resgate de reféns feitos por separatistas chechenos no norte do Cáucaso. Era o período em que a primeira guerra chechena já havia terminado e os separatistas desfrutavam de um período de independência, mas não tinham renda. Logo, alguns militantes começaram a sequestrar jornalistas estrangeiros e russos, generais do exército e funcionários do Kremlin. Centenas de pessoas foram feitas reféns, e aqueles que tiveram sorte foram comprados ou trocados por chechenos presos na Rússia.

Para lidar com o problema, um esquema duvidoso foi desenvolvido pelo oligarca Boris Berezovsky, então vice-secretário do Conselho de Segurança, e Vladimir Rushailo, chefe do Ministério do Interior, famoso por seus métodos corruptos e brutais de combate ao crime organizado. A ideia era simples: para libertar os reféns do cativeiro, o Kremlin precisava ter mais chechenos na prisão. Eles chamaram isso de “formar um banco de reféns”, o que significava deter pessoas para serem trocadas em negócios futuros.

A FSB de Putin fez parte desse jogo e ele nunca esqueceu essas lições. No outono de 2019, ele provou que era capaz de ir muito mais longe do que seus professores da era chechena.

Uma troca de prisioneiros com a Ucrânia em 7 de setembro de 2019 foi projetada como um triunfo para o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que estava no cargo há apenas alguns meses.

Foi uma troca massiva envolvendo 35 pessoas de cada lado. Zelensky estava libertando um grupo de marinheiros ucranianos e um famoso diretor de cinema, Oleg Sentsov. Ele supervisionou pessoalmente as difíceis negociações e ficou tão feliz em receber seu pessoal de volta que anunciou a troca a caminho do aeroporto, mas antes da entrega. Isso foi um erro.

Putin imediatamente aumentou as apostas, exigindo que mais um prisioneiro fosse adicionado à lista – Vladimir Tsemakh, um separatista do leste da Ucrânia apoiado pela Rússia, que foi uma testemunha chave da queda do voo MH17 por um míssil russo em 2014.

Ponte dos Espiões foi palco de três trocas de prisioneiros na Guerra Fria (Foto: David Stanley/Flickr)

Os holandeses, que lideravam a investigação sobre a atrocidade, pediram a Zelensky que recusasse, sem sucesso. O líder ucraniano se sentiu preso, vez que já havia anunciado a troca e não tinha como recuar.

A maneira como Putin jogou o jogo foi vista por muitos em Moscou como prova de que Vladimir Putin havia se tornado o mestre, de fato possuía habilidades verdadeiramente incomparáveis, no comércio de seres humanos.

Ao adicionar Tsemakh à lista no último momento, ele prejudicou significativamente a investigação internacional sobre a derrubada do MH-17 e aprendeu uma importante lição. Nesse tipo de jogo, os líderes autoritários levam vantagem sobre os democratas. Ao contrário destes, aqueles não precisam se preocupar com a opinião pública. Mais do que isso, quanto maior a publicidade em torno das negociações, maior a pressão sobre os líderes democráticos para que cedam às exigências cada vez maiores dos ditadores.

As táticas de Putin também incorporam lições da experiência chechena; que, nesse tipo de jogo, quanto mais brutalidade, melhor. Isso explica por que Brittney Griner foi condenada a nove anos de prisão, no limite superior da tarifa por seu crime de posse de óleo de cannabis. Que as prisões russas sejam notórias por suas condições brutais e desumanas só melhora a mão de Putin. Ele sabe que, quanto mais público o caso se torna, maior a oportunidade de aumentar as apostas e exigir mais agentes de alto valor nas prisões ocidentais.

Putin já começou a jogar este jogo, exigindo a libertação de Vadim Krasikov, um assassino russo que assassinou um senhor da guerra checheno em Berlim em plena luz do dia e que está preso na Alemanha desde 2019.

E isso significa que o Ocidente deve estar pronto para o próximo passo lógico; que o Kremlin mais uma vez procurará construir um novo “banco de reféns”, cheio não de chechenos, mas de ocidentais.

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