A justiça ucraniana realizou nesta quinta-feira (23) uma audiência preliminar com vistas ao primeiro julgamento de um soldado russo acusado de estuprar uma mulher ucraniana durante a guerra no Leste Europeu. Há dezenas de outros casos de violência sexual cometidos durante o conflito que também deverão ser levados ao tribunal. As informações são da rede U.S. News.
O acusado é Mikhail Romanov, 32 anos, indiciado por assassinar um homem na região de Kiev no dia 9 de março e depois estuprar sua esposa na frente de seu filho. Como ele não está sob custódia ucraniana e seu paradeiro é desconhecido, será julgado à revelia. O soldado pode ainda estar em combate no país invadido, de licença na Rússia ou até mesmo morto.
Promotores ucranianos sustentam que antes de abusar da mulher de 33 anos, Romanov e outro soldado mataram a tiros seu marido, identificado como Oleksiy. O crime ocorreu à queima-roupa na aldeia de Bohdanivka, localizada a nordeste da capital.
Após a violência sexual, os militares ainda teriam voltado duas vezes para estuprá-la novamente. A identidade do segundo soldado envolvido não foi apurada. Acredita-se que Romanov tenha servido no 239º regimento da 90ª Divisão de Tanques de Guardas na época.
A vítima pediu que o julgamento ocorresse a portas fechadas, de modo a proteger ela e sua família, disse a promotora Oksana Kalyus em coletiva após a audiência preliminar em um tribunal de Kiev.
Segundo o jornal britânico The Telegraph, a mulher relatou que gritou para seu filho de quatro anos para que ficasse escondido antes de ser estuprada por várias horas.
“[O soldado mais jovem] me disse para tirar a roupa. Então os dois me estupraram, um após o outro”, detalhou a vítima ao jornal. “Eles não se importaram que meu filho estivesse chorando escondido”.
Kalyus disse que as autoridades ucranianas acreditam que o agressor esteja na Rússia. “Embora ele não possa ser preso lá, pode ser preso em outro país se for considerado culpado. Se ele cruzar a fronteira, será preso e entregue à Ucrânia”, disse ela.
Medo de denunciar
De acordo com promotor que trabalha em casos de violência sexual, pelo menos 50 desses crimes cometidos pelas tropas russas estão sob investigação. Estima-se que o número real seja bem mais elevado.
Autoridades, ativistas e médicos disseram que muitos sobreviventes têm medo ou não querem apresentar seus casos à polícia e aos promotores, por medo de represálias da Rússia.
No começo do mês, a procuradora-geral da Ucrânia, Iryna Venediktova, afirmou em Haia, na Holanda, que seu país já havia identificado mais de 600 suspeitos de terem cometido crimes de guerra durante o conflito iniciado com a invasão das tropas da Rússia, no dia 24 de fevereiro. Há um esforço que envolve seis países para documentar os abusos e levá-los ao Tribunal Penal Internacional (TPI), que já deu início a uma investigação internacional.
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