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quinta-feira, 10 de março de 2022

Três homens são condenados por ligação com terroristas que mataram padre na França

Três homens que diziam servir ao Estado Islâmico (EI) foram julgados e condenados por conexão com o assassinato do padre Jacques Hamel, ocorrido em julho de 2016, em Saint-Etienne-du-Rouvray, no norte da França. As penas impostas aos acusados variam entre oito e 13 anos de prisão, segundo a Radio France Internationale (RFI).

O padre rezava uma missa na presença de quatro pessoas, sendo duas freiras, quando Adel Kermiche e Abdel Malik Nabil-Petitjean, de 19 anos, entraram na igreja armados com facas. Hamel foi colocado de joelhos e esfaqueado, com as demais pessoas mantidas como reféns na sequência. Ao libertar os reféns, a polícia atirou nos dois suspeitos, que morreram. De acordo com a polícia, havia marcas de 18 facadas no corpo do padre.

Os réus, Yassine Sebaihia, Farid Khelil e Jean-Philippe Steven Jean-Louis, estavam em prisão preventiva sob a acusação de terem participado da elaboração do ataque ou encorajado a ação.

Túmulo do padre Jacques Hamel, morto por seguidores do EI na França (Foto: Wikimedia Commons)

Jean-Louis pegou a pena mais longa, de 13 anos de prisão, enquanto Sebaihia cumprirá oito anos. Khelil, primo de Nabil-Petitjean, um dos terroristas mortos após o crime, foi condenado a dez anos.

O julgamento do trio durou cerca de um mês. Ao longo dos trabalhos, os acusados admitiram que se uniram a outros indivíduos com o objetivo de realizar ataques terroristas. A defesa, porém, tentou convencer o tribunal de que isso não os definia como terroristas.

Khelil, agora com 36 anos, diz se arrepender do envolvimento com extremistas, após passar seis anos encarcerado. “Eu carrego… não sei se posso dizer, mas eu carrego minha cruz. Carrego minha dor”, disse ele. “Eu mudei. Esses quase seis anos de prisão não foram em vão. Farei tudo para ser um bom pai, um bom cidadão, um bom homem. Como o padre Hamel foi”.

Um quarto indivíduo, Rachid Kassim, cidadão francês e notório recrutador a serviço do EI, foi julgado à revelia e condenado à prisão perpétua. Embora não haja informações confirmadas, acredita-se que ele tenha morrido no Iraque, em 2017, durante um ataque aéreo.

Por que isso importa?

Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.

Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.

De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.

A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.

Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.

“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.

Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.

No Brasil

Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.

Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.

Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.

Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.

Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.

“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.

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