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terça-feira, 29 de março de 2022

Por ideologia ou em busca de uma oportunidade, brasileiros reforçam as forças de defesa da Ucrânia

O brasileiro Saulo resolveu deixar o trabalho de policial militar em São Paulo para se juntar à legião estrangeira que ajuda a defender a Ucrânia na guerra contra a Rússia. Ele é um entre muitos brasileiros que viajaram ou planejam viajar ao país do leste europeu para enfrentar as tropas invasoras, segundo o jornal argentino em inglês Buenos Aires Times.

No caso de Saulo, a viagem foi rumo à Polônia, onde diz que outros brasileiros prometeram ajudá-lo a se unir aos demais combatentes em território ucraniano. Na bagagem, roupas camufladas, botas de combate, um coldre para pistola e uma faca. “Somente o essencial”, afirma ele, que também carrega uma bandeira do Brasil.

Kiev registrou até agora cerca de 20 mil estrangeiros, de 50 países diferentes, na Legião Internacional de Defesa do Território, criada pelo governo ucraniano para lutar contra o invasor. Saulo é um deles. “Eu me identifico com a causa, com o povo ucraniano que sofre a injustiça de um agressor estrangeiro. E quero ajudar a evitar a Terceira Guerra Mundial”, diz.

O brasileiro Leanderson Paulino (esq.) e outros dois voluntários na Ucrânia (Foto: reprodução/Instagram)

A passagem do ex-PM, somente de ida, foi comprada com dinheiro próprio, e ao viajar ele deixou no Brasil a mulher e duas crianças. Diz que tomou a decisão após ver imagens de edifícios civis bombardeados por tropas russas e de ouvir a convocação do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.

“Há o risco de eu não voltar. Quem passa por lá sabe disso, não somos criancinhas”, disse Saulo, cujo único medo é o conflito “se tornar uma guerra nuclear”.

Sem qualquer assistência

Para se juntar à legião estrangeira, a única exigência é experiência militar ou treinamento com armas de fogo. Entretanto, o cônsul da Ucrânia em São Paulo, Jorge Rybka, afirma que os combatentes não recebem “qualquer tipo de assistência” do governo ucraniano. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil, por sua vez, “enfaticamente desencoraja” a iniciativa.

Ainda assim, há muitos brasileiros dispostos a seguir o caminho de Saulo. Caso de Guilherme, de 29 anos, que já serviu ao exército brasileiro e à legião estrangeira francesa. Segundo ele, ir ao leste europeu combater as forças russas é uma “oportunidade”.

“As coisas estão difíceis aqui no Brasil”, disse Guilherme, que não usou o nome verdadeiro por uma questão de segurança. “Ajudar na Ucrânia é uma oportunidade. Temos que pensar no que podemos fazer para ajudar os outros neste mundo, e não apenas dizer ‘essa guerra não é minha’. Porque o mundo está acabando”.

Galvão é outro ex-militar brasileiro que viajou à Ucrânia e enxerga na guerra a chance de iniciar vida nova. “Desde que entrei para o exército ucraniano, faço parte desta nação e vou defendê-la até o fim”, disse o paulista, segundo quem os combatentes estrangeiros “são recebidos aqui de braços abertos, com felicidade e agradecimento”.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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