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sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Presidente da Somália compara Al-Shabaab a cobra venenosa e promete ‘guerra total’

Hassan Sheikh Mohamud, que reassumiu a presidência da Somália em junho deste ano, tendo ocupado o cargo anteriormente entre 2012 e 2017, prometeu “guerra total” contra o Al-Shabaab. O líder nacional engrossou o tom contra o grupo terrorista após o ataque que matou 21 pessoas no Hotel Hayat, na capital Mogadíscio, na sexta-feira (19) passada.

Em discurso feito nesta semana, Mohamud afirmou que a organização jihadista associada à Al-Qaeda “é como uma cobra mortal em suas roupas”. E sentenciou: “Não há solução a não ser matá-la, antes que ela mate você”, disse ele, segundo a agência Associated Press (AP).

A nova ofensiva contra o grupo conta inclusive com um ex-terrorista, nomeado pelo governo para ajudar a derrotar a ideologia de seus antigos companheiros. Trata-se de Mukhtar Robow, que já teve uma recompensa de US$ 5 milhões oferecida por Washington por sua captura, mas deixou o grupo em 2013. Hoje, é o ministro de assuntos religiosos do governo somali.

Moalimuu Mohamed, um ex-correspondente da rede britânica BBC e hoje parlamentar na Somália, disse ao site somali Garowe que a escolha de Robow é uma estratégia inteligente do governo. “Como ex-líder jihadista, ele contribuirá muito para a luta contra o Al-Shabaab. Ele pode trabalhar com a comunidade religiosa para desafiar a ideologia extremista e convencer os militantes de que suas crenças não seguem o verdadeiro caminho do Islã”.

A ousada iniciativa é parte da estratégia de um presidente que já no mandato anterior tinha o grupo terrorista como principal inimigo. Atualmente, porém, a missão tende a ser mais complicada. Mohamed Mubarak, presidente do think tank de segurança Hiraal, com sede em Mogadíscio, avalia o Al-Shabaab atualmente como “mais poderoso e sofisticado do que era em 2012”.

Prova disso é o ataque contra o hotel, que teria exigido 18 meses de planejamento e mais de 1,2 mil combatentes. O Hayat era um popular ponto de encontro de autoridades do governo, sendo que dezenas de pessoas estavam no local na hora do evento. Foi o maior ataque do Al-Shabaab no país desde que o Mohamud reassumiu o poder.

Militarmente, a luta contra o Al-Shabaab conta também com o suporte dos EUA, que recentemente anunciaram o envio de cerca de 500 soldados à Somália. O governo norte-americano havia decidido retirar suas tropas do país durante o governo do presidente Donald Trump, mas Joe Biden reativou a missão.

E o reforço já surtiu resultado. Um ataque realizado pela força aérea norte-americana no dia 14 de agosto matou 13 terroristas ligados ao Al-Shabaab na região de Hiiraan, a norte de Mogadíscio.

Hassan Sheikh Mohamud, presidente da Somália (Foto: Flickr)
Por que isso importa?

O Al-Shabaab chegou a controlar a capital Mogadíscio, até 2011, quando foi expulso de lá pelas forças da União Africana. Atualmente, controla territórios nas áreas rurais da Somália e luta para derrubar o governo nacional, tendo inclusive se expandido para a vizinha Etiópia.

O grupo concentra seus ataques no sul e no centro da Somália. As atividades envolvem ataques a órgãos e oficiais do governo e a entidades de ajuda humanitária, além de extorsão contra a população local e proteção de terroristas internacionais que se escondem no país.

Um relatório do International Crisis Group (Grupo de Crise Internacional, em tradução literal), cuja meta é prevenir guerras em todo o mundo, diz que derrotar o Al-Shabaab é uma tarefa complexa devido à quantidade de seguidores em território somali, algo na casa dos cinco mil. Assim, a melhor estratégia para o governo somali seria a negociação

“Combinada com a disfunção e a divisão entre seus adversários, a agilidade dos militantes permitiu que se inserissem na sociedade somali”, diz o documento. “Há um crescente consenso nacional e internacional de que o Al-Shabaab não pode ser derrotado apenas por meios militares”.

O relatório, porém, afirma que a diplomacia não vem sendo considerada pelo governo. “Há pouco apetite entre as elites somalis ou os parceiros internacionais do país para explorar alternativas, principalmente conversas com líderes militantes”. E acrescenta: “A alternativa é mais luta sem um fim à vista”.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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