Sirajuddin Haqqani, uma das mais importantes figuras no governo do Taleban no Afeganistão e terrorista procurado pelo governo dos Estados Unidos, apareceu em público pela primeira vez no sábado (5), em um evento realizado em Cabul. As informações são da rede alemã Deutsche Welle (DW).
Até então, não havia foto disponível do rosto de Haqqani, hoje ministro do Interior afegão. Sempre que comparecia a um evento, ele permitia apenas imagens em que aparecesse de costas ou com o rosto borrado. O protocolo finalmente foi quebrado na graduação dos novos agentes de polícia afegãos, a primeira turma desde que o Taleban assumiu o poder no país, em agosto do ano passado.
Haqqani, inclusive, usou sua primeira aparição pública como tema do discurso que fez aos novos policiais. “Para sua satisfação e para conquistar sua confiança, estou aparecendo na mídia em uma reunião pública com vocês”, disse ele.
O líder afirmou, ainda, que os talibãs que eventualmente tenham cometido crimes contra a população civil nos últimos meses serão julgados criminalmente. Ele admitiu que houve “algumas más condutas” desde que o grupo fez a transição para seu novo papel de governar o país e que os seguidores estão sendo treinados.
Mulheres na polícia
O ministro do Interior tocou em outro assunto delicado ao destacar que, entre os 377 graduandos de sábado (5), não havia apenas homens, mas também mulheres. “Hoje nossas irmãs estão conosco nesta cerimônia. Elas estão recebendo seus diplomas de graduação e estão sendo nomeadas para diferentes cargos”.
A declaração ocorre em meio às crescentes denúncias de que as mulheres são o principal alvo da repressão dos radicais no país. Inclusive, a perda do salário de muitas mulheres que sustentavam suas casas e agora não podem mais trabalhar tem contribuído para o empobrecimento da população afegã.
Mulheres também são desencorajadas a sair de casa desacompanhadas, e há relatos de solteiras e viúvas forçadas a se casar com combatentes. Há também um código de vestimenta para as afegãs, forçadas a usar o hijab, a vestimenta preconizada pelo Islã, quando estão em público.
Recompensa aos “mártires”
Haqqani havia aparecido em público pela última vez em outubro de 2021, quando participou de um encontro com familiares de combatentes que morreram em ataques suicidas. Na ocasião, ele elogiou a jihad e o “sacrifício dos mártires e mujahedin”, referindo-se a eles como “heróis do Islã e do país” e “guerreiros sagrados”. Ainda prometeu pagar US$ 125 e entregar um lote de terra para cada família cujo parente morreu em uma explosão suicida.
Imagens daquele encontro foram publicadas na internet por apoiadores do Taleban, mas Haqqani não exibia o rosto em nenhuma delas, aparecendo sempre de costas ou com a face borrada toda vez que era enquadrado pela câmera. Ainda assim, era possível identificá-lo rezando e abraçando parentes dos combatentes suicidas.
Por que isso importa?
Figura proeminente do atual governo talibã no Afeganistão, Sirajuddin Haqqani é também um dos terroristas mais procurados do mundo, com uma recompensa de US$ 10 milhões oferecida pelo Departamento de Estado norte-americano pela captura dele.
O líder talibã é o idealizador da Rede Haqqani, um grupo extremista originário do Paquistão que passou a atuar sobretudo no leste do Afeganistão e em Cabul nos tempos da ocupação estrangeira.
À frente da organização terrorista, Haqqani já admitiu ter planejado, em janeiro de 2008, um ataque contra o Hotel Serena, em Cabul, que matou seis pessoas. Também foi o autor da tentativa de assassinato contra o presidente afegão Hamid Karzai, em abril de 2008, e de uma série de ataques contra as forças dos EUA e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) no Afeganistão.
Desde agosto de 2021, quando o Taleban ascendeu ao poder, ele tem aumentado sua influência no governo afegão, ocupando o cargo de ministro do Interior. “Sirajuddin Haqqani se tornou uma das pessoas mais poderosas do Afeganistão. Ele montou e agora controla o aparato de segurança do país e está expandindo ativamente sua influência por meio de nomeações”, diz Barbara Kelemen, analista-chefe de inteligência para a Ásia da agência Dragonfly, serviço global de inteligência geopolítica e segurança.
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