Três ativistas do grupo russo de protesto russo Pussy Riot foram presas pela polícia suíça na segunda-feira (29) após serem flagradas tentando fazer pichações antiguerra em Berna. As informações são da rede Radio Free Europe.
Segundo Aleksandr Cheparukhin, empresário do grupo que atualmente está em turnê pela Europa para realizar shows de protesto contra o conflito na Ucrânia, Maria Alekhina, Lyusya Shtein e Taso Pletner foram algemadas e levadas sob custódia.
No momento em que foram presas, um policial disse que as ativistas corriam o risco de deportação, mas elas acabaram sendo liberadas algumas horas depois.
Maria, que é líder da banda russa que se tornou símbolo de protesto contra o governo de seu país, teria fugido da Rússia disfarçada de entregadora de comida em maio deste ano, após ser presa diversas vezes por disparar críticas contra o presidente Vladimir Putin. Também em protesto, ela chegou a cortar a tornozeleira eletrônica que era obrigada a usar.
Em agosto do ano passado, Alekhina e Shtein haviam recebido liberdade condicional após serem detidas por convocar pessoas a participar de comícios não sancionados para apoiar o político de oposição preso Alexei Navalny.
Na semana passada, a Embaixada da Rússia na Suíça publicou um comunicado dizendo que a militância anti-Kremlin do Pussy Riot é ilegal tanto em território suíço quanto russo.
Na ativa
Há cerca de uma década, as integrantes da banda Pussy Riot eram o principal expoente da luta contra a repressão na Rússia. O ápice da perseguição contra o grupo de punk rock ocorreu em agosto de 2012, quando três membros foram presas e enviadas a uma colônia penal na Sibéria. De lá para cá, outros opositores foram detidos por Moscou, alguns fugiram do país e o Pussy Riot deixou de ser a principal voz contra o presidente Vladimir Putin.
O Pussy Riot segue na ativa, não apenas na Rússia, mas também em outros países, defendendo causas feministas e democráticas.
Por que isso importa?
Na Rússia, protestar contra o governo já não era uma tarefa fácil antes da eclosão da guerra na Ucrânia. Os protestos coletivos desapareceram das ruas da Rússia desde que o governo passou a usar a pandemia de Covid-19 como argumento para punir grandes manifestações, sob a alegação de que o acúmulo de pessoas fere as normas sanitárias. Assim, tornou-se comum ver pessoas solitárias erguendo cartazes com frases contra o governo.
Desde a invasão do país vizinho por tropas russas, no dia 24 de fevereiro, o desafio dos opositores do presidente Vladimir Putin aumentou consideravelmente, com novos mecanismos legais à disposição do Estado e o aumento da violência policial para silenciar os críticos. Uma lei do início de março, com foco na guerra, pune quem “desacredita o uso das forças armadas”.
Dentro dessa severa nova legislação, os detidos têm que pagar multas que chegam a 300 mil rublos (R$ 16,9 mil). A pena mais rigorosa é aplicada por divulgar “informações sabidamente falsas” sobre o exército e a “operação militar especial” na Ucrânia, que é como o governo descreve a guerra. A reclusão pode chegar a 15 anos.
Apesar dos riscos, muitos russos enfrentam a repressão e a possibilidade de serem presos e protestam de diversas maneiras para deixar clara sua oposição ao conflito.
Em Moscou, no dia 15 de março, ignorando todos esses riscos, uma mulher escolheu como ponto de protesto a Catedral do Cristo Salvador. Em um cartaz, reproduziu o sexto mandamento segundo a Igreja Ortodoxa: “Não matarás”. Outra mulher desafiou a censura e se posicionou em uma esquina próxima do Kremlin com um cartaz que dizia “Não à guerra”. Ambas foram retiradas por policiais e colocadas em um camburão menos de dez minutos depois de exibirem os cartazes.
Yevgenia Isayeva, uma artista e ativista da cidade russa de São Petesburgo, optou por um protesto mais gráfico no dia 27 de março. Com um vestido branco, ela se posicionou em frente à prefeitura da cidade e, então, despejou tinta vermelha sobre a roupa, enquanto dizia repetidamente: “Meu coração sangra, meu coração sangra…”. Também teve poucos minutos para se manifestar antes de ser retirada à força.
Há, ainda, os manifestantes que querem deixar sua mensagens sem expor a própria imagem. Casos dos grafiteiros que têm feito surgir nos muros de cidades russas mensagens antiguerra. Também em 27 de março, dois homens foram presos na cidade de Tula, no sul do país, acusados de grafitar mensagens como “Derrubem Putin” e “Parem Putin”.
A jornalista russa Marina Ovsyannikova, por sua vez, ficou conhecida mundialmente por interromper um noticiário na TV estatal russa Canal 1 (Piervy Kanal) para protestar contra a invasão da Ucrânia. No dia 14 de março, ela se postou repentinamente atrás da apresentadora de um telejornal com um cartaz escrito em russo e inglês que dizia “Não à guerra, não acredite na propaganda. Eles estão mentindo para você”. Ela ficou no ar durante vários segundos até que o canal a tirasse de cena.
No dia seguinte ao protesto, a Justiça russa condenou a jornalista a pagar também uma multa de 30 mil rublos (cerca de R$ 1,69 mil), justificando de se tratar de uma “tentativa de organizar um protesto não autorizado”. Ovsyannikova diz que pediu demissão e que não pretende sair do país, alegando ter recusado uma oferta de asilo da França. Em abril, ela foi contratada como correspondente freelancer do jornal alemão Die Welt.
Coletivamente, um jeito diferente de protestar tem sido através de mensagens escritas em cédulas e moedas de rublos. O fenômeno passou a ser compartilhado em plataformas como Twitter, Telegram e Reddit. As mensagens são normalmente escritas à mão, sendo as frases mais comuns “não à guerra” e “russos contra a guerra”.
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