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quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Após incidentes, Taiwan ameaça derrubar drones chineses que invadirem o espaço aéreo da ilha

O governo de Taiwan endureceu o tom contra Beijing e autorizou seus soldados a derrubar drones chineses que eventualmente sejam avistados sobrevoando o espaço aéreo da ilha. O anúncio foi feito na terça-feira (30) pelo Ministério da Defesa, e um episódio nesse sentido já foi reportado no mesmo dia.

Chang Jung-shun, porta-voz do Comando de Defesa da ilha de Kinmen, que pertence a Taiwan e fica a menos de seis quilômetros de Xiamen, na China, disse que tiros de advertência foram disparados quando um drone chinês surgiu na ilha de Erdan na terça, e o aparelho retornou à China depois dos disparos, segundo o jornal britânico Guardian.

A ameaça de Taipé surge duas semanas após um episódio classificado pelo governo como “humilhante”, ocorrido no dia 16 de agosto. Na ocasião, dois soldados taiwaneses foram registrados em vídeo atirando pedras contra um drone civil chinês que teria invadido o espaço aéreo de Kinmen.

Nas últimas semanas, Taipé alega ter registrado mais de um caso de drones civis sobrevoando Kinmen, uma das ilhas de Taiwan mais distantes do resto de seu território e mais próximas dos domínios de Beijing. Um deles teria realizado um voo baixo, a menos de 30 metros do solo, segundo o Comando de Defesa.

Drone com câmera: Taiwan não permitirá o equipamento em seu espaço aéreo (Foto: stockvault.net)

Na semana passada, o governo havia prometido instalar um novo sistema de defesa contra drones, a ser colocado em uso no ano que vem. Até então, a determinação do Ministério da Defesa era para que os militares continuassem “seguindo o princípio de ‘não provocar conflitos e não causar disputas’, usando equipamentos tecnológicos para tomar as contramedidas apropriadas”, segundo o site Radio Free Asia.

Entretanto, a medida não foi bem recebida pela opinião pública, que a considerou muito leve. Então, uma nova ordem foi emitida no domingo (28), com instruções para “disparar sinalizadores de alerta, relatar a incursão, expulsar o drone e, finalmente, derrubá-lo”.

“Independentemente de o drone ser civil ou militar, desde que entre no espaço aéreo sensível, o exército deve primeiro tentar afastá-lo”, disse Qi Leyi, analista militar sediado em Taipé. “Se isso não surtir efeito, o drone deve ser abatido”.

Questionado sobre o problema, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian foi lacônico, reforçando a ideia de que Taiwan faz parte da China. “Drones chineses sobrevoando o território da China. O que há para se surpreender?” disse ele, confirmando ter visto o vídeo dos militares atirando pedras no equipamento.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita à ilha de Nancy Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unido, primeiro ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos. A atitude mexeu com os brio de Beijing, que então realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serviu como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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