Oito soldados de paz da Minusma (Missão de Estabilização da ONU no Mali) ficaram feridos na explosão de uma mina terrestre na região de Timbutku, no Mali, na quinta-feira (23). As informações são do site The Defense Post.
Olivier Salgado, porta-voz da Minusma, confirmou o incidente em sua conta no Twitter. “Uma patrulha de segurança das forças de paz atingiu uma mina/dispositivo explosivo por volta das 13h (horário local) de hoje perto de Ber (região de Timbutku). Oito forças de paz foram feridos e acabaram de ser evacuadas. Desejamos a eles uma rápida e total recuperação”.
#Mali Une patrouille de sécurisation des Casques bleus a heurté une mine / engin explosif aujourd'hui vers 13h aux environs de #Ber (région #Tombouctou) 8 soldats de la paix ont été blessés et viennent d'être évacués. Nous leur souhaitons un prompt et complet rétablissement. pic.twitter.com/8SPMVnuFiF
— Olivier Salgado (@olivier_salgado) June 23, 2022
As vítimas são militares de Burkina Faso, e o local onde ocorreu o incidente tem forte presença de grupos jihadistas. Somente neste mês, quatro integrantes das forças de paz da ONU foram mortos no Mali em possíveis ataques extremistas.
Ao comentar o episódio mais recente, de um soldado guineense morto no norte do país, o secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), António Guterres, destacou que ataques contra forças de paz da ONU podem constituir crimes de guerra. E pediu às autoridades malianas que “não poupem esforços” na identificação dos perpetradores, para que possam ser rapidamente levados à Justiça.
Recorde de mortes
A ONU anunciou na quarta-feira (22), durante seu Memorial Anual, que em 2021 foi registrado o maior número de mortes de servidores no período de um ano em toda a história da entidade. No total, 485 funcionários morreram no ano passado, sendo 414 civis. Eles eram de 104 países diferentes.
Segundo a ONU, desde sua fundação, mais de 3,5 mil homens e mulheres perderam a vida enquanto serviam à entidade. Ole Bakke, norueguês servindo na Palestina, foi a primeira vítima da história da ONU, morto a tiros em julho de 1948.
Por que isso importa?
O Mali vive um período de instabilidade política que começou com o golpe de Estado em 2012, que permitiu a vários grupos rebeldes e extremistas tomar o poder no norte do país. De quebra, a nação, independente desde 1960, viveu em maio de 2021 o terceiro golpe de Estado em um intervalo de apenas dez anos, seguindo o que já havia ocorrido em 2012 e também em 2020.
A mais recente turbulência política começou semanas antes do golpe, com a demissão do primeiro-ministro Moctar Ouane pelo presidente Bah Ndaw. Reconduzido ao cargo pouco depois, Ouane não conseguiu formar um novo governo, e a tensão aumentou com a falta de pagamento dos salários dos professores. O maior sindicato da categoria, então, começou a se preparar para uma greve.
Veio a noite do dia 24 de maio, quando o coronel Assimi Goita, vice-presidente do país, destituiu Ndaw e Ouane de seus cargos e ordenou a prisão de ambos na capital Bamako. Segundo ele, os dois líderes civis violaram a carta de transição ao não consultarem o militar na formação do novo governo.
Ao contrário do que ocorreu em golpes anteriores, que contaram com apoio popular, desta vez a maior parte da população malinesa rejeitou a tomada de poder por Goita, que derrubou o governo de transição recém-instituído e assumiu o comando do país. A população civil não foi às ruas protestar contra o militar, mas usou as redes sociais para mostrar sua insatisfação.
Militarmente, especialistas e políticos ocidentais enxergam uma geopolítica delicada no país, devido ao aumento constante da influência de grupos jihadistas ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico (EI) e à consequente explosão da violência nos confrontos entre extremistas e militares. Além disso, trata-se de uma posição importante para traficantes de armas e pessoas, e o processo em curso de redução das tropas franceses, que atuam no país desde 2013, tende a piorar a situação.
Os conflitos, antes concentrados no norte do país, se expandiram inclusive para os vizinhos Burkina Faso e Níger. A região central do Mali se tornou um dos pontos mais violentos de todo o Sahel africano, com frequentes assassinatos étnicos e ataques extremistas contra forças do governo.
Colabora para piorar a situação a ruptura entre o governo maliano e seu principal parceiro ocidental para gestão da segurança, a França. Desde o ano passado, as forças armadas francesas iniciaram um processo de retirada de tropas, o que gerou dúvidas quanto à capacidade de o Mali sustentar os avanços na luta contra o jihadismo.
Uma das razões para a retirada francesa foi o acordo com os mercenários do Wagner Group firmado pelo coronel Assimi Goita, que assumiu o poder no golpe de Estado de maio de 2021. Paris e as demais nações ocidentais contestam a parceria e acusam a organização russa, supostamente ligada ao Kremlin, de cometer crimes de guerra em conflitos nos quais esteve envolvida em todo o mundo.
Fontes sustentam que o pagamento pelos serviços da organização seria de US$ 10,8 milhões por mês, dinheiro que vem da extração de minerais, acreditam especialistas. O governo do Mali, entretanto, alega que os russos são apenas instrutores e “não estão em funções de combate”.
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