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terça-feira, 9 de agosto de 2022

Ataques hackers e campanhas de desinformação são parte da estratégia da China contra Taiwan

A visita a Taiwan feita na semana passada por Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, levou a China a realizar um grande exercício militar no entorno da ilha, com direito ao disparo de mísseis que caíram no mar do Japão. Entretanto, segundo o Ministério da Defesa Nacional taiwanês, uma estratégia paralela foi usada por Beijing contra o território semiautônomo: ataques cibernéticos. As informações são da rede Radio Free Asia.

Na segunda-feira (8), o major-general Chen Yu-lin, vice-diretor do Departamento Político e de Guerra do Ministério, afirmou que diversas “operações cognitivas” foram registradas antes mesmo do início dos exercícios militares. Ele destacou uma campanha de desinformação chinesa com o objetivo de prejudicar a imagem do governo de Taiwan e perturbar o moral civil e militar taiwanês.

“Os exercícios militares do PCC (Partido Comunista Chinês) começaram em 4 de agosto, quando o número de posts relacionados à guerra cognitiva visando Taiwan disparou para 73, chegando a 87 em 5 de agosto”, afirmou Chen. “Nós imediatamente emitimos um comunicado à imprensa para informar ao público que essas mensagens não eram verdadeiras”.

Segundo ele, um caso que se enquadra na campanha de desinformação chinesa foi a notícia de que um caça taiwanês que fazia a escolta do avião de Pelosi havia sido abatido pelas forças armadas de Beijing. “Nós imediatamente esclarecemos que se tratava de uma notícia falsa”, disse Chen Yu-lin.

Ações cibernéticas maliciosas da China contra Taiwan estão em alta (Foto: Clint Patterson/Unplash)

Segundo Chen Hui-min, editor-chefe do Taiwan FactCheck Center, que combate a desinformação digital, eventos assim sempre existiram, mas aumentaram bastante nos últimos dias. “A maior diferença é que [agora] parece estar se espalhando do Twitter em inglês”, disse ele. “Costumava ser muito raro ver essas postagens na Twittersfera inglesa”.

De acordo com o analista, a campanha de desinformação também partiu do Weibo, plataforma de mídia social chinesa, e de lá atingiu redes bastante usadas pelos taiwaneses, como o Facebook. “Contas que antes se concentravam na guerra na Ucrânia de repente começaram a espalhar notícias falsas sobre a visita de Pelosi a Taiwan”, declarou Chen Hui-min.

Sistemas hackeados

Além da desinformação, foram registrados episódios de ataques hackers contra sistemas de entidades importantes de Taiwan, como a Universidade Nacional e o Museu do Palácio Nacional. Até grandes redes privadas de comércio, como as lojas de conveniência 7-Eleven, foram invadidas, com mensagens contrárias a Pelosi e a Taiwan exibidas em seus equipamentos de sinalização digital.

Em uma estação ferroviária na cidade portuária de Kaohsiung, no sul de Taiwan, o sistema foi hackeado, e os monitores que informam o público passaram a exibir uma mensagem chamando Pelosi de “bruxa velha”. O mesmo ocorreu em um escritório do governo no condado de Natou.

Uma ação de hackers não identificados chegou a tirar do ar o site oficial do Gabinete da Presidente da ilha, Tsai Ing-wen. O sistema foi restabelecido depois de 20 minutos, e não foi possível identificar o IP dos agressores cibernéticos, impedindo assim que a origem dos ataques fosse determinada.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.

O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.

Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.

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