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sexta-feira, 8 de julho de 2022

Governo da Índia apreende US$ 60 milhões e congela contas de empresa chinesa

A fabricante chinesa de celulares Vivo (nenhuma relação com a operadora de telefonia brasileira) teve cerca de US$ 60 milhões apreendidos de suas contas bancárias pelo governo da Índia. A iniciativa é parte de uma investigação de crimes fiscais semelhante à que havia atingido anteriormente a Xiaomi. As informações são do site Total Telecom.

As autoridades fiscais indianas acusam a companhia de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. A Vivo é suspeita de participar de um processo de envio de verbas para a China a fim de esconder seus lucros e, assim, evitar o pagamento de impostos na Índia. Além do dinheiro apreendido, 199 contas bancárias da empresa foram congeladas.

Documentos organizados por auditores e enviados ao Ministério de Assuntos Corporativos da Índia detalham que uma investigação foi solicitada em abril deste ano, em busca de possíveis irregularidades na empresa e em seus relatórios financeiros. A suspeita é de que quase metade dos US$ 15,82 bilhões em receitas indianas da empresa foram enviados de volta à China.

Sede da fabricantes de celular chinesa Vivo em Nanjing, China (Foto: Wikimedia Commons)

No começo de maio deste ano, o governo indiano havia apreendido cerca de US$ 725 milhões em ativos da Xiaomi, outra fabricante chinesa de celulares. Uma investigação apontava que a empresa igualmente teria transferido dinheiro para fora do país ilegalmente.

cruzada do governo indiano contra empresas chinesas não se resume a investigações fiscais. Nos últimos anos, o governo indiano proibiu 321 aplicativos chineses por questões de privacidade, segurança e espionagem. Os apps, que são clones de outros previamente removidos, têm brechas que permitem a coleta de dados confidenciais de usuários, secretamente transmitidos para a China.

Em outro episódio da rivalidade comercial, a Huawei ficou fora da lista de potenciais fornecedores de tecnologia para a rede 5G do país. A ZTE também já havia sido excluída. A perda no caso é considerável, vez que o mercado indiano é o segundo maior do mundo em número de usuários de telefonia móvel.

O que ajuda a explicar a tensão é a dependência econômica da China em relação à Índia, uma situação que Nova Délhi vem tentando mudar. No específico dos celulares, três quatros do mercado indiano são controlados por empresas da China, sendo que a Vivo responde por 15% e a Xiaomi, por 24%. A Samsung, da Coreia do Sul, tem 18%, de acordo com dados da consultoria Counterpoint Research.

Por que isso importa?

Desde abril de 2020, Índia e China travam uma disputa territorial que comprometeu também as relações comerciais. Há pouco mais de dois anos, soldados das duas nações se envolveram em combates em vários pontos da área montanhosa que divide os dois países, com acusações mútuas desrespeito à Linha de Controle Real (LAC, na sigla em inglês), a fronteira de fato entre as nações.

Os vizinhos compartilham uma fronteira não delimitada oficialmente de 3,5 mil quilômetros através do Himalaia e mantêm um acordo de paz instável desde o fim da guerra sino-indiana, em novembro de 1962.

Em 15 de junho de 2020, a paz na fronteira foi quebrada após novos confrontos entre soldados indianos e chineses no vale de Galwan, na região de Ladakh, na Índia. Na ocasião, 20 soldados indianos e quatro chineses morreram em combates corporais entre as tropas das duas nações. O confronto envolveu basicamente paus e pedras, sem nenhum tiro ter sido disparado.

Desde então, milhares de soldados estão posicionados dos dois lados da fronteira, e obras com fins militares tornaram-se habituais na região. As nações reivindicam vastas áreas do território alheio no Himalaia, problema que vem desde a demarcação de áreas pelos governantes coloniais britânicos.

Beijing e Nova Délhi mantiveram 14 rodadas de negociações desde os confrontos de junho de 2020. As conversas levaram à retirada de tropas em vários pontos ao longo da ALC, mas não de todos. E não foi possível chegar a nenhum acordo sobre a fronteira. Para especialistas, qualquer deslize de um dos lados pode levar a uma guerra entre as nações.

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