No dia 25 de agosto de 2017, o governo de Mianmar deu início a um violento processo repressivo que posteriormente seria reconhecido como genocídio. As vítimas são os rohingyas, uma minoria étnica muçulmana proveniente do oeste do país asiático, com mais de um milhão hoje vivendo em precários campos de refugiados em Bangladesh.
Cinco anos depois, a ONG Human Rights Watch (HRW) destaca a impunidade dos responsáveis pelo massacre e cobra “medidas concretas para responsabilizar os militares de Mianmar e garantir justiça e segurança para os rohingyas em Bangladesh, Mianmar e em toda a região”.
“Os governos devem marcar o aniversário de cinco anos da campanha devastadora contra os rohingyas com uma estratégia internacional coordenada de prestação de contas e justiça que se baseia na contribuição dos rohingyas”, disse Elaine Pearson, diretora interina da HRW.
Em relatório sobre a situação, a ONG cobra dos governos que explorem “todas as vias de justiça e responsabilização pelos crimes de atrocidade dos militares de Mianmar, inclusive apoiando formalmente o caso sob a Convenção de Genocídio apresentada pela Gâmbia contra Mianmar perante a Corte Internacional de Justiça”. E lembra que Canadá e Holanda “declararam publicamente sua intenção de apoiar o processo”.
O governo de Bangladesh e a junta militar de Mianmar também renovaram as discussões sobre a repatriação, sendo que as duas tentativas anteriores falharam devido à recusa dos próprios rohingyas, citando a perseguição da qual são alvo em território birmanês.
“Queremos voltar para Mianmar, mas para ir para lá queremos justiça”, disse Mohammad Ayaz, um refugiado de 21 anos. “Quanto tempo teremos que viver em uma casa de lona? Já se passaram cinco anos. Quem sabe quanto tempo teremos de viver aqui. Quem sabe se o mundo nos ajudará a obter justiça ou não”.
De acordo com Pearson, a impunidade no genocídio rohingya encorajou o governo militar de Mianmar, no poder desde o golpe do ano passado, a assassinar civis na violenta repressão política em curso no país. “Os governos influentes devem superar seus erros do passado e tomar medidas fortes para cortar o fluxo de armas e receitas que subscrevem os crimes em curso da junta”, disse ela.
Por que isso importa?
Os rohingyas compõem um grupo étnico muçulmano minoritário de Mianmar, no sudeste da Ásia. Embora vivam nos Estados de Rahkine e Chin, no oeste do país, não têm direito à cidadania e são perseguidos pelas autoridades locais, com relatos de assassinatos, estupros e outros abusos.
Investigações indicam que os militares birmaneses foram responsáveis por atrocidades que incluem ainda mutilações, crucificações, queima e afogamento de crianças, numa ação deliberada de “limpeza étnica” hoje classificada globalmente como genocídio. Ativistas de direitos humanos pressionam há tempos por esforços internacionais para responsabilizar Mianmar por crimes contra a humanidade.
Diante desse cenário, cerca de um milhão de pessoas da minoria fugiram para Bangladesh desde 2017, sendo abrigados em precários campos para refugiados como o de Cox’s Bazar, o mais superlotado do mundo.
Outros 600 mil rohingyas continuam em Mianmar, vivendo sob as leis opressivas do governo militar que comanda o país. A perseguição é tão violenta que tornou-se habitual as pessoas lotarem embarcações rumo a Bangladesh, embora as condições que os esperam no destino sejam terríveis e o trajeto até lá seja extremamente perigoso.
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