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sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Navio da guarda costeira dos EUA não recebe autorização para atracar nas Ilhas Salomão

Uma embarcação da guarda costeira dos EUA não conseguiu atracar nas Ilhas Salomão porque o governo local não respondeu a um pedido de reabastecimento de combustível e provisões. As informações são da agência Reuters.

O USCGC Oliver Henry realizava uma operação de combate à pesca ilegal quando fez o pedido para atracar em Honiara, algo que teria sido acertado previamente. Diante da falta de resposta, rumou para Papua Nova Guiné, onde foi autorizado a parar.

“O governo das Ilhas Salomão não respondeu ao pedido do governo dos EUA de autorização diplomática para o navio reabastecer em Honiara”, disse Kristin Kam, oficial de relações públicas da guarda costeira dos EUA no Havaí. “O Departamento de Estado dos EUA está em contato com o governo das Ilhas Salomão e espera que todas as autorizações futuras sejam fornecidas aos navios dos EUA”.

Informações sugerem que o mesmo teria ocorrido com uma embarcação britânica de patrulha, o HMS Spey, que igualmente participava da operação. O governo do Reino Unido, porém, se recusou a comentar o assunto. “Por razões de segurança operacional, não discutimos detalhes”, disse um porta-voz da marinha britânica.

A operação de combate à pesca ilegal é coordenada pela agência pesqueira do Fórum das Ilhas do Pacífico, um bloco de 17 nações da região. Austrália, EUA Nova Zelândia e França habitualmente colaboram, enviando embarcações para patrulhar as zonas de exclusão econômica (ZEEs) de Fiji, Papua Nova Guiné, Ilhas Salomão e Vanuatu.

Embarcação USCGC Oliver Henry da guarda costeira dos EUA (Foto: npfc.int/reprodução)
Disputa por influência

O episódio ocorre em meio à disputa por influência entre a China e o Ocidente na pequena nação insular. No final de março, vazou uma carta de intenções indicando que Beijing planejava estabelecer uma base militar nas Ilhas Salomão, o que fez soar o alarme na vizinha Austrália e em seus aliados no Indo-Pacífico.

No documento, uma empresa chinesa de engenharia “demonstra intenção de estudar a oportunidade de desenvolver projetos navais e de infraestrutura em terrenos arrendados para a Marinha do Exército de Libertação Popular, para a Província de Isobel, com direitos exclusivos por 75 anos”.

Na mesma época em que a carta veio a público, o premiê das Ilhas Salomão, Manasseh Sogavare, confirmou que estava prestes a assinar um acordo de segurança com a China. Na ocasião, ele definiu como “insultantes” as preocupações australianas e neozelandesas de que o pacto poderia causar instabilidade na segurança da região.

Pouco depois do anúncio, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Wang Wenbin, afirmou que o acordo já havia sido assinado, de acordo com o jornal britânico Guardian. Ele não especificou quando e onde ocorreu a assinatura, que também foi confirmada pela embaixada chinesa em Honiara.

Por que isso importa?

As Ilhas Salomão vivem um período de intensa agitação social, que especialistas associam a questões étnicas e históricas, à corrupção estatal e ao movimento do governo para estreitar laços com a China. Há três anos, o governo local trocou a aliança diplomática com Taiwan por uma com Beijing.

Para James Batley, um ex-alto comissário australiano para as Ilhas Salomão e especialista em assuntos sobre Ásia-Pacífico da Universidade Nacional Australiana, o desagrado da população em relação à aproximação com a China serviu como gatilho para a desordem popular que explodiu em novembro de 2021.

“Não é política externa em si, mas acho que essa mudança diplomática alimentou as queixas pré-existentes e, em particular, a sensação de que os chineses interferiram na política nas Ilhas Salomão, que o dinheiro chinês de alguma forma fomentou a corrupção, distorceu a forma como a política funciona nas Ilhas Salomão”, disse Batley.

A relação comercial com a China é considerada particularmente predatória pela população local. Mais da metade de todos os frutos do mar, madeira e minerais extraídos do Pacífico em 2019 foi para a China. A estimativa é de que esse processo tenha movimentado US$ 3,3 bilhões, apontou uma análise de dados comerciais do jornal britânico The Guardian.

Para alimentar e gerenciar a população de quase 1,4 bilhão de habitantes, a China tirou do Pacífico mais recursos do que os dez países da região juntos. Nas Ilhas Salomão e em Papua Nova Guiné, por exemplo, mais de 90% do total de madeira exportada foi para os chineses.

Os dados não levam em consideração as exportações ilícitas. Nas Ilhas Salomão, pelo menos 70% das toras são exportadas de madeira ilegal. A falta de leis na China contra esse tipo de importação absorvem o envio devido à alta demanda e proximidade com a região.

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