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sexta-feira, 17 de junho de 2022

Documento assinado por dezenas de países condena China por abusos em Xinjiang

Uma declaração conjunta assinada por quase 50 países pede à China que tome providências quanto às alegações de violações dos direitos humanos contra a minoria muçulmana dos uigures na região autônoma de Xinjiang. As informações são da rede Nikkei Asia.

O documento, entregue na terça-feira (14) ao Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, também questiona o trabalho da alta comissária da ONU (Organização das Nações Unidas) para os direitos humanos Michelle Bachelet, de quem se aguarda há algum tempo um relatório sobre a situação do grupo étnico, que estaria sendo alvo de genocídio pelo governo chinês.

Na declaração, endossada por 47 países, incluindo Japão, Alemanha, Grã-Bretanha e Estados Unidos, as lideranças se dizem “gravemente preocupadas” com as denúncias de que Beijing submete ao povo turcomano tortura, esterilização forçada, trabalho obrigatório e maus tratos para realizar uma limpeza étnica e religiosa. A China nega.

Mulheres da etnia uigur nas Ruínas de Melikawat, China (Foto: Wikimedia Commons)

“Também estamos preocupados com relatos de punições cruéis, desumanas ou degradantes, violência sexual e de gênero, trabalho forçado e separação forçada de crianças de seus pais pelas autoridades”, disse o embaixador holandês na ONU, Paul Bekkers.

As nações signatárias pediram à China na carta para “acabar com a detenção arbitrária de muçulmanos uigures e pessoas pertencentes a outras minorias” e a cumprir suas obrigações sob as leis nacionais e internacionais de direitos humanos.

O embaixador da China na ONU em Genebra, Chen Xu, rechaçou o conteúdo do documento, o qual ele acusa espalhar “mentiras e rumores” para atacar seu país, acrescentando que Beijing “rejeita categoricamente essas alegações”.

“O Conselho de Direitos Humanos tornou-se cada vez mais politizado e conflituoso, e a desinformação tornou-se desenfreada, o que contraria seriamente o propósito original do Conselho de Direitos Humanos”, disse Chen.

Bachelet, que recentemente fez uma viagem de seis dias à China – a primeira de uma autoridade das Nações Unidas em 17 anos –, vem sendo amplamente criticada após ter concordado em visitar o país sem o acesso irrestrito que havia exigido do governo chinês. Após dar uma declaração amena publicada no site da entidade, ela acabou dando razão àqueles que questionaram a possibilidade de a visita servir para Beijing maquiar os problemas e assim reduzir o escrutínio global no que tange à questão dos direitos humanos. Ela não esteve nos chamados centros de reeducação e elogiou as políticas locais.

“Eu levantei questões e preocupações sobre a aplicação de medidas de contraterrorismo e desradicalização e sua ampla aplicação, particularmente seu impacto sobre os direitos dos uigures e outras minorias predominantemente muçulmanas”, disse ela a repórteres após retornar.

Bachelet disse que o relatório de seu escritório, que deveria ter sido publicado em 2021, deve levar ainda mais tempo para ser entregue, já que precisava ser atualizado e, primeiramente, enviado ao governo chinês.

Em uma votação não vinculativa na quinta-feira (16), o Parlamento Europeu descreveu as alegações de abusos em Xinjiang como “crimes contra a humanidade” e alertou para “um sério risco de genocídio”.

Nos EUA, uma nova lei que entra em vigor na próxima semana impedirá a entrada no país de quaisquer bens produzidos na região chinesa, a menos que os importadores provem que não foram feitos com trabalho forçado.

Por que isso importa?

A comunidade uigur é uma minoria muçulmana de raízes turcas que habita a região autônoma de Xinjiang, no noroeste da China. A província faz fronteira com países da Ásia Central, com quem divide raízes étnicas e linguísticas.

Os uigures, cerca de 11 milhões em Xinjiang, enfrentam discriminação da sociedade e do governo chinês e são vistos com desconfiança pela maioria han, que responde por 92% dos chineses. Estimativas apontam que um em cada 20 uigures ou cidadãos de minoria étnica já passou por campos de detenção de forma arbitrária desde 2014.

O governo de Joe Biden, nos EUA, foi o primeiro a usar o termo “genocídio” para descrever as ações da China em relação aos uigures. Em seguida, Reino Unido e Canadá também passaram a usar a designação, e mais recentemente a Lituânia se juntou ao grupo.

A China nega as acusações de que comete abusos em Xinjiang e diz que as ações do governo na região têm como finalidade a educação contraterrorismo, a fim de conter movimentos separatistas e combater grupos extremistas religiosos que eventualmente venham a planejar ataques terroristas no país. .

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian, afirma que o trabalho forçado uigur é “a maior mentira do século”. “Os Estados Unidos tanto criam mentiras quanto tomam ações flagrantes com base em suas mentiras para violar as regras do comércio internacional e os princípios da economia de mercado”, disse ele.

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