Beijing prometeu adotar “medidas contundentes” caso o Canadá interfira na relação entre China e Taiwan. A ameaça, que já se tornou habitual em situações do gênero, ocorre em meio aos planos de um grupo de parlamentares canadenses de fazer uma visita à ilha. As informações são do jornal britânico Guardian.
“Pedimos ao lado canadense que cumpra o princípio ‘Uma só China’ e respeite a soberania e a integridade territorial da China”, disse a embaixada chinesa no Canadá em comunicado enviado na terça-feira (23). “A China tomará medidas resolutas e contundentes contra qualquer país que tente interferir ou infringir a soberania e a integridade territorial da China”.
A viagem tem sido debatida por um grupo de parlamentares que não recebe apoio administrativo ou financeiro do governo canadense. Seria, portanto, uma viagem autônoma, de acordo com a parlamentar liberal Judy Sgro, que faz parte da equipe.
Diplomaticamente, ela afirmou que o objetivo da viagem não seria causar turbulência na relação entre China e Canadá nem gerar problemas para Taiwan. O objetivo seria debater a relação comercial entre as duas partes. Ottawa confirmou que o grupo não está subordinado ao governo, mas disse que respeita as intenções dos parlamentares.
A relação entre Ottawa e Beijing não é boa desde que explodiram os casos de Michael Spavor e Michael Kovrig, cidadãos canadenses detidos na China logo após a prisão no Canadá de Meng Wanzhou, uma executiva da Huawei acusada pelos EUA de espionagem industrial.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita à ilha de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unido, primeiro ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos. A atitude mexeu com os brio de Beijing, que então realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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