A crise instalada no setor imobiliário da China gerou uma grande lista de bilionários incapazes de pagar suas dívidas. São dezenas de bilhões de dólares em títulos emitidos a investidores internacionais que vencerão nos próximos quatro anos e que, da forma como caminham as coisas no mercado chinês, possivelmente entrarão em default. As informações são da revista Forbes.
Somente neste ano, os saldos pendentes somam US$ 27,33 bilhões, padrão que se mantém nos anos seguintes: US$ 18,28 bilhões em 2023, US$ 19,03 bilhões em 2024 e US$ 17,99 bilhões em 2025. São 21 indivíduos do setor imobiliário enfiados em dívidas impagáveis, de acordo com a agências de classificação de risco de crédito Fitch Ratings.
No topo da lista de devedores está Hui Ka Yan, fundador e presidente da Evergrande, que já perdeu pagamentos de quase US$ 20 bilhões em títulos internacionais e ainda não ofereceu um plano de reestruturação viável para a empresa. O que surpreende é que a Evergrande e as demais companhiad não entraram em processo de falência e continuam a ter suas ações negociadas, com avaliações cada vez menores.
O Kaisa Group foi responsável pelo primeiro default offshore da China, de US$ 1,34 bilhão, o maior calote do país antes da queda da Evergrande. Kwok Ying Shing, presidente da empresa, conseguiu driblar o problema por meio de trocas de títulos, substituindo títulos antigos por novos no ano seguinte.
“Resoluções extrajudiciais, como troca de títulos e extensão de vencimento, são as principais resoluções pós-inadimplência, pois alguns desenvolvedores ainda podem restaurar sua posição de liquidez por meio de alienações de projetos ou apoio dos acionistas”, diz Shuncheng Zhang, analista da classificações da Fitch.
O caso da Sichuan Languang Development foi parar na Justiça. O default da empresa comandada por Keng Yang era de 11,13 bilhões de yuans (US$ 1,75 bilhão) em julho de 2021, o maior de todos os tempos dentro da China. Isso levou mais de 30 credores a ingressarem com ações nos tribunais do país, processos que totalizam 2,48 bilhões de yuans (US$ 390 milhões). Mas a situação não melhorou em função disso, e em novembro o calote havia saltado para 25,881 bilhões de yuans (US$ 4,07 bilhões).
O que explica o fato de os bancos hesitarem em apresentar pedidos de falência contra os devedores do setor imobiliário é o fato de que muitos deles têm garantias para seus empréstimos. Além disso, uma reestruturação extrajudicial pode garantir que os desenvolvedores continuem as operações comerciais normais, o que pode beneficiar as instituições financeiras, segundo Zhang.
Por que isso importa?
O proeminente economista Robert Z. Aliber, professor aposentado da Booth School of Business da Universidade de Chicago, prevê que a China sofrerá um desastre de contornos semelhantes aos que causaram o derretimento da economia norte-americana em 2008, prometendo ser ainda pior.
Segundo Aliber, o colapso iminente do setor de apartamentos de luxo fez nascer um monstro: há um excesso de imóveis que não conseguem encontrar compradores. “A economia da China está atingindo um grande muro”, sintetiza.
O pessimismo do economista alerta para um desastre em cascata: conforme os inventários de apartamentos não vendidos continuem inchando, os bancos exigirão que os construtores paguem seus empréstimos. “Essas construtoras deixarão de comprar terrenos brutos dos governos locais, causando uma queda acentuada em suas receitas. As vendas de todos os materiais que vão para a construção de apartamentos cairão. Com isso, o governo “adotará um milhão de regulamentos para limitar as reduções de preços” e fornecerá salvamentos maciços para os financiadores.
Diante desse cenário, o economista prevê uma recessão que poderá se estender por até uma década no país, antevendo também que o crescimento do PIB dificilmente ultrapassará 2%. E o pior: em alguns anos, poderá se tornar negativo. Para Aliber, o balão chinês está mais cheio do que o que explodiu há 15 anos nos Estados Unidos. Se ele tiver razão, o mundo não deve demorar muito a ouvir o estalo.
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