A legião de voluntários estrangeiros na defesa da Ucrânia contra a Rússia também tem brasileiros. Entre eles, Leanderson Paulino, que coleciona mais de 42 mil seguidores no Instagram, onde habitualmente publica fotos e vídeos feitos em território ucraniano. As publicações geraram polêmica na última semana, quando a base dele sofreu um ataque aéreo russo. Num dos posts, internautas do mundo todo usaram os comentários para acusar o brasileiro de denunciar sua localização através das imagens. Segundo um especialista ouvido pela reportagem de A Referência, porém, é improvável que isso tenha acontecido.
Tomasz Rolbiecki é analista de código aberto da empresa de segurança ExTrac, especializada em usar dados online para mapear a violência no mundo, com foco sobretudo em grupos extremistas. Parte do trabalho dele é determinar se vídeos e fotos divulgados por jihadistas foram realmente feitos nos locais e datas alegados pelos terroristas. Exatamente como teria ocorrido com os brasileiros.
Entretanto, segundo Rolbiecki, o caso do Instagram é excepcional e serve como álibi para o brasileiro. Tecnicamente, as imagens não poderiam ser usadas para geolocalizar a base porque o Instagram não usa os dados EXIF que possibilitam determinar o local onde a foto foi tirada.
Porém, Rolbiecki faz uma ressalva: “Se você estiver tirando fotos de forma imprudente, pode ser possível determinar a localização com base nos objetos visíveis em segundo plano”.
Foi exatamente esse o argumento de Leanderson em sua defesa. Nos stories da rede social, ele publicou o vídeo de um indivíduo não especificado, aparentemente um militar voluntário, que mostrava todo o entorno da base. O que poderia, como alertou Rolbiecki, dar brecha para a inteligência russa determinar a localização e atacar.
“Sei todos os procedimentos de segurança e não violamos nenhum”, disse o militar, que é nascido em Pernambuco, passou pouco mais de um ano no exército brasileiro e diz viver na Europa, onde teria trabalhado como bombeiro. “Até meu comandante falou que saímos nos jornais da Ucrânia para proteger o país contra os invasores russos”.
Quando ocorreu o bombardeio à base, os brasileiros já haviam saído de lá, por isso não ficaram feridos. Leanderson citou esse episódio ao dar outra possível justificativa para o bombardeio. “Pra quem não sabe, a gente pegou um espião russo na base três dias antes de partir pra missão. Ou seja, 5 dias depois de descobrir o espião teve o ataque”.
Por que isso importa?
A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.
O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.
“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.
Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.
Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.
De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.
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