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sexta-feira, 10 de junho de 2022

Resolução do Parlamento Europeu fala em ‘sério risco de genocídio’ em Xinjiang

Uma resolução aprovada pelo Parlamento Europeu na quinta-feira (9) condena “nos mais fortes termos” o que classifica como “crimes contra a humanidade” e “sério risco de genocídio” por parte do governo da China na região de Xinjiang, onde vivem minorias étnicas como os uigures. As informações são da Radio Free Asia.

Trata-se de uma resolução não vinculativa, que não prevê a adoção de medidas práticas contra Beijing. E, embora tenha usado a palavra “genocídio“, ela não classifica efetivamente as ações do governo chinês como tal.

O documento diz apenas que há “evidências confiáveis sobre medidas de prevenção de nascimentos e a separação de crianças uigures de suas famílias, que constituem crimes contra a humanidade e representam um sério risco de genocídio”.

O Parlamento também afirma que condena “nos termos mais fortes possíveis que os uigures sejam sistematicamente oprimidos por medidas brutais, incluindo deportação em massa, doutrinação política, separação familiar, restrições à liberdade religiosa, destruição cultural e uso extensivo de vigilância”.

Diante das acusações, a União Europeia (UE) aprovou uma segunda resolução, essa com efeitos práticos, que bane dos países do bloco produtos feitos com base em trabalho forçado, o que tende a impactar diretamente nos bens provenientes de indústrias de Xinjiang.

O órgão ainda cobrou a alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos, Michelle Bachelet, para que redija o aguardado relatório sobre violações de direitos humanos, dizendo que ela até agora “não conseguiu responsabilizar claramente o governo chinês”.

Panorama de Urumqi, capital de Xinjiang, com as montanhas de Yamalik ao fundo (Foto: Wikimedia Commons)
Visita da ONU contestada

Em maio, Bachelet fez uma viagem de seis dias à China, tendo Xinjiang como um dos destinos. Ela foi alvo de duras críticas por ter aceitado o convite de Beijing, com grupos humanitários e governos ocidentais alertando que a visita serviria apenas para maquiar os problemas e reduzir o escrutínio global no que tange à questão dos direitos humanos.

Após a visita, a declaração amena publicada no site da ONU deu razão aos críticos. No comunicado, sobraram até elogios ao governo do Partido Comunista Chinês (PCC), destacando “a redução da pobreza e a erradicação da pobreza extrema, dez anos antes da data prevista” como sendo “grandes conquistas da China”.

Xinjiang foi citada, mas Bachelet admitiu que não visitou nenhum Centro de Educação e Formação Profissional (VETCs, na sigla em inglês), os populares campos de desradicalização, onde são detidos os uigures. “Durante minha visita, o Governo garantiu que o sistema VETC foi desmantelado”, limitou-se a dizer.

As acusações contra o governo chinês de abusos nesse sentido, segundo ela, foram apenas citadas durante a visita. “Na Região Autônoma Uigur de Xinjiang, levantei questões e preocupações sobre a aplicação de medidas antiterroristas e de desradicalização e sua ampla aplicação – particularmente seu impacto sobre os direitos dos uigures e outras minorias predominantemente muçulmanas”.

Por que isso importa?

A província de Xinjiang, no noroeste da China, faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas. Ali vive a comunidade uigur, uma minoria muçulmana de raízes turcas que sofre perseguição do governo chinês, com acusações de abusos diversos.

Os uigures, cerca de 11 milhões, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Denúncias dão conta de que Beijing usa de tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa em Xinjiang.

Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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