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quarta-feira, 8 de junho de 2022

Reino Unido ameaça banir empresas da China que ajudam a vigiar os britânicos

No Reino Unido, assim como na China, as câmeras de vigilância são onipresentes. Seja em escolas, centros comunitários ou nas estações de metrô, os equipamentos são usados sob o argumento de coibir a ação de criminosos e de ajudar autoridades a prevenir de simples furtos a atos de terrorismo. Agora, o país quer banir duas empresas chinesas que atuam no setor e são acusadas de violar os direitos humanos. As informações são do jornal Eurasian Times.

A Hangzhou Hikvision Digital Technology e a Zhejiang Dahua Technology, duas grandes empresas do setor de tecnologia na China, entraram na mira dos britânicos por conta da vigilância estatal estabelecida para o controle da população uigur, minoria que habita a região autônoma de Xinjiang. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa dessa comunidade.

“Não devemos usar empresas que são cúmplices do genocídio. Isso não deveria ser permitido”, disse a parlamentar conservadora Alicia Kearns, copresidente do China Research Group.

Câmeras de vigilância: a China está de olho no mundo todo (Foto: Matthew Henry/Unsplash)

A Hikvision e a Dahua, duas das maiores desenvolvedoras mundiais de câmeras de protocolo de internet, vêm expandindo sua presença no Reino Unido. E não é à toa: Londres é uma das cidades mais vigiadas do mundo, com 73 câmeras de circuito fechado de televisão (CCTV) a cada mil pessoas. Com as denúncias de violações direitos humanos e suspeita de vigilância estatal, elas agora podem ser sancionadas.

“Estamos permitindo que a China construa um Estado totalitário tecnológico e eles vão construí-lo com base em dados do povo da Grã-Bretanha e de outros países. Estamos enviando os dados faciais de nossos filhos e pessoas em todo o Reino Unido de volta à China e ao PCC (Partido Comunista Chinês)”, acrescentou Alicia.

Segundo o jornal South China Morning Post, embora sejam empresas privadas, Hikvision e Dahua têm grandes acionistas vinculados ao PCC.

Os Estados Unidos também cogitam impor sanções sem precedentes a essas empresas, o que implicaria em consequências para o superlativo número de clientes que usam seus equipamentos ao redor do mundo, informou a agência catari Al Jazeera. Seria a primeira vez que marcas desse porte, presentes em mais de 180 países, entrariam para a Lista de Nacionais Especialmente Designados e Pessoas Sancionadas (SDN, da sigla em inglês), geralmente reservado para traficantes e líderes de grupos violentos. 

A Hikvision é conhecida por ser controlada pela China Electronics Technology Group, um dos maiores conglomerados industriais militares da nação asiática. A marca já entrou em conflito com os reguladores dos EUA antes e figura em várias listas que a bloqueiam de grande parte da economia americana. A fabricante chinesa já havia sido impedida de vender tecnologia nos EUA pelo ex-presidente Donald Trump. 

O incidente coloca mais lenha na fogueira em um cenário onde governos ocidentais, puxados pelos EUA, demonstram desconfiança com as empresas chinesas há algum tempo. A desconfiança global se sustenta em teorias sobre a proximidade de diversas dessas corporações ao governo chinês. 

A Huawei é o principal exemplo. A gigante enfrenta uma crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido já baniram a infraestrutura da fabricante em seu território por medo de que a China pudesse usá-la para espionagem

Lei pode barrar compras

Uma lei de compras públicas no Reino Unido, há muito aguardada no Parlamento, somada a apelos crescentes relacionados a direitos humanos e questões intrínsecas à segurança nacional, poderá abrir caminho em breve para a proibição de novas compras e até mesmo a remoção das câmeras atuais.

A medida, caso aprovada até o final do verão europeu, daria aos britânicos mais poder para impedir que corporações ligadas a abusos de direitos humanos disputem contratos com governos locais e nacionais, segundo o South China Morning Post.

“Os sistemas de vigilância em massa sempre foram os servos do fascismo”, disse na semana passada o parlamentar David Alton, colega de bancada de Alicia.

Para ele, o governo deve apresentar um cronograma para remover as câmeras e tecnologias da cadeia de suprimentos do setor público e fazer uma campanha para incentivar e apoiar as empresas do setor privado a fazer o mesmo. “Simplesmente não podemos permitir que as ferramentas do genocídio continuem a ser usadas tão prontamente em nossas vidas diárias”, acrescentou.

Por que isso importa?

Artigo publicado no site especializado em cibersegurança Dark Reading aponta que a China vem exportando cada vez mais “não apenas sua tecnologia, mas os valores autoritários que ela sustenta”. O fenômeno é definido como “tecnoautoritarismo”

Ouvido pelo veículo, Keith Krach, ex-subsecretário de Estado para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do governo Trump, disse que tal disseminação precisa ser contida antes que se espalhe por todo o planeta.

“A China está essencialmente exportando uma ‘ditadura em uma caixa’ quando envia suas ferramentas de vigilância para o exterior. Estas são ferramentas que o pior dos ditadores só poderia ter sonhado. E é isso que permite o genocídio: todo o Estado de vigilância. Literalmente, controle do pensamento”, disse em entrevista.

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