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sábado, 2 de julho de 2022

Financiamento coletivo e até nudez ajudam a bancar as tropas da Ucrânia contra a Rússia

A mobilização popular tem sido fundamental para a Ucrânia resistir à agressão da Rússia na guerra que se desenvolve desde o dia 24 de fevereiro. Isso inclui não só os civis que se dispuseram a pegar em armas para combater o invasor. Há também uma grande rede de apoio financeiro e logístico fundamental para equipar as tropas ucranianas, viabilizando a compra e a entrega de armas e outros equipamentos. As informações são da agência Associated Press.

O financiamento popular surgiu ainda nos primeiros dias de conflito, com linhas telefônicas usadas para as doações e que rapidamente ficaram sobrecarregadas. Hoje, o sistema é mais moderno e eficiente, feito todo online e baseado no financiamento coletivo. Voluntários aplicaram os conhecimentos de suas áreas de atuação profissional para estabelecer uma complexa rede de compra e logística que leva aos soldados itens como veículos, drones, miras térmicas, pilhas e geradores de energia.

Para organizar o processo, que inclui financiamento, compra e entrega, o político ucraniano Serhiy Prytula criou uma fundação em seu nome. Na semana passada, ela realizou uma campanha digital envolvendo celebridades do país com o objetivo de comprar três drones turcos Bayraktar, principal arma das forças de Kiev para resistir ao inimigo.

Prytula usou seu Twitter para fazer a convocação. “Nos unimos para comprar 3 Bayraktars para as UAF (forças armadas ucranianas, da sigla em inglês)! A Serhiy Prytula Charity Foundation começou a arrecadar dinheiro para 3 Bayraktars para ajudar as Forças Aéreas Ucranianas. $ 15 milhões! É a maior campanha de arrecadação de fundos para a Ucrânia de todos os tempos, mas acreditamos que podemos fazer isso juntos!”.

Ao final do processo de arrecadação, a meta foi superada. Com US$ 20 milhões obtidos através do financiamento coletivo, foi possível compra quatro drones, um a mais que o planejado.

A fundação recebe do exército, através de formulários online, listas com as principais necessidades. Os pedidos incluem desde equipamentos menores, como periscópios que permitem observar o movimento inimigo da trincheira, até itens caros e grandes, como vans e picapes.

Semanalmente, saem da fundação, em Kiev, veículos usados comprados em diversos países da Europa, carregados com o material solicitado pelos militares. Até agora, a entidade diz que já arrecadou mais de US$ 34 milhões, através de doações que partem de alguns centavos e já atingiram o recorde de US$ 1,3 milhão, que um empresário anônimo doou em criptomoedas.

“Os ucranianos são uma nação de voluntários e podemos fazer coisas inimagináveis ​​juntos”, disse Maria Pysarenko, que trabalha na Prytula. “Trata-se não apenas de angariar fundos, mas também de construir a comunidade e mostrar que, ‘Sim, nós podemos’”.

Nudez como prêmio

Na rede de colaboração popular, há até homens e mulheres que fornecem fotos sensuais usadas para presentear doadores. Para isso, foi criado site o Teronlyfans, que lista como sua meta “incentivar doações para as necessidades da Ucrânia e, assim, aproximar nossa vitória“.

“Garantimos que as fotos não sejam pornográficas. Isso é lindo, erótico e estético”, disse Nastya Kuchmenko, uma das cofundadoras do site. “Não se trata de objetificar o corpo, é sobre a liberdade de usar seu corpo como quiser. As pessoas querem ser úteis”.

Operação do exército ucraniano no leste do país (Foto: WikiCommons)
A versão russa

Moscou também conta com apoio popular para sustentar sua máquina de guerra, embora em escala bem menor e com menos organização. O mecanismo opera através da Frente Popular Unida, uma campanha criada pelo Kremlin para centralizar a ajuda civil.

“Os caras na linha de frente que estão morrendo pelo direito de serem russos, que estão lutando por nossa liberdade comum, apreciarão muito qualquer ajuda que você possa oferecer”, disse Mikhail Kuznetsov, executivo da campanha. “Eles vencerão de qualquer forma, mas vencerão mais rápido e com baixas menores se os ajudarmos”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho, no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano. Aquele conflito foi usado por Vladimir Putin como argumento para justificar a invasão integral, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país.

No início da ofensiva, o objetivo das forças russas era dominar Kiev, alvo de constantes bombardeios. Entretanto, diante da inesperada resistência ucraniana, a Rússia foi forçada a mudar sua estratégia. As tropas, então, começaram a se afastar de Kiev e a se concentrar mais no leste ucraniano, a fim de tentar assumir definitivamente o controle de Donbass e de outros locais estratégicos naquela região.

Em meio ao conflito, o governo da Ucrânia e as nações ocidentais passaram a acusar Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, dando início a investigações de crimes de guerra ou contra a humanidade cometidos pelos soldados do Kremlin.

O episódio que mais pesou para as acusações foi o massacre de Bucha, cidade ucraniana em cujas ruas foram encontrados dezenas de corpos após a retirada do exército russo. As imagens dos mortos foram divulgadas pela primeira vez no dia 2 de abril, por agências de notícias, e chocaram o mundo.

O jornal The New York Times realizou uma investigação com base em imagens de satélite e associou as mortes em Bucha a tropas russas. As fotos mostram objetos de tamanho compatível com um corpo humano na rua Yablonska, entre 9 e 11 de março. Eles estão exatamente nas mesmas posições em que foram descobertos os corpos quando da chegada das tropas ucranianas, conforme vídeo feito por um residente da cidade em 1º de abril.

Fora do campo de batalha, a Rússia tem sido alvo de todo tipo de sanções. As esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais já começaram a sufocar a economia russa, e o país tem se tornado um pária global. Desde a invasão da Ucrânia, em 24 de fevereiro, quase mil empresas ocidentais deixaram de operar na Rússia, seja de maneira temporária ou definitiva, parcial ou integral.

Os mortos de Putin

Desde que assumiu o poder na Rússia, em 1999, o presidente Vladimir Putin esteve envolvido, direta ou indiretamente, ou é forte suspeito de ter relação com inúmeros eventos, que levaram a dezenas de milhares de mortes. A lista de vítimas do líder russo tem soldados, civis, dissidentes e até crianças. E vai aumentar bastante com a guerra que ele provocou na Ucrânia.

Na conta dos mortos de Putin entram a guerra devastadora na região do Cáucaso, ações fatais de suas forças especiais que resultaram em baixas civis até dentro do território russo, a queda suspeita de um avião comercial e, em 2022, a invasão à Ucrânia que colocou o mundo em alerta.

A Referência organizou alguns dos principais incidentes associados ao líder russo. Relembre os casos.

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