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sábado, 27 de agosto de 2022

Belarus ameaça Otan e diz que modificou aviões militares para que carreguem armas nucleares

O presidente de Belarus Alexander Lukashenko direcionou nesta sexta-feira (26) uma ameaça clara ao Ocidente, ao anunciar que as forças armadas do país modificaram seus aviões militares SU-24 para que sejam capazes de carregar armamento nuclear. As informações são da agência catari Al Jazeera.

O anúncio foi direcionado particularmente à Polônia, com quem Belarus faz fronteira e que é membro da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte). Segundo a agência belarussa estatal de notícias Belta, Lukashenko disse confiar que os militares poloneses, diferente de seus governantes, entendam como Minsk poderia reagir em caso de uma escalada.

A decisão de modernizar as aeronaves foi tomada em parceria com o presidente russo Vladimir Putin, de quem Lukashenko é aliado. E, considerando que Belarus não tem arsenal nuclear, os aviões seriam usados para transportar armamento de Moscou. Entretanto, não foi informado pelo governo belarusso se de fato ogivas serão transportadas para o território aliado, nem mesmo quando ou como isso aconteceria.

“Eles [o Ocidente] devem entender que, se optarem pela escalada, nenhum helicóptero ou avião os salvará”, disse Lukashenko. “Não é uma boa ideia escalar as coisas com Belarus porque isso seria uma escalada com o Estado da União [de Rússia e Belarus], que tem armas nucleares. Se começarem a criar problemas, a resposta será imediata”.

Alexander Lukashenko, presidente de Belarus, em reunião com militares (Foto: reprodução/eng.belta.by)
Belarus x Ucrânia

O anúncio foi feito apenas dois dias depois de o próprio Lukashenko publicar uma carta parabenizando a Ucrânia, país atualmente sob invasão russa, pelo seu dia da independência. A data comemorativa dos ucranianos coincidiu justamente com a marca de seis meses da guerra contra a Rússia.

“Estou convencido de que as contradições de hoje não serão capazes de destruir a base secular de laços sinceros de boa vizinhança entre os povos de nossos dois países”, afirmou o líder belarusso na quarta-feira (24), desejando ainda aos ucranianos “céus pacíficos, tolerância, coragem, força e sucesso na restauração de uma vida decente”.

A carta não foi bem recebida por Mykhailo Podolyak, assessor presidencial ucraniano. “Lukashenko realmente acredita que o mundo não percebe sua participação em crimes contra a Ucrânia. E é por isso que ele deseja cinicamente ‘céus pacíficos’ nos bombardeando. Essa palhaçada ensanguentada está registrada e terá consequências. Logo após a queda do bárbaro império da Rússia”, disse ele no Twitter.

Por que isso importa?

A aliança entre Belarus e Rússia, anterior à guerra na Ucrânia, já gerou críticas ao presidente Alexander Lukashenko por submeter Minsk às ordens de Moscou. O jornalista russo Konstantin Eggert afirmou, em artigo publicado pela rede alemã Deutsch Welle em março, que “o Kremlin vem consolidando seu controle sobre o país vizinho” nos últimos anos.

Segundo Eggert, “tudo o que o Kremlin está fazendo aponta para o objetivo de a Rússia absorver Belarus de uma forma ou de outra, embora possa permanecer oficialmente no mapa com Lukashenko como governante”.

O próprio presidente belarusso levantou essa possibilidade em agosto do ano passado, embora não tenha manifestado muito otimismo na conclusão do processo. “Quando falamos de integração, devemos entender claramente que isso significa integração sem nenhuma perda de Estado e soberania”, disse na ocasião.

A aliança entre russos e belarussos foi ganhando um enfoque cada vez mais militar conforme a tensão crescia entre Rússia e Ucrânia, com um ataque por parte de Moscou iminente. Então, quando a guerra explodiu, no dia 24 de fevereiro, o papel de Lukasehnko foi fundamental. Àquela altura, o Kremlin já havia posicionado dezenas de milhares de soldados em Belarus, usando o país como rota para a invasão.

Em artigo publicado em 12 de agosto e intitulado “Não nos esqueçamos do envolvimento de Belarus na guerra da Rússia na Ucrânia” (em tradução livre), o jornalista ucraniano Mark Temnycky destacou o papel belarusso como viabilizador do ataque.

“Nos últimos cinco meses, o presidente belarusso Alexander Lukashenko permitiu que o presidente russo, Vladimir Putin, usasse Belarus como palco para a invasão russa. A Rússia lançou vários ataques aéreos do território belarusso à Ucrânia”, disse ele. 

“Ao apresentar a Putin uma base de operações para sua invasão ilegal e desnecessária da Ucrânia, Lukashenko é culpado por associação. Em vez de condenar a guerra, o presidente belarusso afirmou repetidamente que apoia as ações da Rússia na Ucrânia”, prosseguiu o jornalista, que pediu punição a Belarus.

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