No Reino Unido, assim como na China, as câmeras de vigilância são onipresentes. Seja em escolas, centros comunitários ou nas estações de metrô, os equipamentos são usados sob o argumento de coibir a ação de criminosos e de ajudar autoridades a prevenir de simples furtos a atos de terrorismo. Agora, o país quer banir duas empresas chinesas que atuam no setor e são acusadas de violar os direitos humanos. As informações são do jornal Eurasian Times.
A Hangzhou Hikvision Digital Technology e a Zhejiang Dahua Technology, duas grandes empresas do setor de tecnologia na China, entraram na mira dos britânicos por conta da vigilância estatal estabelecida para o controle da população uigur, minoria que habita a região autônoma de Xinjiang. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa dessa comunidade.
“Não devemos usar empresas que são cúmplices do genocídio. Isso não deveria ser permitido”, disse a parlamentar conservadora Alicia Kearns, copresidente do China Research Group.
A Hikvision e a Dahua, duas das maiores desenvolvedoras mundiais de câmeras de protocolo de internet, vêm expandindo sua presença no Reino Unido. E não é à toa: Londres é uma das cidades mais vigiadas do mundo, com 73 câmeras de circuito fechado de televisão (CCTV) a cada mil pessoas. Com as denúncias de violações direitos humanos e suspeita de vigilância estatal, elas agora podem ser sancionadas.
“Estamos permitindo que a China construa um Estado totalitário tecnológico e eles vão construí-lo com base em dados do povo da Grã-Bretanha e de outros países. Estamos enviando os dados faciais de nossos filhos e pessoas em todo o Reino Unido de volta à China e ao PCC (Partido Comunista Chinês)”, acrescentou Alicia.
Segundo o jornal South China Morning Post, embora sejam empresas privadas, Hikvision e Dahua têm grandes acionistas vinculados ao PCC.
Os Estados Unidos também cogitam impor sanções sem precedentes a essas empresas, o que implicaria em consequências para o superlativo número de clientes que usam seus equipamentos ao redor do mundo, informou a agência catari Al Jazeera. Seria a primeira vez que marcas desse porte, presentes em mais de 180 países, entrariam para a Lista de Nacionais Especialmente Designados e Pessoas Sancionadas (SDN, da sigla em inglês), geralmente reservado para traficantes e líderes de grupos violentos.
A Hikvision é conhecida por ser controlada pela China Electronics Technology Group, um dos maiores conglomerados industriais militares da nação asiática. A marca já entrou em conflito com os reguladores dos EUA antes e figura em várias listas que a bloqueiam de grande parte da economia americana. A fabricante chinesa já havia sido impedida de vender tecnologia nos EUA pelo ex-presidente Donald Trump.
O incidente coloca mais lenha na fogueira em um cenário onde governos ocidentais, puxados pelos EUA, demonstram desconfiança com as empresas chinesas há algum tempo. A desconfiança global se sustenta em teorias sobre a proximidade de diversas dessas corporações ao governo chinês.
A Huawei é o principal exemplo. A gigante enfrenta uma crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, Canadá, Estados Unidos e Reino Unido já baniram a infraestrutura da fabricante em seu território por medo de que a China pudesse usá-la para espionagem.
Lei pode barrar compras
Uma lei de compras públicas no Reino Unido, há muito aguardada no Parlamento, somada a apelos crescentes relacionados a direitos humanos e questões intrínsecas à segurança nacional, poderá abrir caminho em breve para a proibição de novas compras e até mesmo a remoção das câmeras atuais.
A medida, caso aprovada até o final do verão europeu, daria aos britânicos mais poder para impedir que corporações ligadas a abusos de direitos humanos disputem contratos com governos locais e nacionais, segundo o South China Morning Post.
“Os sistemas de vigilância em massa sempre foram os servos do fascismo”, disse na semana passada o parlamentar David Alton, colega de bancada de Alicia.
Para ele, o governo deve apresentar um cronograma para remover as câmeras e tecnologias da cadeia de suprimentos do setor público e fazer uma campanha para incentivar e apoiar as empresas do setor privado a fazer o mesmo. “Simplesmente não podemos permitir que as ferramentas do genocídio continuem a ser usadas tão prontamente em nossas vidas diárias”, acrescentou.
Por que isso importa?
Artigo publicado no site especializado em cibersegurança Dark Reading aponta que a China vem exportando cada vez mais “não apenas sua tecnologia, mas os valores autoritários que ela sustenta”. O fenômeno é definido como “tecnoautoritarismo”
Ouvido pelo veículo, Keith Krach, ex-subsecretário de Estado para Crescimento Econômico, Energia e Meio Ambiente do governo Trump, disse que tal disseminação precisa ser contida antes que se espalhe por todo o planeta.
“A China está essencialmente exportando uma ‘ditadura em uma caixa’ quando envia suas ferramentas de vigilância para o exterior. Estas são ferramentas que o pior dos ditadores só poderia ter sonhado. E é isso que permite o genocídio: todo o Estado de vigilância. Literalmente, controle do pensamento”, disse em entrevista.
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