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quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Explosão mata 21 pessoas em mesquita no norte de Cabul, no Afeganistão

Uma grande explosão aconteceu na mesquita Siddiquiya, em Cabul, capital do Afeganistão, na quarta-feira (17), durante as orações do fim de tarde. Segundo informações divulgadas pela polícia local nesta quinta (18) e reproduzidas pela agência catari Al Jazeera, 21 pessoas morreram.

Khalid Zadran, porta-voz da polícia de Cabul, disse que outras 33 pessoas ficaram feridas no episódio, que ocorreu em um bairro da zona norte. A explosão chegou a quebrar vidraças de prédios da região, e testemunhas afirmam que o imã da mesquita, mulá Amir Mohammad Kabuli, está entre os mortos.

Um hospital local gerido por uma ONG italiana diz que recebeu depois da explosão 27 pessoas feridas, entre elas algumas crianças. Stefano Sozza, que dirige o estabelecimento, afirmou que duas pessoas já chegaram mortas, enquanto uma terceira vítima morreu durante o atendimento.

“As lesões são principalmente devido à [bomba] e a queimaduras após a explosão. Nove pacientes têm menos de 18 anos, e uma criança tem sete anos”, disse Sozza. “O hospital agora está bastante cheio. Temos apenas oito leitos livres e estamos ficando sem capacidade, infelizmente.”

Embora nenhum grupo tenha assumido a autoria do ataque, ele carrega as características do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K), grupo extremista que rivaliza com o Taleban no Afeganistão e que tem como principais alvos de seus violentos ataques a minoria xiita e os próprios talibãs.

Na semana passada, a ação de um homem-bomba matou Sheikh Sahib Rahimullah Haqqani, importante clérigo do Taleban. O EI-K, de quem o líder religioso era crítico ferrenho, assumiu a autoria do atentado. Relatos sugerem que o terrorista responsável pela morte era um homem que havia perdido uma perna e usou a prótese de plástico para esconder a bomba.

Homem-bomba do EI-K no Afeganistão (Foto: reprodução de vídeo)
Por que isso importa?

Desde que assumiu o poder no Afeganistão, no dia 15 de agosto do ano passado, o Taleban alega ter derrotado o Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) e tornado o país mais seguro para seus cidadãos. Entretanto, a recente ofensiva do grupo terrorista, que tem realizado seguidos e violentos ataques, derruba esse argumento e expõe a dificuldade que os talibãs têm para lidar com seu principal inimigo doméstico. 

A questão da segurança é um dos muitos problemas que os talibãs precisam solucionar no Afeganistão, também afetado por uma séria crise econômica e pelo isolamento internacional, fruto da falta de reconhecimento do grupo radical como governo oficial por parte das demais nações. Uma situação que vai na contramão dos argumentos do Taleban de que é uma força estabilizadora em um país duramente afetado por seguidas guerras.

“O principal objetivo do EI-K é impedir que o Taleban faça a transição de uma insurgência para um governo [funcional]”, disse Abdul Sayed, pesquisador sueco que acompanha o grupo jihadista. “O Taleban não pode formular uma política abrangente de contraterrorismo enquanto operar como uma insurgência e não se tornar um governo aceitável para os afegãos”.

Em seus discursos, o Taleban tenta vender uma imagem de estabilidade que não condiz com a realidade. “Sem dúvida, o Daesh (sigla em árabe do nome anteriormente usado pelo EI) foi derrotado e suprimido”, disse o porta-voz do Taleban Zabihullah Mujahid em abril, classificando as ações recentes do grupo jihadista como “sintomas de sua fraqueza e derrota”.

O problema é que esses ataques continuam a acontecer. Em abril, o EI-K reivindicou atentados mortíferos contra escolas e mesquitas, matando dezenas de pessoas. No mês seguinte, ao menos 14 morreram em uma série de explosões reivindicadas pelo grupo. Já em agosto, o EI-K assumiu a autoria de um ataque que matou oito pessoas em uma mesquita. Há ainda episódios que deixaram outras dezenas de mortos e não foram oficialmente assumidas, embora carreguem suas características.

O antagonismo do EI-K em relação ao Taleban fica claro pelo aumento dos ataques terroristas desde agosto. Nos últimos quatro meses de 2021, a facção extremista realizou 119 atentados no Afeganistão, contra somente 39 do mesmo período em 2020. Desses, 96 ataques tiveram como alvo os próprios talibãs, contra apenas dois no ano anterior.

“Esses ataques visam a provar que a tomada do poder pelo Taleban foi um fracasso”, disse Sayed.

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