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terça-feira, 29 de março de 2022

Taleban censura transmissões de emissoras de TV e rádio ocidentais no Afeganistão

A repressão colocada em prática pelo Taleban desde que assumiu o governo no Afeganistão, em agosto do ano passado, chegou à imprensa estrangeira. Duas redes de comunicaçã europeias, a alemã Deutsche Welle (DW) e a britânica BBC, além da norte-americana Voice of America (VOA), foram censuradas no país nos últimos dias.

Segundo a DW, a censura atinge um talk show de política retransmitido pela emissora de TV Tolo News, bem como programas científicos exibidos pelas emissoras locais Ariana TV e Shamshad. “As crescentes restrições à liberdade de imprensa e à liberdade de expressão no Afeganistão são muito preocupantes”, disse o diretor-geral da rede alemã, Peter Limbourg.

No caso da BBC, a repressão tem como alvo boletins jornalísticos transmitidos no rádio. “Este é um desenvolvimento preocupante em um momento de incerteza e turbulência para o povo do Afeganistão”, disse a rede britânica em comunicado.

Por sua vez, a censura à VOA foi confirmada pelo porta-voz do Taleban Abdul Haq Hammad.

Reunião de líderes do governo talibã no Afeganistão (Foto: twitter.com/IeaOffice)

De acordo com Tarik Kafala, chefe do serviço global da BBC, mais de 6 milhões de afegãos consomem o “jornalismo independente e imparcial” da rede. “Pedimos ao Taleban que reverta sua decisão e permita que nossos parceiros retornem imediatamente com os boletins de notícias da BBC para suas ondas de rádio”, disse Kafala, em comunicado publicado no Twitter pela âncora da emissora Yalda Hakim.

Hakim também usou sua conta na rede social para contestar a repressão, citando inclusive a recente proibição de meninas frequentarem a escola no país. “A repressão e a intimidação de jornalistas continuam no Afeganistão. O Taleban esteve muito ocupado neste fim de semana; impedir que as adolescentes voltem à escola, dizer às mulheres quando podem levar seus filhos aos parques, impedir que a BBC e a VOA transmitam”.

Por que isso importa?

O trabalho jornalístico tem sido seriamente afetado pela repressão imposta pelo Taleban no Afeganistão. Ao menos seis pessoas foram presas pelo grupo radical em 2022 por serem jornalistas ou colaborarem com profissionais da área. No dia 6 de janeiro, três repórteres foram detidos enquanto trabalhavam na cobertura de manifestações contra o Taleban na província de Panjshir. Eles estavam a serviço de um canal no YouTube chamado Kabul Lovers, com aproximadamente 244 mil inscritos.

Em outro caso registrado neste ano, o Taleban prendeu Faizullah Jalal, professor de Direito e ciência política da Universidade de Cabul, em 8 de janeiro. Ele foi detido por quatro dias sob acusações de fazer declarações “sem sentido” e “incitar” pessoas contra os talibãs. Depois de solto, Jalal disse ter sido preso por ter discutido com um porta-voz talibã em um debate na televisão. Aslam Ejab e Waris Hasrat, da Ariana TV, foram outras vítimas confirmadas da repressão talibã à mídia.

Números mostram que o jornalismo afegão tem sido sufocado pelo Taleban. Em dezembro de 2021, uma pesquisa conduzida em parceria pela ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) e pela Associação de Jornalistas Independentes do Afeganistão (AIJA) apontou que 231 veículos de imprensa foram fechados e mais de 6,4 mil jornalistas perderam o emprego no Afeganistão desde o dia 15 de agosto, quando o Taleban assumiu o poder no país.

Os dados apontam que mais de quatro em cada dez veículos de comunicação desapareceram nesse período, e 60% dos jornalistas e funcionários da mídia estão impossibilitados de trabalhar. As mulheres sofreram muito mais: 84% delas perderam o emprego, contra 52% no caso dos homens. Entre as 34 províncias do país, em 15 delas não há sequer uma mulher jornalista trabalhando atualmente.

Dos 543 meios de comunicação registrados no Afeganistão antes da ascensão talibã, apenas 312 ainda operavam no final de novembro. Isso significa que 43% dos meios de comunicação afegãos sumiram em um espaço de três meses. Das 10.790 pessoas que trabalhavam na mídia afegã (8.290 homens e 2.490 mulheres) no início de agosto, apenas 4.360 (3.950 homens e 410 mulheres) ainda estavam trabalhando quando a pesquisa foi realizada.

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