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quarta-feira, 22 de junho de 2022

Leiloada, medalha do Nobel da Paz arrecada US$ 103,5 milhões para crianças ucranianas

A medalha do Prêmio Nobel da Paz, concedida ao jornalista russo Dmitry Muratov em 2021, foi leiloada pelo valor recorde de US$ 103,5 milhões, valor que será destinado a ajudar as crianças deslocadas pela guerra na Ucrânia. As informações são da agência Reuters.

Os lances online começaram em 1º de junho, coincidindo simbolicamente com o Dia Internacional da Criança. Na segunda-feira (20), Dia Mundial do Refugiado, Muratov participou de um evento ao vivo do leilão em Nova York.

O valor arrecadado quebra com sobras o recorde de valor arrecadado por qualquer medalha do Nobel. Anteriormente, a maior quantia em dinheiro registrada por tal item era de pouco menos de US$ 5 milhões.

“Este prêmio é diferente de qualquer outra oferta de leilão até hoje”, disse a Heritage Auctions, que realizou o processo. “O Sr. Muratov, com o total apoio de sua equipe na Novaya Gazeta, está nos permitindo leiloar sua medalha não como um item colecionável, mas como um evento que ele espera impactar positivamente a vida de milhões de refugiados ucranianos”.

Medalha do Prêmio Nobel da Paz no Centro Presidencial Carter em Atlanta, Geórgia, EUA (Foto: Flickr)
Liberdade de expressão

Muratov foi premiado com o Nobel por “defender a liberdade de expressão na Rússia sob condições cada vez mais desafiadoras”. Ele dividiu a honraria com a também jornalista filipina Maria Ressa, do site Rappler.

Além de ser uma importante voz antiguerra no conflito, que levou 5 milhões de ucranianos a buscarem refúgio em outros países e gerou a maior crise humanitária no continente europeu desde a Segunda Guerra Mundial, o jornalista é um crítico feroz da anexação da península da Crimeia pela Rússia em 2014.

Ele comanda o jornal Novaya Gazeta, tido como o principal veículo investigativo russo há décadas, que trouxe reportagens sobre a queda do vôo MH17 e abusos dos direitos humanos na república da Chechênia, incluindo expurgos gays. Sob pressão do Kremlin, em março deste ano o periódico suspendeu as atividades na Rússia, ao menos até que a ofensiva em solo ucraniano cesse. 

Por que isso importa?

Organizações não-governamentais, veículos de imprensa e os colaboradores de ambos têm sido o principal alvo da repressão do presidente Vladimir Putin, com o respaldo da Justiça do país. A perseguição se escora na “lei do agente estrangeiro”, que foi aprovada em 2012 e modificada diversas vezes, dando às autoridades o poder de acessar todas as informações privadas das instituições e indivíduos rotulados.

A designação “agente estrangeiro” carrega conotações negativas da era soviética e serve para rotular o que seriam organizações envolvidas em atividades políticas financiadas pelo exterior. Entidades listadas também são obrigadas a rotular com o selo de “agente estrangeiro” todo conteúdo que venham a divulgar, algo que afeta particularmente as organizações de mídia.

Órgãos e indivíduos que não atendam às exigências impostas pela lei podem pegar pena de até dois anos de prisão, de acordo com o código penal russo, e as organizações podem ser proibidas de funcionar. A classificação também afasta potenciais parceiros comerciais e anunciantes, muitas vezes sufocando financeiramente as instituições listadas.

Tal sistema repressivo tem sido a principal arma do Kremlin para calar os críticos, levando a ordens de prisão, casos de exílio forçado e ao fechamento de entidades.

censura na Rússia, que já era forte antes da invasão da Ucrânia por tropas russas, tem se intensificado durante a guerra. Em março, o Legislativo aprovou um projeto de lei que criminaliza a distribuição do que o governo vier a considerar “notícias falsas” sobre operações militares russas.

De acordo com o texto legal, passa a ser proibido publicar conteúdo “contra o uso de tropas russas para proteger os interesses da Rússia” ou “para desacreditar tal uso”, o que prevê uma pena de até três anos de prisão. A mesma punição se aplica àqueles que venham a pedir sanções ao país.

Em certos casos, o artigo prevê pena máxima de até dez anos de prisão, mas pode haver agravantes que venham a aumentar a sentença. Nos casos que a Justiça considere terem gerado “consequências sérias”, a punição sobe para até 15 anos.

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