O governo da China, através de seu Ministério da Defesa, anunciou nesta quarta-feira (17) que o Exército de Libertação Popular (ELP) enviará tropas à Rússia para a realização de exercícios militares conjuntos entre os dias 30 de agosto e 5 de setembro. As informações são da agência Reuters.
Em comunicado, Beijing afirmou que as manobras “não têm relação com a atual situação internacional e regional” e que fazem parte de um acordo bilateral estabelecido anteriormente. Segundo o governo chinês, outros países se comprometeram a participar dos exercícios, entre eles Índia, Belarus, Mongólia e Tadjiquistão.
“O objetivo é aprofundar a cooperação prática e amigável com os exércitos dos países participantes, aumentar o nível de colaboração estratégica entre as partes participantes e fortalecer a capacidade de responder a várias ameaças à segurança”, disse o comunicado.
Em maio deste ano, já com a guerra na Ucrânia em andamento, China e Rússia realizaram uma patrulha aérea conjunta sobre o Mar do Japão, o Mar da China Oriental e o Pacífico Ocidental, igualmente parte de um acordo bilateral. A movimentação foi adiantada para o primeiro semestre, sendo que em 2019, 2020 e 2021 ocorreu na primeira metade do ano.
Por sua vez, exercícios militares semelhantes aos anunciados nesta quarta ocorreram pela última vez em 2018. Naquela ocasião, a China enviou tropas pela primeira vez.
Pedido de apoio
Apesar da declaração do governo chinês, é inevitável associar os exercícios à aliança “sem limites” que Moscou e Beijing anunciaram no início de fevereiro, pouco antes de as tropas russas invadirem a Ucrânia no dia 24 de fevereiro e já com a tensão elevada em torno de Taiwan.
Poucas semanas depois, já com o conflito em andamento, uma autoridade norte-americana revelou que a Rússia teria pedido equipamento militar à China, em busca de apoio à invasão em larga escala da Ucrânia. Beijing reagiu, acusando Washington de espalhar “desinformação” sobre a postura do país em relação à guerra. “Intenções maliciosas”, disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Zhao Lijian.
O Kremlin igualmente rechaçou a alegação de que teria buscado suporte chinês. Segundo o porta-voz do governo russo, Dmitry Peskov, “a Rússia não pediu ajuda à China e tem influência militar suficiente para cumprir todos os seus objetivos na Ucrânia”.
Já Einar Tangen, membro do Instituto Taihe, um think tank sediado na China, disse que Beijing não tem interesse em dar apoio militar. “A China disse claramente que se opõe ao Ocidente colocar mais armas e munições na Ucrânia, pois vê isso como adicionar petróleo ao fogo. Portanto, seria hipócrita se eles começassem a ajudar a Rússia”, disse.
Por que isso importa?
O conflito na ex-república soviética causou mal-estar no governo chinês, gerando desconforto com seus mais valiosos parceiros comerciais: Estados Unidos e União Europeia (UE). Ainda assim, a China tem sido um dos poucos países a se mostrar contrário às sanções impostas à Rússia pelas nações ocidentais, como forma de sufocar o financiamento militar.
Em abril, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China Zhao Lijian afirmou que o país asiático “desaprova a solução de problemas por meio de sanções e se opõe ainda mais a sanções unilaterais e jurisdições de longo alcance que não têm base no direito internacional”.
Segundo Zhao, Beijing não admite ser forçada a “escolher um lado ou adotar uma abordagem simplista de amigo ou inimigo. Devemos, em particular, resistir ao pensamento da Guerra Fria e ao confronto do bloco”.
A posição da China pró-Rússia também levou o governo do país a censurar a informação, de forma a vetar manifestações em desacordo com as determinações do Kremlin, que classifica a guerra como “operação militar especial”.
O controle estatal da informação que chega aos cidadãos chineses é parte do esforço local para difundir a ideia de que é um mediador no conflito, ao mesmo tempo em que preserva o discurso de que a Rússia tem o direito de defender seus interesses.
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