Taiwan continua se preparando para uma eventual invasão da China, em meio à crescente tensão que tem os EUA como terceiro vértice da crise triangular. A ilha autogovernada tem investido cada vez mais em Defesa, e até a população civil vem se preparando para o combate. Uma das medidas mais recentes é transformar áreas urbanas em abrigos antiaéreos para abrigar os cidadãos casos Beijing dispare seus mísseis. As informações são da agência Reuters.
Existem em Taiwan cerca de 4,6 mil instalações que podem servir como abrigo contra ataques aéreos chineses. São estações de metrô, estacionamentos subterrâneos e shopping centers que, adaptados, poderiam abrigar por volta de 12 milhões de pessoas.
A medida pegou de surpresa alguns taiwaneses, como Harmony Wu, de 18 anos. O espaço dentro de um shopping que antes ela os amigos usavam para ensaiar coreografias de dança foi convertido em um bunker subterrâneo.
“Ter abrigo é muito necessário. Não sabemos quando uma guerra pode acontecer, e eles devem nos manter seguros”, disse ela. “A guerra é brutal. Nós nunca a experimentamos, então não estamos preparados”.
A fim de manter os cidadãos informados, o governo catalogou os endereços dos possíveis abrigos e inseriu a relação em um aplicativo para celulares. Também vem realizando uma campanha informativa nas redes sociais e com pôsteres espalhados pelo território.
Um treinamento também foi realizado para ensinar a população a agir em caso de ataque. A ordem é buscar abrigo subterrâneo, proteger olhos e ouvidos com as mãos e manter a boca sempre aberta, de forma a minimizar o possível impacto de ondas de choque.
Por ora, cada instalação está devidamente sinalizada, com um cartaz amarelo do tamanho de uma folha tamanho A4. Nele está destacado o número de pessoas que o espaço comporta. Mas não há mantimentos estocados, como água e comida, embora alguns políticos peçam que isso seja incluído na preparação.
Wu Enoch, membro do Partido Democrático Progressista, recomenda que a população se prepare por conta própria e reserve kits de sobrevivência. “O importante é o que você traz com você, para que as pessoas fiquem lá por um longo período de tempo”, afirmou.
Lenha na fogueira
A situação entre China e Taiwan ficou ainda mais delicada nos últimos devido à visita à ilha de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, que chegou à ilha na última terça-feira (2). Trata-se da mais importante autoridade norte-americana a visitar a ilha desde 1997, quando um dos antecessores dela, Newt Gingrich, lá esteve.
A tensão é tamanha que mesmo em Washington houve quem condenasse a visita. Três pessoas familiarizadas com a questão disseram à Reuters, quando a viagem ainda era apenas uma possibilidade, que a Casa Branca avaliou o momento como sensível e manifestou preocupação.
Para os opositores da ideia, a viagem irritaria Beijing numa escala bem superior em comparação a outros incidentes diplomáticos. Isso porque ocorreria na semana das comemorações da fundação do Exército de Libertação Popular (ELP) da China, em 1 º de agosto, e no ano do 20º Congresso do Partido Comunista Chinês (PCC), que pode render ao presidente Xi Jinping um inédito terceiro mandato no governo.
A reposta chinesa veio através de intimidação, com novas incursões aéreas e exercícios militares com fogo real através do Estreito de Taiwan. Já o ministro das Relações Exteriores Wang Yi disse que a visita “viola gravemente o princípio de uma só China, infringe maliciosamente a soberania da China e descaradamente se envolve em provocação política”, de acordo com o jornal South China Morning Post.
A Rússia, que tem na China seu mais importante aliado, partiu em defesa de Beijing e chamou a visita de Pelosi de “provocação”. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Maria Zakharova disse em uma coletiva de imprensa que Moscou se opõe à independência de Taiwan “de qualquer forma”, segundo a rede Radio Free Asia.
No Brasil, quem se pronunciou foi o movimento Democracia Sem Fronteiras (DSF), elogiando Pelosi pela “ousadia” e o “enfrentamento ao governo autoritário chinês”. “Parabenizamos ainda o governo de Taiwan por recebê-la e mostrar ao mundo que as relações entre países democráticos não serão ditadas por um governo autoritário, como o que a China tenta impor”, disse o grupo à reportagem de A Referência.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
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