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sexta-feira, 18 de março de 2022

Governo norte-americano reforça as acusações de crimes de guerra contra a Rússia na Ucrânia

Nos últimos dias, o governo dos EUA reforçou as acusações de crimes de guerra contra a Rússia na invasão da Ucrânia. Primeiro, o presidente Joe Biden, durante uma conversa com jornalistas, na quarta-feira (16), chamou o homólogo russo Vladimir Putin de “criminoso de guerra”. Na quinta (17), o Secretário de Estado Antony Blinken fez coro com o chefe, segundo a agência catari Al Jazeera.

“Ontem (quarta), o presidente Biden disse que, na opinião dele, crimes de guerra foram cometidos na Ucrânia. Pessoalmente, eu concordo”, disse Blinken na quinta-feira. “Alvejar intencionalmente civis é um crime de guerra. Depois de toda a destruição das últimas três semanas, acho difícil concluir que os russos estão fazendo o contrário”.

Segundo Blinken, que já havia denunciado crimes de guerra anteriormente, o Departamento de Estado reuniu um grupo de especialistas com a função de coletar evidências para endossar as acusações. A ideia é documentar os casos e fornecer posteriormente os dados aos órgãos internacionais responsáveis pelo julgamento dos responsáveis.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em julho de 2015 (Foto: Divulgação/Prachatai)

O chefe da diplomacia norte-americana não apenas endossou as palavras do presidente como prometeu que não haverá impunidade. “Quando eu digo que haverá responsabilização e consequências por quaisquer crimes de guerra que tenham sido cometidos, espero que aceitem minha palavra”, disse Blinken. “Mas as ações sempre falam mais alto que as palavras”.

Entre os muitos eventos que levaram a acusações contra Moscou, dois se destacam. Primeiro, o bombardeio de uma maternidade na cidade ucraniana de Mariupol. Mais recentemente, o ataque a um teatro na mesma cidade, que seria usado por civis como abrigo.

Na esteira desses ataques, Biden foi bastante duro em seus comentários contra Putin, a quem ele chamou de “um ditador assassino, um bandido puro que está travando uma guerra imoral contra o povo da Ucrânia”.

As declarações do chefe da Casa Branca foram devidamente respondidas pelo Kremlin, através do porta-voz Dmitry Peskov. Ele classificou a manifestação de Biden como “retórica inaceitável e imperdoável”, de acordo com a agência de notícias estatal russa Tass.

Civis bombardeados

Do lado ucraniano, as acusações de ataques a civis por tropas russas se acumulam. Kiev alega que o Teatro Dramático de Mariupol, bombardeado na quarta-feira (16), servia como refúgio para mulheres, algumas delas grávidas, e crianças, pois conta com um abrigo subterrâneo.

O legislador ucraniano Sergei Taruta usou sua conta no Facebook para publicar uma imagem dos danos causados ao teatro. “Quantas pessoas continuam debaixo das ruínas? Quantos feridos e mortos ali? Ninguém sabe”, disse ele.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, também se manifestou pelas redes sociais. “Outro crime de guerra horrendo em Mariupol. Massivo ataque russo ao Teatro Dramático, onde centenas de civis inocentes estavam escondidos. O edifício está agora totalmente em ruínas. Os russos não podiam saber que este era um abrigo civil? Salve Mariupol! Parem os criminosos de guerra russos!”, disse ele no Twitter.

O Ministério da Defesa russo negou o ataque ao prédio e acusou o Batalhão Azov, uma milícia ucraniana de extrema direita, de explodir o local, de acordo com a agência de notícias estatal russa RIA. Moscou, porém, não forneceu evidências para apoiar a alegação.

Já empresa privada Maxar publicou imagens de satélite que mostram a palavra “crianças” escrita em inglês (children) dos dois lados do prédio, numa tentativa de evitar ataques aéreos às instalações.

Por que isso importa?

A escalada de tensão entre Rússia e Ucrânia, que culminou com a efetiva invasão russa ao país vizinho no dia 24 de fevereiro, remete à anexação da Crimeia pelos russos, em 2014, e à guerra em Donbass, que começou naquele mesmo ano e se estende até hoje.

O conflito armado no leste da Ucrânia opõe o governo central às forças separatistas das autodeclaradas Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que formam a região de Donbass e foram oficialmente reconhecidas como territórios independentes por Moscou. Foi o suporte aos separatistas que Putin usou como argumento para justificar a invasão, classificada por ele como uma “operação militar especial”.

“Tomei a decisão de uma operação militar especial”, disse Putin pouco depois das 6h de Moscou (0h de Brasília) de 24 de fevereiro, de acordo com o site independente The Moscow Times. Cerca de 30 minutos depois, as primeira explosões foram ouvidas em Kiev, capital ucraniana, e logo em seguida em Mariupol, no leste do país, segundo a agência AFP.

Desde o início da ofensiva, as forças da Rússia caminham para tentar dominar Kiev, que tem sido alvo de constantes bombardeios. O governo da Ucrânia e as nações ocidentais acusam Moscou de atacar inclusive alvos civis, como hospitais e escolas, o que pode ser caracterizado como crime de guerra ou contra a humanidade.

Fora do campo de batalha, o cenário é desfavorável à Rússia, que tem sido alvo de todo tipo de sanções. Além das esperadas punições financeiras impostas pelas principais potencias globais, que já começaram a sufocar a economia russa, o país tem se tornado um pária global. Representantes russos têm sido proibidos de participar de grandes eventos em setores como esporte, cinema e música.

De acordo com o presidente dos EUA, Joe Biden, as punições tendem a aumentar o isolamento da Rússia no mundo. “Ele não tem ideia do que está por vir”, disse o líder norte-americano, referindo-se ao presidente russo Vladimir Putin. “Putin está agora mais isolado do mundo do que jamais esteve”.

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