Abdul Wahab Lark, terrorista islâmico ligado ao Tehrik-e Taliban Pakistan (TTP), popularmente conhecido como Taleban do Paquistão, foi morto por dois homens armados desconhecidos no último dia 22 de março, no Afeganistão. O anúncio foi feito pelo jornal paquistanês The Express Tribune.
Lark, também conhecido como Hakeem Ali Jan, Hakeem Saleh, Khushi Muhammad ou Gypsy Kandahar, é acusado de comandar diversos ataques terroristas em território paquistanês, sobretudo na província de Sinde. Antes de se unir ao TTP, ele era membro da organização curda Lashkar-e-Jhangvi Usman Saifullah.
Entre os ataques atribuídos a ele estão um que matou 53 pessoas e feriu outras 57 no dia 30 de janeiro de 2015 em um evento religioso xiita. Também são atribuídos a Lark diversos atentados contra as forças de segurança paquistanesas.
Em janeiro deste ano, o outro terrorista ligado ao TTP teria sido morto em território afegão, de acordo com o governo paquistanês. À época, o indivíduo foi identificado como Khalid Balti, também conhecido como Muhammad Khorasani, que já havia atuado como porta-voz do grupo extremista. O evento foi relatado na província de Nagarhar, região de forte atuação do Estado Islâmico-Khorasan (EI-K).
“Está claro que a pessoa que foi morta é Khalid Balti”, disse em janeiro um agente de segurança paquistanês que pediu para ter a identidade mantida em sigilo. Ele não soube informar as circunstâncias da morte do jihadista, mas confirmou que ela ocorreu perto da fronteira com o Paquistão. De acordo com a imprensa paquistanesa, Balti teria sido morto por homens armados não identificados, assim como Lark.
Por que isso importa?
Embora sigam os mesmos preceitos fundamentalistas e sejam ambos grupos sunitas, o Taleban afegão e o homônimo paquistanês são entidades separadas. Porém, o governo do Paquistão aproveitou sua proximidade com os talibãs do Afeganistão para iniciar negociações com o TTP. Eles chegaram a firmar um acordo de cessar-fogo no ano passado.
A trégua, porém, foi interrompida no dia 10 de dezembro de 2021, exatamente um mês após ter sido iniciada. Os extremistas do TTP acusaram Islamabad de não cumprir as promessas feitas antes do acordo, entre elas a libertação de prisioneiros e a formação de um comitê de negociações.
À época em que o cessar-fogo foi estabelecido, o ministro da Informação paquistanês, Fawad Chaudhry, confirmou a influência do Taleban do Afeganistão para que o acerto fosse possível, embora os grupos homônimos não tenham qualquer tipo de associação oficial.
A proximidade entre Islamabad e o Taleban sempre incomodou o Ocidente. Depois que os radicais conquistaram Cabul, consequentemente assumindo o governo do Afeganistão, o premiê paquistanês Imran Khan declarou que o grupo estava “quebrando as correntes da escravidão”, em vídeo reproduzido pelo jornal britânico The Independent.
Segundo o think tank norte-americano CFR (Conselho de Relações Estrangeiras, da sigla em inglês), uma forte razão para a proximidade entre Paquistão e Taleban é a questão territorial. “As autoridades paquistanesas estão preocupadas com a fronteira com o Afeganistão e acreditam que um governo do Taleban poderia aliviar suas preocupações”, diz a entidade, que destaca a disputa histórica entre os paquistaneses e a etnia pashtun do Afeganistão. “O governo do Paquistão acredita que a ideologia do Taleban enfatiza o Islamismo em vez da identidade pashtun”.
Nos EUA, são comuns as acusações de que o governo paquistanês não apenas dialoga com os talibãs afegãos, mas também os apoia e dá suporte. Segundo especialistas, o ISI, serviço de inteligência paquistanês, apoiou grupos militantes na região da Caxemira, disputada entre Paquistão e Índia. Entre eles, grupos que hoje figuram na lista de organizações terroristas do Departamento de Estado norte-americano.
O CFR ilustra essa desconfiança com uma entrevista do então secretário de Defesa dos Estados Unidos Robert Gates, concedida ao programa 60 Minutes, da rede CBS, em maio de 2009. Na ocasião, ele disse que “até certo ponto, eles jogam dos dois lados”, referindo-se ao ISI.
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