Antes mesmo de a guerra explodir na Ucrânia, Taiwan observava atentamente o desenrolar da tensão entre os dois países europeus. Com a efetiva agressão russa, no dia 24 de fevereiro, cresceu na ilha asiática o temor de sofrer uma invasão semelhante por parte da China, que reivindica como seu o território taiwanês e tem intensificado nos últimos anos a ameaça de usar a força para conter o discurso de independência na nação insular. As informações são do jornal francês Le Figaro.
Na televisão de Taiwan, desde a eclosão do conflito russo-ucraniano, tornou-se habitual a frase “Hoje Ucrânia, amanhã Taiwan“. E, claro, a opinião pública local pende para o lado da Ucrânia. “Há uma conexão emocional que nos une”, diz Chien Hung, estudante de ciências políticas que participou de um protesto em frente à Embaixada da Rússia em Taipé, um dia após o ataque de Moscou. “Somos uma pequena democracia diante de um poder muito grande”.
Entre os taiwaneses, há inclusive quem adote a estratégia de se voluntariar para reforçar as defesas nacionais, como têm feito milhares de civis ucranianos transformados em soldados em função da guerra. “Estou pensando cada vez mais em me alistar no exército”, afirma Kenneth Chen, um taiwanês de 30 anos.
A história de taiwaneses e ucranianos ajuda a aproximar as duas situações, vez que russos e chineses se inspiram no passado para reivindicar os Estados vizinhos como parte de seu próprio território. “Na mente dos nacionalistas de cada país, há semelhanças. Os chineses estão seguindo os passos do império Qing, enquanto os russos seguem os passos do império czarista”, diz Hugo Tierny, doutorando especializado em questões de segurança no Estreito de Taiwan. “Putin e Xi querem colocar seus nomes na história e esperam restaurar o brilho de seus países”.
Entretanto, Yu-Jen Kuo, diretor do think tank Instituto de Pesquisa de Políticas Nacionais (INPR), diz que as semelhanças não se estendem ao campo militar. Ele afirma que “as situações estratégicas de Ucrânia e Taiwan são realmente diferentes”. E, para o exército chinês, é muito mais difícil atacar uma ilha, vez que a China continental e o território taiwanês são separados pelo Estreito de Taiwan, um grande braço de mar.
O que também distancia os dois casos é o fato de Taiwan ser hoje a 22ª maior economia do mundo, o que tornaria uma invasão chinesa algo muito mais impactante para o Ocidente. Segundo Kuo, o país insular é “demasiado crucial para o comércio internacional”, o que aumentaria consideravelmente a possibilidade de os Estados Unidos agirem militarmente. Algo que não ocorreu na Ucrânia, ao menos até agora.
Por que isso importa?
Taiwan é uma questão territorial sensível para os chineses. Relações exteriores que tratem o território como uma nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio defendido de “Uma Só China“, que também encara Hong Kong como parte do território chinês.
Diante da aproximação do governo taiwanês com os Estados Unidos, desde 2020 a China tem endurecido a retórica contra as reivindicações de independência da ilha.
Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como quase todos os demais países, Washington é o maior financiador internacional e principal fornecedor de armas da ilha, o que causa imenso desgosto a Beijing, que tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação.
Para reforçar a posição de Beijing, jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que a China não aceitará a independência do território “sem uma guerra“.
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