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quarta-feira, 15 de junho de 2022

OMS avalia se varíola dos macacos será declarada ‘emergência de interesse internacional’

O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Gebreyesus, anunciou na terça-feira (14) que o Comitê de Emergência do Regulamento Sanitário Internacional da entidade foi convocado devido à disseminação do vírus da varíola dos macacos para 32 países não endêmicos.

Os especialistas se reunirão em 23 de junho para avaliar se o surto contínuo representa uma “emergência de saúde pública de interesse internacional”, o mais alto nível de alerta global, que atualmente se aplica apenas à pandemia de Covid-19 e à poliomielite.

Até agora, neste ano, mais de 1,6 mil casos confirmados e quase 1,5 mil casos suspeitos de varíola dos macacos foram relatados à OMS em 39 países. Na lista estão sete países onde a varíola dos macacos foi detectada há anos e 32 nações recém-afetadas.

Pelo menos 72 mortes foram relatadas em países anteriormente afetados. Nenhuma morte foi registrada até agora nos novos países afetados, mas a agência está buscando verificar notícias de uma morte no Brasil.

“O surto global de varíola dos macacos é claramente incomum e preocupante”, disse Gebreyesus, pedindo que seja intensificada a resposta e a coordenação internacional.

O diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Gebreyesus (Foto: divulgação)
Europa em alerta

Ibrahima Socé Fall, vice-diretor de resposta a emergências da OMS, explicou que o risco de propagação na Europa é considerado “alto” enquanto no resto do mundo “moderado” e que ainda existem lacunas de conhecimento sobre como o vírus está sendo transmitido. “Não queremos esperar até que a situação esteja fora de controle”, disse ele.

A OMS publicou recomendações para governos sobre detecção e controle de casos. Segundo Rosamund Lewis, especialista em varíola da OMS, é crucial conscientizar a população sobre o nível de risco e explicar as recomendações para evitar infectar pessoas próximas. E, embora a doença geralmente produza apenas sintomas leves, como lesões na pele, ela pode ser contagiosa por duas a quatro semanas.

“Sabemos que é muito difícil as pessoas se isolarem por tanto tempo, mas é muito importante proteger os outros. Na maioria dos casos, as pessoas podem se isolar em casa e não há necessidade de estar no hospital”, disse Lewis.

A varíola dos macacos é transmitida através do contato físico com alguém que apresenta sintomas. A erupção cutânea, os fluidos e e crostas são especialmente infecciosos. Roupas, roupas de cama, toalhas ou objetos, como talheres ou pratos contaminados com o vírus, também podem infectar outras pessoas.

No entanto, não está claro se as pessoas que não apresentam sintomas podem espalhar a doença, reiterou a especialista.

Diretrizes de vacinação

A OMS publicou na terça novas diretrizes sobre vacinação contra varíola dos macacos. Embora alguns países tenham mantido suprimentos estratégicos de vacinas mais antigas contra a varíola, erradicada em 1980, elas não são recomendadas para varíola dos macacos no momento porque não atendem aos padrões atuais de segurança e fabricação.

Vacinas contra a varíola mais novas e mais seguras, da segunda e da terceira gerações, também estão disponíveis, algumas das quais podem ser úteis para varíola dos macacos. Uma delas, a MVA-BN, foi aprovada para a prevenção da doença. Porém, o fornecimento dessas novas vacinas é limitado, e as estratégias de acesso estão sendo discutidas.

“Neste momento, a Organização Mundial da Saúde não recomenda a vacinação em massa. As decisões sobre o uso de vacinas contra varíola ou varíola dos macacos devem ser baseadas em uma avaliação completa dos riscos e benefícios em cada caso”, indicam as diretrizes da agência.

Para os contatos de pacientes doentes, recomenda-se a profilaxia pós-exposição com uma vacina de segunda ou terceira geração, idealmente dentro de quatro dias após a primeira exposição, para prevenir o início da doença.

A profilaxia pré-exposição é recomendada para profissionais de saúde em risco, pessoal de laboratório que trabalha com ortopoxvírus, pessoal de laboratório clínico realizando testes de diagnóstico para varíola dos macacos e outros que possam estar em risco.

Produção de vacinas no Instituto Serum da Índia março de 2021 (Foto: Unicef/Dhiraj Singh)
Estudos desatualizados

De acordo com Rosamund Lewis, a maioria dos dados sobre a vacina contra a varíola é antiga ou de estudos em animais. “Não há muitos estudos clínicos [atuais]”, disse ela.

A OMS sublinhou a importância de os programas de vacinação serem apoiados por vigilância abrangente e rastreamento de contatos e acompanhados por campanhas de informação e “farmacovigilância” robusta, idealmente com estudos colaborativos sobre a eficácia da vacina.

Tedros Gebreyesus também disse que a OMS está trabalhando com parceiros para renomear varíola dos macacos e suas variantes e também para implementar um mecanismo para ajudar a compartilhar vacinas disponíveis, de forma mais equitativa, conforme a necessidade.

Queda nos casos de Covid-19

Em relação à situação atual com a pandemia de Covid-19, Gebreyesus disse que tanto os casos relatados quanto as mortes diminuíram mais de 90%, em relação aos máximos alcançados no início deste ano.

“Esta é uma tendência muito bem-vinda. Ainda assim, mais de 3 milhões de casos foram relatados à OMS na semana passada. E, como muitos países reduziram a vigilância e os testes, sabemos que esse número é subnotificado”, disse ele.

Nesse período, foram registradas 8.737 mortes. O chefe da OMS classificou os dados como “nível inaceitável” quando há ferramentas eficazes para prevenir, detectar e tratar essa doença. E pediu aos países que cheguem a um acordo sobre a isenção temporária de direitos de propriedade intelectual para vacinas, tratamentos e testes de diagnóstico da Covid-19 na Conferência Ministerial da OMC (Organização Mundial do Comércio) desta semana.

“Como já disse muitas vezes, a isenção foi criada para uso em emergências. Então, se não agora, então quando?”, questionou.

“Apartheid vacinal”

O pedido do diretor-geral da OMS foi ecoado pela relatora especial sobre formas contemporâneas de racismo E. Tendayi Achiume, que chamou as crescentes desigualdades no acesso a imunizações uma forma de “apartheid vacinal”.

“Dado que os mais prejudicados pelo apartheid vacinal são pessoas racialmente marginalizadas, o acesso desigual às vacinas e tratamentos Covid-19 dentro e entre as nações é inegavelmente uma questão de injustiça racial”, disse ela. “Essa injustiça é agravada pela persistente desigualdade de riqueza, poder e recursos de saúde entre os Estados, que pode ser rastreada até as histórias transnacionais de racismo e colonialismo”.

Até este mês, 72,09% das pessoas em países de alta renda foram vacinadas com pelo menos uma dose da vacina Covid-19, em comparação com apenas 17,94% das pessoas em países de baixa renda.

Em sua carta aos membros da OMC, Achiume instou os representantes dos Estados na Conferência Ministerial a honrar os compromissos e obrigações legais de igualdade e não discriminação consagrados na lei internacional de direitos humanos. “Os Estados devem demonstrar a vontade política, liderança e firme compromisso com a igualdade racial que a mudança transformadora exige”, disse.

Conteúdo adaptado do material publicado originalmente em inglês pela ONU News

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