Ao longo dos cem primeiros dias de guerra na Ucrânia, iniciada em 24 de fevereiro, a Rússia embolsou 93 bilhões de euros com a venda de gás e petróleo cru. Embora o volume de exportações tenha caído 15% em maio, com reduções no faturamento registradas desde março, os valores embolsados por Moscou ainda são altos e financiam a máquina de guerra do presidente Vladimir Putin. É o que aponta relatório do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo (CREA, na sigla em inglês) divulgado nesta semana.
“A Rússia gasta cerca de 840 milhões de euros por dia na invasão”, calcula o documento, que atesta: “A receita das exportações de combustíveis fósseis superou essa soma nos primeiros cem dias”.
A União Europeia (UE) continua sendo o principal destinatário das fontes de energia russas, com 61% das importações nos primeiros cem dias de guerra. Isso equivale a aproximadamente 57 bilhões de euros no período analisado.
Na lista de países que mais receberam os produtos entre 24 de fevereiro e 3 de junho destaca-se a China, com 12,6 bilhões de euros. Em seguida surgem Alemanha (12,1 bilhões de euros), Itália (7,8 bilhões de euros), Holanda (7,8 bilhões de euros), Turquia (6,7 bilhões de euros), Polônia (4,4 bilhões de euros), França (4,3 bilhões de euros) e Índia (3,4 bilhões de euros).
Embargo é a solução
Em artigo publicado pelo think tank Atlantic Council no início de abril, Basil Kalymon, professor emérito da Ivey Business School, no Canadá, alertou para a importância que o dinheiro europeu tem para a Rússia. “Sem esse financiamento, a economia russa entraria em colapso, e a capacidade de Putin de continuar a invasão da Ucrânia seria drasticamente reduzida”, disse.
Segundo Kalymon, a solução traria prejuízos, mas a matemática compensaria. “Um embargo ao petróleo e gás russos resultaria em custos significativos que seriam sentidos em toda a Europa. No entanto, os danos infligidos à economia russa seriam muito maiores e poderiam conseguir deter o maior conflito europeu desde a Segunda Guerra Mundial”.
O CREA afirma que um embargo parcial imposto pela UE custaria aos cofres russos US$ 36 bilhões por ano. Da forma como o problema é tratado atualmente, a redução da quantia de gás e petróleo enviada ao bloco não chega a machucar a Rússia, que compensa a queda na quantidade exportada com recente o aumento do preço. Ou seja, exporta menos sem reduzir o faturamento.
“A redução da demanda e o desconto no preço do petróleo russo custaram ao país aproximadamente 200 milhões de euros por dia em maio”, diz o relatório, que aponta o outro lado da questão. “O aumento da demanda por fósseis gerou um ganho inesperado: os preços médios de exportação da Rússia foram, em média, 60% mais altos do que no ano passado, mesmo descontados dos preços internacionais”.
Por ora, o bloco europeu adota medidas mais suaves que as de seus aliados. “Os EUA e o Canadá impuseram proibições de importação de combustíveis fósseis que já estão em vigor. O Reino Unido eliminará gradualmente as importações de petróleo bruto e derivados até o final de 2022″, afirma o CREA.
Segundo o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que falou ao jornal The Washington Post, o acordo para encerrar as entregas marítimas, previsto para ser concluído até o final do ano, cobriria mais de dois terços das importações de petróleo da Rússia, cortando “uma enorme fonte de financiamento” para a “máquina de guerra” russa.
Porém, o relatório mostra que mesmo essa abordagem ignora uma armadilha. Isso porque a Rússia tem buscado novos compradores. Um deles é a Índia, que antes da guerra era o destino de cerca de 1% do petróleo cru exportado pela Rússia. Em maio, respondia por 18%.
Ocorre que parte do petróleo cru exportado para os indianos acaba refinado no país asiático e depois revendido justamente para consumidores nos EUA e na Europa. Para tapar esse buraco seria necessário impor sanções ainda mais duras às fontes de energia russas.
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