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quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Sri Lanka pede à China que adie visita de navio após protestos na Índia

O governo do Sri Lanka diz que solicitou a Beijing que adie a visita ao porto de Hambantota do navio chinês Yuan Wang 5, que estava agendada para ocorrer entre os dias 11 e 17 de agosto. O pedido foi uma reação à pressão da Índia, que teme o uso da embarcação para fins militares por parte da China. As informações são da agência catari Al Jazeera.

“Na sequência da necessidade de novas consultas, o Ministério comunicou à Embaixada da República Popular da China em Colombo para adiar a visita da referida embarcação ao porto de Hambantota”, disse o Ministério das Relações Exteriores do Sri Lanka, em comunicado divulgado na segunda-feira (8).

O Yuan Wang 5, classificado por Beijing como um navio de “pesquisa”, estava em rota para o porto, cuja construção custou US$ 1,5 bilhão e foi financiada com dinheiro chinês. O argumento de chineses e cingaleses é o de que a visita serviria apenas para o reabastecimento da embarcação.

Segundo analistas de segurança, porém, o Yuan Wang 5 é usado para rastreamento espacial, capaz de monitorar lançamentos de satélites, foguetes e mísseis balísticos intercontinentais. Os EUA dizem que ele serve ao Exército de Libertação Popular (ELP) da China.

A interferência da Índia não foi bem recebidas pela China. “Enquanto o Sri Lanka enfrenta dificuldades econômicas e políticas, interferir grosseiramente no intercâmbio e cooperação normal do Sri Lanka com outros países é explorar sua vulnerabilidade, o que é moralmente irresponsável e contra as normas básicas que regem as relações internacionais”, disse Wang Wenbin, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês.

O porta-voz ainda reforçou a posição de que se trata apenas de um navio de pesquisa. “Pedimos às partes relevantes que vejam as atividades de pesquisa científica marinha da China sob uma luz racional e parem de interromper o intercâmbio normal e a cooperação entre a China e o Sri Lanka”, afirmou Wang.

Yuan Wang 6 no porto de Papeete, Polinésia Francesa, dezembro de 2011 (Foto: Wikimedia Commons)
Disputa por influência

China e Índia travam uma disputa por influência no Sri Lanka, país que atravessa profunda crise econômica. Nova Délhi ganhou pontos recentemente ao enviar entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões em ajuda ao país, mas a presença de Beijing continua sendo muito forte.

Hambantota é crucial nessa disputa, vez que foi construído dentro da Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative), iniciativa lançada pelo presidente Xi Jinping para financiar obras de infraestrutura no exterior.

Como o Sri Lanka não conseguiu pagar as parcelas devidas, Beijing ativou a cláusula contratual que repassou à China o controle do porto. Daí a preocupação indiana de que as instalações sejam usadas com finalidade militar, não apenas comercial.

Nesse cenário, o temor da Índia no que tange ao navio está atrelado à capacidade de rastreamento dele. Assim, o Yuan Wang 5 poderia usar a visita para coletar informações sobre as usinas nucleares indianas de Kalpakkam e Koodankulam.

Por que isso importa?

O estremecimento das relações entre Índia e China remete a uma disputa territorial de abril de 2020, quando soldados rivais se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países. O problema começou com uma troca de acusações sobre desrespeito à Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), a fronteira de fato entre as nações.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962.

Em 15 de junho de 2020, a paz na fronteira foi quebrada após novos confrontos entre soldados indianos e chineses no vale de Galwan, na região de Ladakh, na Índia. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estão posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

Beijing e Nova Délhi mantiveram 14 rodadas de negociações desde os confrontos de junho de 2020. As conversas levaram à retirada de tropas em vários pontos ao longo da ALC, mas não de todos. E não foi possível chegar a nenhum acordo sobre a fronteira. Para especialistas, qualquer deslize de um dos lados pode levar a uma guerra entre as nações.

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