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sábado, 19 de março de 2022

China se aproxima de governos regionais para aumentar sua influência na América do Sul

Enquanto o mundo observa o aumento dos investimentos e o consequente crescimento da influência da China na África e na Ásia, um processo semelhante ocorre quase sem ser notado na América do Sul. A diferença é que, no continente sul-americano, em vez de focar no governos nacionais, Beijing atua em parceira com gestores regionais, algo que pode ser notado especialmente no Brasil e na Argentina, segundo o jornal South China Morning Post.

Somente em 2019, pelo menos oito governadores brasileiros e quatro vice-governadores viajaram para a China. No caso da Argentina, a proximidade vale tanto para o governo federal quanto para os estaduais. Em setembro de 2019, Zou Xiaoli, embaixador da China em Buenos Aires, disse que o impulso de infraestrutura dado pela China ajudou a inserir a América Latina no mercado global. “A China dará um forte apoio ao desenvolvimento econômico e social da Argentina”, disse ele.

Governador de São Paulo, João Doria, em seminário em Beijing (Foto: Flickr/Governo de SP)

A ofensiva chinesa colocou em alerta os Estados Unidos, historicamente os mais influentes na América Latina, costumeiramente descrita como “quintal dos EUA“. Washington alerta que comprar tecnologia chinesa é um risco, vez que empresas controladas por Beijing podem ser usadas para fins tanto civis quanto militares, inclusive como armas de espionagem.

Entretanto, Cynthia Arnson, diretora do programa latino-americano do Wilson Center, um think tank de Washington, diz que não basta alertar os sul-americanos para os riscos oferecidos pela China. “Devemos fornecer alguma alternativa”, diz ela. “Dólar por dólar, os EUA nunca serão capazes de igualar os bolsos profundos dos bancos de investimento chineses”.

Tal situação cabe perfeitamente na província de Jujuy, perto dos Andes, uma das mais pobres da Argentina e onde a China financiou um dos maiores parques de geração de energia solar da América Latina. “Muitos funcionários do governo me disseram que o que estávamos falando, sobre um parque solar de 300 megawatts, era impossível”, disse o secretário de Energia local, Mario Pizarro. “Hoje não é mais um sonho, mas uma realidade. O céu é o limite”.

Quintal da China

No caso específico da América do Sul, a China já superou os EUA em acordos de comércio. Algo que pode ser notado especificamente no Brasil, no Chile e no Peru, que têm em Beijing seu maior parceiro comercial. Por exemplo, a State Grid Corporation of China é responsável pelo fornecimento de energia elétrica para mais de dez milhões de lares brasileiros. Na Colômbia, uma empresa chinesa encabeça o grupo que está construindo o metrô de Bogotá. Já a Argentina anunciou, em fevereiro deste ano, um investimento chinês de US$ 24 bilhões em projetos de infraestrutura.

O estreitamento das relações levou o presidente chinês Xi Jinping a fazer 11 visitas à América Latina desde que assumiu o cargo, em 2012. Como base de comparação, Barack Obama fez 12 visitas, e Donald Trump, uma.

Embora ainda não tenha visitado a região, em setembro de 2021 o presidente Joe Biden, despachou equipes diplomáticas para a América do Sul com o objetivo de levar sua iniciativa Build Back Better (Reconstruir Melhor, em tradução livre), que começou como um plano para reconstruir os EUA depois da Covid-19 e tornou-se global sob a marca Build Back Better World ou BW3.

Mas a resposta norte-americana não se limita à diplomacia. A fim de afastar a China, Washington fez um empréstimo de US$ 3,5 bilhões ao Equador em 2021, dinheiro destinado a pagar uma dívida com Beijing. A condição: que o governo equatoriano deixasse de investir em tecnologia essencial produzida pela China.

Presidente argentino Alberto Fernández e Xi Jinping: Nova Rota da Seda (Foto: Casa Rosada/Divulgação)

China x Brasil

Maior parceiro comercial do Brasil, a China foi peça importante da disputa política entre o presidente Jair Bolsonaro e o governador de São Paulo, João Doria. Shangai foi a cidade escolhida por Doria para abrigar o primeiro escritório de comércio exterior do Estado em outro país, o que permitiu o acordo para fabricação da vacina contra Covid-19 CoronaVac.

Inicialmente, o presidente brasileiro, um notório opositor de Beijing, contestou a vacina, tratada como insegura. Mas acabou cedendo, e no início de 2021 encomendou à China novas doses e material para produção de vacinas. “A posição da China é: não me importo se seu presidente me odeia ou não”, diz Thiago de Aragão, chefe de estratégia da consultoria política brasileira Arko Advice. “É extremamente pragmático”.

Segundo Oliver Stuenkel, professor de relações internacionais da Fundação Getúlio Vargas, a relação com a China deve ser analisada pelo prisma da necessidade. “Você realmente não pode se dar ao luxo de pensar em possíveis resultados negativos no futuro se tiver que enfrentar um problema muito urgente bem na sua frente”.

Também ajuda o fato de que a própria China não costuma se atentar muito para os riscos que eventuais acordos oferecem. “A economia da Argentina é tão calamitosa que apenas aventureiros como a China podem fazer negócios aqui”, diz Carlos Oehler, ex-presidente da empresa de energia e mineração de Jujuy, a Jemse.

Por que isso importa?

A América Latina tornou-se parte fundamental do projeto de expansão da influência global chinesa, com os países da região estreitando cada vez mais seus laços com Beijing. Setores como os de mineração e de produção e distribuição de energia têm crescente investimento chinês e se destacam na parceira.

A China tem importado de países latino-americanos cerca de 75% do minério de ferro comercializado no mundo e cerca de 60% de seu minério de cobre. As fornecedoras são nações que aderiram ao projeto “Nova Rota da Seda” (Belt and Road Iniciative, da sigla em inglês BRI), iniciativa lançada pelo governo Xi Jinping em 2015 que financia projetos de infraestrutura no exterior em quase 70 países.

Nos últimos 20 anos, o comércio bilateral cresceu 25 vezes, de US$ 12 bilhões em 1999 para US$ 306 bilhões em 2018, colocando a China como o segundo maior parceiro comercial da América Latina, atrás dos Estados Unidos.

De acordo com o Conselho do Atlântico, com sede nos EUA, o Panamá, em novembro de 2017, tornou-se o primeiro país latino-americano a endossar oficialmente a BRI, cinco meses após ter trocado os laços diplomáticos de Taiwan pelos da China. Nos dois anos seguintes, 18 dos 33 países da região adeririam à BRI. A Argentina é a mais recente integrante do projeto, que tem como exceções Brasil, Colômbia e México, responsáveis por quase 70% do PIB da América Latina e ausentes da iniciativa.

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