Recuo no crescimento, inflação alta e prejuízo crônico nas cadeias de suprimentos. Esse é o legado que a guerra na Ucrânia deve deixar para a economia mundial, segundo relatório divulgado em Paris nesta quarta-feira (8) pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômicos (OCDE), que prevê um 2023 desanimador. As informações são da agência catari Al Jazeera.
A previsão da organização é de que, no ano que vem, o crescimento desacelere para 2,8%. Normalmente os prognósticos são divulgados em março, mas, devido à invasão das tropas russas no fim de fevereiro e ás incertezas trazidas pelo conflito, a OCDE decidiu adiar o encontro para poder ter uma melhor visão.
“Uma crise humanitária está acontecendo diante dos nossos olhos, deixando milhares de mortos, forçando milhões de refugiados a fugir de suas casas e ameaçando uma recuperação econômica que estava em curso após dois anos de pandemia”, disse a economista chefe da OCDE, Laurence Boone.
Se de um lado a previsão de crescimento global caiu de 4,5% para 3%, do outro, a projeção de inflação dobrou, devendo se aproximar de 9% para os 38 países-membros da OECD. E o custo da guerra pode ser ainda mais pesado. É o que sugere uma extensa lista de riscos mostrada pela organização, que fala em “corte abrupto da oferta russa na Europa” e “vulnerabilidades nos mercados financeiros devido a dívidas elevadas e preços de ativos elevados”.
A OCDE citou no relatório as complicações que alteraram o ambiente econômico internacional nos últimos meses, em especial fatores relacionados à Covid-19, como o surto global da variante Ômicron e a inflação acima do esperado. Mas não foram esses os principais problemas.
“A maior mudança, no entanto, é o impacto econômico da guerra na Ucrânia”, disse a organização.
Além da interferência do conflito na economia, as rígidas políticas de Covid Zero da China, que criaram novos gargalos na logística global, também têm atravancado o crescimento global, dada a importância do país nas cadeias de suprimentos internacionais e consumo geral, segundo reportagem da rede CNBC.
“A invasão da Ucrânia, juntamente com as paralisações nas principais cidades e portos da China, gerou um novo conjunto de choques adversos”, ponderou a OCDE.
Na terça-feira (7), o Banco Mundial se mostrou pessimista em suas projeções de crescimento global. A instituição disse que o PIB (produto interno bruto) global atingirá 2,9% este ano, estimativa que fica abaixo da prevista em janeiro, que era de 4,1%.
Bem-estar social em queda
A grande vilã inflação está causando estragos, tendo reduzido gastos dos consumidores ao redor do planeta e alterando os padrões de vida. Segundo a OCDE, diante desse cenário, as empresas estão ficando menos otimistas sobre a produção futura. “Crucialmente, esse golpe na confiança está desencorajando o investimento, que por sua vez ameaça prejudicar a oferta nos próximos anos”, disse o relatório.
Apesar da semelhança histórica do cenário atual com o choque do petróleo na década de 1970, a organização prefere agir com cautela em relação a uma possibilidade de a economia estar à beira da estagflação – nome dado ao aumento de inflação somado à alta estagnação da economia.
“Comparado a essa época, as principais economias são menos intensivas em energia, os bancos centrais têm estruturas e independência mais robustas e os consumidores têm um estoque de excesso de poupança que sobrou da pandemia de Covid-19″, pondera a organização.
Entre as recomendações dadas pela OCDE estão:
– Mais ajuda e cooperação global em logística para evitar uma crise alimentar
– Apoio governamental direcionado às famílias mais atingidas pelo aumento do custo de vida
– Sinais de bancos centrais que não permitirão que a inflação se espalhe
– Mais solidariedade na Europa em defesa e gastos com energia
– Manter o comércio aberto para garantir diversas cadeias de valor para a transição verde
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