O Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) rejeitou na noite de quarta-feira (23), em votação realizada em Nova York, uma resolução proposta pela Rússia sobre a situação humanitária na Ucrânia. Apenas os embaixadores russo e chinês votaram a favor do texto, enquanto todos os demais 13 membros do órgão se abstiveram.
O documento proposto “exigia proteção para os civis e pedia acesso total de ajuda humanitária na Ucrânia, além da passagem segura para outros países de ucranianos e de nacionais de países terceiros”. Porém, delegações de vários países denunciaram a medida como “uma tentativa de Moscou justificar suas agressões contra o país vizinho“.
Após a votação, a delegação da Rússia disse que não aprovar o texto estava “expondo todos que acreditam que a politização da questão humanitária é mais importante do que entregar ajuda aos vulneráveis”.
Em resposta, delegações de vários países denunciaram a resolução como “uma tentativa de esconder uma campanha de agressão brutal pós-invasão”, com a representação dos EUA afirmando inclusive ser “inconcebível” a Rússia propor um texto pedindo que a comunidade internacional resolva uma crise criada pelo próprio país.
A embaixadora norte-americana Linda Thomas-Greenfield disse que “a Rússia não se preocupa com a deterioração das condições humanitárias e com as milhões de vidas e os sonhos destruídos com a guerra”.
Embaixadores dos Estados Unidos e da França afirmaram que a resolução russa “esconde a real gravidade da situação”. Países como Noruega e México questionaram as intenções da Rússia em submeter o texto, já que é parte do conflito e não pode se apresentar como neutra.
O representante do Brasil afirmou que, embora o texto da Rússia proponha ações para o alívio humanitário, não se aprofunda em soluções para o conflito. O país seguiu se colocando à disposição para apoiar soluções pacíficas.
Sessão emergencial
Com o conflito na Ucrânia completando um mês neste dia 24 de março, a Assembleia Geral da ONU reabriu na quarta (23) a sessão emergencial sobre a crise na Ucrânia. Duas resoluções similares foram apresentadas às delegações dos Estados-membros da ONU, focando também na situação humanitária.
O primeiro texto, apresentado pela Ucrânia e por quase cem países-membros, denuncia o ataque da Rússia por criar uma “terrível situação humanitária”. A resolução pede, ainda, a criação de um corredor humanitário, exige o fim do conflito e a saída de todas as tropas.
O segundo texto, proposto pela África do Sul, pede que “todas as partes no conflito cessem imediatamente as hostilidades”, porém não faz nenhuma menção à Rússia.
Falando na Assembleia Geral, o embaixador da Ucrânia na ONU, Sergiy Kyslytsya, criticou o que chamou de “guerra injustificada” que “dividiu as vidas de milhões” de seus compatriotas, causando ainda um “desastre humanitário.”
Por sua vez, o embaixador russo Vasily Nebenzya disse que a proposta de resolução da Ucrânia traz uma visão “falsa sobre o que está acontecendo, ignorando as causas da crise e o papel do Ocidente em usar o país” para o que ele chamou de “um jogo geopolítico contra a Rússia“.
A votação das duas resoluções acontecerá nesta quinta-feira, no saguão da Assembleia Geral. Para serem adotadas, são necessários dois terços de votos a favor.
O Brasil se posicionou e reforçou a preocupação com os ucranianos, destacando as doações feitas e a abertura de fronteiras para refugiados. O país também falou sobre o agravamento da fome por conta do conflito e os potenciais consequências negativas das diversas sanções impostas à Rússia.
As resoluções votadas na Assembleia Geral não possuem efeitos legais e não existe possibilidade de veto. Os textos são usados para influenciar e refletir a posição da maioria dos Estados-membros.
Conteúdo adaptado do material publicado originalmente pela ONU News
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