O Estado Islâmico (EI) assumiu a autoria de um atentado que matou dois policiais na cidade de Hadera, no norte de Israel, no domingo (27). Dois homens portando armas de fogo dispararam contra os agentes de segurança antes de serem mortos pela polícia. As informações são do jornal português Público.
As vítimas do ataque são um homem e uma mulher, ambos agentes de controle de fronteira. Imagens de câmeras de segurança registraram a ação, que terminou quando dois policiais que jantavam em um restaurante da região reagiram e neutralizaram os terroristas.
O grupo jihadista assumiu a autoria através de seu canal no Telegram, e posteriormente a polícia local confirmou o fato de que os agressores eram simpatizantes do grupo. Ambos eram palestinos de Israel, mais precisamente da cidade de Umm el-Fahm.
Ataques seguidos
Este foi o segundo ataque empreendido por palestinos em Israel em menos de uma semana. Na terça-feira passada (22), um homem foi morto a tiros depois de esfaquear e matar quatro pessoas na cidade de Bersebá (Be’er Sheva, em hebraico), no sul do país.
Na ocasião, a imprensa local identificou o agressor como Ahmed al-Qiaan, um professor palestino de 33 anos da cidade israelense de Hura. Em 2015, ele foi condenado a quatro anos de prisão acusado de ligação com o EI, embora o grupo não tenha assumido a autoria do ataque da semana passada.
Primeiro, al-Qiaan usou o carro para atingir um ciclista. Depois, desceu do veículo e esfaqueou cinco pessoas que estavam das proximidades. Mais tarde, foi morto por um civil que presenciou a ação e estava armado. Um segundo civil ajudou a conter o terrorista, ação filmada e reproduzida nas redes sociais.
Embora não tenha assumido a autoria daquele ataque, o Hamas, grupo jihadista que governa a Faixa de Gaza ocupada, elogiou o ataque. O porta-voz da organização, Abdel-Latif al-Qanou, disse que “os crimes cometidos pela ocupação” contra o povo palestino só podem ser enfrentados com tais “atos heroicos”.
As ações dos últimos dias ocorrem às vésperas do início do Ramadan , o mês sagrado dos muçulmanos. No ano passado, o período foi marcado por protestos que levaram a confrontos entre a polícia de Israel e a comunidade muçulmana, desencadeando também um conflito de 11 dias entre o Hamas e Tel-Aviv.
O primeiro-ministro israelense Naftali Bennett disse em comunicado que as forças de segurança estão mobilizadas mediante a ameaça extremista, segundo o jornal Times of Israel.
“Um segundo ataque de apoiadores do Estado Islâmico em Israel exige que as forças de segurança se adaptem rapidamente a uma nova ameaça, e eles o fizeram”, disse Bennett. “Peço aos cidadãos que continuem vigilantes. Juntos, também seremos capazes de derrotar esse inimigo.”
Por que isso importa?
Nos últimos anos, o EI se enfraqueceu financeira e militarmente. Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que ela dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos, quase sempre focados em agentes do governo. Já as FDS (Forças Democráticas Sírias), uma milícia curda apoiada pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pela organização extremista na Síria.
Em janeiro deste ano, o grupo sofreu mais um duro golpe quando o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção. Durante uma operação antiterrorismo dos EUA na Síria, ele explodiu uma bomba que carregava junto ao corpo, matando também mulheres e crianças que o acompanhavam. O evento foi semelhante a outro, em 2019, que terminou com a morte do líder anterior da organização extremista, Abu Bakr al-Baghdadi.
De acordo com um relatório do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas) publicado em fevereiro de 2022, as perdas territoriais e de pessoal transformaram o EI, que antes controlava boas partes da Síria e do Iraque, em “uma insurgência principalmente rural, resistindo à pressão antiterrorista sustentada pelas forças da região”.
A pandemia também continua a ser um desafio, pois impede as “viagens transfronteiriças, diminuindo as ameaças decorrentes de fluxos de combatentes em zonas de conflito e viagens terroristas mais amplas em zonas de não conflito”. Por outro lado, a estagnação do terrorismo em meio à onda de Covid-19 aumenta as “oportunidades de recrutamento e radicalização online”, criando a perspectiva de uma retomada futura das ações extremistas globais.
Outro risco que o grupo oferece é a presença de milhares de ex-combatentes em prisões e campos de deslocados em várias partes do mundo. Devolvê-los a seus países de origem e processá-los judicialmente é um desafio para os Estados-Membros da ONU, e os estabelecimentos que abrigam os extremistas são um potencial alvo de ataques para o EI. Exatamente como ocorreu na prisão de Ghwayran, na cidade de al-Hasakah, na Síria, invadida pelo grupo com a meta de libertar seguidores.
“Devido à capacidade severamente degradada, a sobrevivência futura do EI depende de sua capacidade de reabastecer as fileiras por meio de tentativas mal concebidas, como o ataque a Hasakah”, afirmou o major-general norte-americano John W. Brennan Jr., comandante da força de coalização liderada pelos EUA para combater o EI. Segundo ele, a ação na prisão síria gerou enorme prejuízo ao grupo terrorista, que “sentenciou à morte muitos dos seus que participaram deste ataque”.
Atualmente, o principal reduto do EI é o continente africano, onde consegue se manter relevante graças ao recrutamento online e à ação de grupos afiliados regionais. A expansão do grupo em muitas regiões da África desde o início de 2021 é alarmante e pode marcar sua retomada de força. No Sudeste Asiático, ao contrário, os países da região têm obtido sucesso significativo em interromper o terrorismo de facções afiliadas.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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