Analistas estimam que os gastos da China com sua atual campanha de testes em massa de Covid-19, iniciada em abril devido ao surto da variante Ômicron, irá superar o produto interno bruto (PIB) anual de países como Islândia e Camboja. Enquanto a conta é paga, espera-se que a economia da nação asiática se recupere e ganhe um necessário impulso após o lockdown prolongado. As informações são do jornal South China Morning Post.
Segundo nota divulgada domingo (12) por pesquisadores da Soochow Securities, aproximadamente 10,8 bilhões de exames que detectam o coronavírus devem ser feitos no país desde o referido período até o decorrer de junho. O custo deve atingir 174,6 bilhões de yuans (R$ 132,4 bilhões).
Na visão dos especialistas da empresa de serviços financeiros, o gasto expressivo deverá reforçar a taxa de crescimento econômico do país em 0,62 ponto percentual no segundo trimestre de 2022, o que ajuda a compensar o impacto do encolhimento do consumo das famílias no PIB trimestral.
“Desde o início de junho, enfatizamos que podemos ser mais otimistas em relação ao crescimento econômico no segundo trimestre”, disse a nota, citando vários fatores.
Entre tais aspectos estão: inspeções das autoridades centrais às economias provinciais, medidas de controle de coronavírus mais flexíveis por localidades e uma forte recuperação das exportações registrada no mês passado.
“E há outro ponto importante, uma atração extra no PIB por meio do consumo do governo, por meio da implementação de [testes em massa] regulares pelos governos locais no segundo trimestre”, acrescenta a nota assinada pelos analistas.
A previsão da Soochow surge em meio a um debate na China sobre a política de “Covid Zero” e os prós e contras de se confiar em testagens em massa gratuitas e frequentes contra uma variante altamente contagiosa em um país continental com população de 1,4 bilhão de pessoas.
A obstinação de Beijing com a rigidez de suas políticas sanitárias resultaram em impacto econômico colossal no país nos últimos meses. Em meio às discussões sobre a eficácia da Covid Zero, alguns economistas foram “cancelados” após questionarem as medidas de enfrentamento à pandemia estabelecidas pelo Estado.
Agora, alguns especialistas afirmam que as instalações regulares de testes em massa – incluindo cabines e kits de teste – se tornaram um novo tipo de infraestrutura no país, à medida que as autoridades procuram estabelecer uma vasta rede de testagens de fácil acessibilidade.
No entanto, há preocupação crescente entre os especialistas de que um grupo de interesse composto por fornecedores de testes de coronavírus possa ter se formado nesse cenário de surtos generalizados. Além disso, os altos gastos com testes estariam pressionando os governos locais ou os fundos nacionais de seguro médico.
No final do mês passado, a Administração Nacional de Segurança em Saúde declarou que as campanhas de teste de Covid-19 deveriam ser custeadas pelos governos locais com recursos próprios, sem recorrer aos fundos médicos básicos.
Já na quinta-feira passada (9), a Comissão Nacional de Saúde enfatizou que os testes “não devem se tornar a norma” em regiões sem infecções recentes e naquelas que não enfrentam risco de casos importados.
Em maio, no entanto, a mesma comissão estabeleceu como meta nas principais cidades chinesas disponibilizar pelo menos um estande de testes a cada área que compreende uma caminhada de 15 minutos.
‘Covid Zero’ pode atrapalhar crescimento
Na semana passada, analistas do grupo financeiro japonês Nomura reduziram sua previsão para a taxa de crescimento do PIB da China no segundo trimestre de 1,8% para 0,3%, ano a ano.
Como justificativa para o prognóstico, eles listaram como fatores a relutância de Beijing em abrir mão da política de Covid Zero, o ônus da frequente testagem em massa, a crise imobiliária, a enorme lacuna de financiamento para o governo e uma potencial desaceleração das exportações.
Recentemente, várias províncias chinesas suspenderam ou relaxaram exigência de resultados negativos de testes de coronavírus. Já Beijing e Xangai retomaram os testes em massa em alguns distritos após novas altas de casos.
Por que isso importa?
As rígidas barreiras sanitárias contra Covid-19 impostas na China travaram o fluxo de mercadorias e geram transtornos à cadeia de suprimentos global, segundo afirmou em maio a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Para ela, a desaceleração econômica da segunda potência mundial pode ter consequências globais e precisa ser um assunto priorizado.
Yellen manifestou sua preocupação com a lentidão econômica da nação asiática em meio às políticas de Covid Zero, que paralisaram por semanas os grandes centros financeiros e industriais locais.
“A China também parece estar experimentando uma desaceleração no crescimento. Como uma das maiores economias do mundo, o desempenho econômico chinês realmente tem impacto no crescimento em todo o mundo”, disse Yellen. “Então, esse é um fator que afeta as perspectivas globais, e estamos monitorando cuidadosamente o que acontece em Beijing e quais são suas respostas políticas”.
O lockdown severo na China teria deixado cidadãos sem comida em casa, prejudicando a produção e os gastos do consumidor. Tudo isso serviu para promover uma desaceleração econômica preocupante, que resultou em perda de confiança de empresas estrangeiras.
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