Uma “escalada significativa”. Foi o que disse nesta sexta-feira (5) sobre a questão China–Taiwan o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, enquanto acompanha um dos maiores exercícios militares do exército chinês já feitos ao redor da ilha. As informações são da agência Associated Press (AP).
A ação belicista, que deve seguir até domingo (7), isolou o espaço aéreo e as águas territoriais da região semiautônoma. O comportamento, definido por Blinken como “agressivo”, começou após a visita de Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, e teve como momento mais tenso até aqui o disparo de cinco mísseis balísticos que atingiram o mar do Japão.
O chefe da diplomacia norte-americana afirmou que a viagem foi pacífica e não altera as relações entre Washington e Taipé. Ele pediu a Beijing que recue, dizendo que a visita de Pelosi tem sido usada como “pretexto para aumentar a provocativa atividade militar dentro e ao redor do Estreito de Taiwan”.
Blinken se manifestou durante coletiva de imprensa após reunião ministerial entre a ASEAN (Associação das Nações do Sudeste Asiático, da sigla em inglês) e os EUA, realizada no Camboja.
Ele acrescentou que diversos países ao redor do mundo não enxergam benefícios na movimentação militar chinesa, que poderá “ter consequências não intencionais que não servem aos interesses de ninguém, incluindo os membros da ASEAN”, nem da própria China.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, esteve presente no evento na capital Phnom Penh. Porém, o secretário de Estado dos EUA não conversou diretamente com ele, o que alega ter feito antes da ida de Nancy a Taiwan.
Cordialidade Beijing-Moscou
Se dessa vez não houve proximidade física entre os representantes de Washington e Beijing – Blinken nem olhou para Wang, segundo repórteres –, o mesmo não dá para dizer sobre a cordialidade entre China e Rússia. Um momento que chamou a atenção na cúpula foi quando Wang deu um tapinha no ombro do ministro das Relações Exteriores russo Sergey Lavrov. Depois, ao entrar na sala, acenou rapidamente para o homólogo, que, já sentado, devolveu o gesto.
Lavrov também comentou a resposta chinesa à visita de Nancy à ilha. Para ele, há muitas “declarações inflamadas” sobre o comportamento dos aliados.
“Houve declarações bastante afiadas de nossos parceiros chineses, que nós apoiamos”, disse ele aos repórteres. “E tem havido respostas dos EUA e do Japão de que isso não é assunto da China e que, mesmo que declarem apoio ao princípio de ‘Uma só China’, não acham que devam pedir permissão a Beijing para visitar Taiwan. Certamente, é uma lógica estranha”, acrescentou.
Lavrov e Wang saíram da sala no momento em que o ministro das Relações Exteriores do Japão, Hayashi Yoshimasa, iniciou sua fala na reunião. A informação foi dada por um diplomata que falou sob condição de anonimato.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal fornecedor de armas do território. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.
A China, em resposta, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.
A crise ganhou contornos ainda mais dramáticos após a visita de Pelosi, primeiro membro da Câmara a viajar para Taiwan em 25 anos, uma atitude que mexeu com os brio de Beijing. Em resposta, o exército da China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha, com tiros reais e testes de mísseis em seis áreas diferentes.
O treinamento serve como um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Assim, voos comerciais tiveram que ser cancelados, e embarcações foram impedidas de navegar por conta da presença militar chinesa.
Beijing, que falou em impor “sérias consequências” como retaliação à visita, também sancionou Taiwan com a proibição das exportações de areia, material usado na indústria de semicondutores e crucial na fabricação de chips, e a importação de alimentos, entre eles peixes e frutas. Quatro empresas taiwanesas rotuladas por Beijing como “obstinadas pró-independência” também foram sancionadas.
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