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segunda-feira, 28 de março de 2022

Ataque a hospital mata quatro na Ucrânia e amplia lista de possíveis crimes de guerra russos

A OMS (Organização Mundial de Saúde) registrou 72 ataques contra instalações médicas na Ucrânia entre os dias 24 de fevereiro, quando ocorreu a invasão do país por tropas da Rússia, e o dia 21 de março. Foram confirmadas oficialmente 71 mortes e 37 pessoas feridas nesse período. E o número aumentará, pois na conta não entra, por exemplo, um ataque relatado por veículos de imprensa estrangeiros a um hospital de Kharkiv na última sexta-feira (25), no qual teriam morrido quatro pessoas.

“Ataques a estabelecimentos e profissionais de saúde afetam diretamente a capacidade das pessoas de acessar serviços essenciais de saúde. Especialmente mulheres, crianças e outros grupos vulneráveis”, diz comunicado publicado pela OMS no dia 13 de março. “Já vimos que as necessidades de saúde de mulheres grávidas, novas mães, crianças menores e idosos na Ucrânia estão aumentando, enquanto o acesso aos serviços está sendo severamente limitado pela violência”.

O ataque mais recente foi reportado pela polícia de Kharkiv, cidade no leste ucraniano próxima à fronteira com a Rússia, de acordo com dois jornais, o saudita Arab News e o israelense Times of Israel. “Nesta manhã, após um bombardeio contra a infraestrutura civil por vários lançadores de foguetes, sete civis ficaram feridos, quatro deles morreram”, disseram as autoridades locais, citando que a ação ocorreu no distrito de Osnovyansky.

Área externa de hospital de Kharkiv supostamente bombardeado por russos (Foto: reprodução/Facebook)

De acordo com o prefeito de Kharkiv, Ihor Terekhov, quase dois terços dos 1,5 milhão de habitantes da cidade tiveram que fugir desde que a guerra começou. “Esses atentados criminosos têm como alvo áreas residenciais, civis e infraestrutura, como escolas”, disse ele em coletiva de imprensa improvisada, realizada em um local secreto a fim de evitar ataques. “É uma guerra contra Kharkiv, contra a Ucrânia, contra civis”.

Como nos casos anteriores de ataques a civis, que têm entre os alvos uma maternidade de Mariupol bombardeada, evidências têm sido reunidas a fim de denunciar o presidente russo Vladimir Putin e seus aliados por crimes de guerra. “A polícia está documentando este crime contra o povo ucraniano e está reunindo todas as evidências materiais para levar os autores à justiça”, disse a polícia de Kharkiv.

Segundo Ryan Goodman, professor de direito da Universidade de Nova York e ex-conselheiro especial do Departamento de Defesa dos EUA, ações desse tipo são prioridade nas investigações. “O padrão de ataques ajudará os promotores a construir o caso de que são ataques deliberados”, disse ele à agência Associated Press. “Os promotores farão inferências de quantas instalações médicas foram atacadas, quantas vezes instalações individuais foram repetidamente atingidas e em que período de tempo”.

Jarno Habicht, representante da OMS na Ucrânia, reforçou a denúncia contra Moscou. “Os ataques à saúde são uma violação do direito internacional humanitário e uma tática de guerra perturbadoramente comum. Eles destroem a infraestrutura crítica e, pior, destroem a esperança”, disse ele, segundo a agência catari Al Jazeera. “Eles privam pessoas já vulneráveis de cuidados que muitas vezes são a diferença entre a vida e a morte. Os cuidados de saúde não são, e nunca devem ser, um alvo”.

Bomba russa que teria atingido hospital de Kharkiv, na Ucrânia (Foto: reprodução/Facebook)

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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