Informações provenientes da China indicam que a gigante chinesa das telecomunicações Huawei tem ajudado o governo da Rússia a estabilizar sua internet em meio aos seguidos ciberataques realizados contra o país desde a invasão da Ucrânia. As informações são do jornal britânico Daily Mail.
Hackers de todo o mundo têm realizado frequentes ataques digitais contra organizações estatais russas desde o início da guerra, o que tornou o serviço de internet instável no país. Na semana passada, o grupo Anonymous, um dos mais famosos do mundo, atacou organizações estatais de mídia russas, que exibiram em suas páginas principais uma lápide, em referência aos milhares de mortos no conflito.
Segundo dados extraoficiais, a Huawei tem cinco centros de pesquisa na Rússia. Recentemente, uma notícia publicada em um site chinês, que posteriormente foi apagada, afirmava que a empresa pretende treinar 50 mil especialistas desses centros para atuarem a serviço de Moscou.
A questão chegou ao parlamento britânico através de Iain Duncan-Smith, do Partido Conservador. Ele voltou a contestar a presença da Huawei no Reino Unido, que se mantém mesmo depois do veto à companhia na futura rede 5G do país. “É muito provável que agora eles estejam ocupados ajudando esse regime despótico na Rússia”, disse ele.
Duncan-Smith pediu sanções à empresa chinesa. “Deve haver uma investigação completa. Se estamos sancionando os oligarcas que ajudaram Putin, devemos olhar para as empresas que também ajudam Putin”, disse o político, segundo quem a posição de Beijing foi determinante para a guerra. “Se a Rússia pensasse por um momento que a China iria quebrar a hierarquia, eles não teriam invadido a Ucrânia”.
A acusação contra a gigante da tecnologia foi reforçada por Peter Dutton, membro do parlamento australiano e atualmente ministro da Defesa do país. “Na verdade, estamos vendo relatos hoje de que a Huawei, uma empresa de telecomunicações chinesa, está fornecendo suporte à Rússia para manter sua internet”, disse ele à TV australiana.
O parlamentar afirmou que os relatórios são “profundamente preocupantes”, quando “todos os outros países responsáveis do mundo estão procurando maneiras de sancionar e parar de negociar com a Rússia”.
Por que isso importa?
Há uma desconfiança global que recai sobre a Huawei, baseada em teorias sobre sua proximidade com o governo chinês. Autoridades ocidentais citam a Lei de Inteligência Nacional da China, de 2017, segundo a qual as empresas nacionais devem “apoiar, cooperar e colaborar com o trabalho de inteligência nacional”, o que poderia forçar particularmente a gigante da tecnologia a trabalhar a serviço do Partido Comunista Chinês (PCC).
Em 2020, parlamentares britânicos afirmaram em um relatório que a Huawei está “fortemente ligada ao Estado e ao PCC, apesar de declarações em contrário”. Diante disso, a empresa tem enfrentado crescente desconfiança na construção de redes 5G em todo o mundo, com a implantação rejeitada em vários países. Austrália, Nova Zelândia, Portugal, Índia, EUA e Reino Unido baniram a infraestrutura da companhia por medo de ser usada para espionagem.
As especulações referentes aos produtos de vigilância da Huawei ganharam força no final de 2021 em meio a temores na China e no mundo sobre as consequências do uso maciço do reconhecimento facial e de outros métodos de rastreamento biométrico. E, ao mesmo tempo em que o PCC continua a confiar em tais ferramentas para erradicar a dissidência e manter seu regime de partido único, ele alerta sobre o uso indevido de tecnologias no setor privado.
Em 2021, após pressão de Beijing, a Huawei e outros gigantes da tecnologia foram compelidas a não abusar do reconhecimento facial e de outras ferramentas de vigilância, após uma nova lei de proteção de dados pessoais entrar em vigor. Mas o veto vale apenas para o setor privado. No setor público, o jornal The Washington Post revelou em dezembro que a ligação da Huawei com o aparato chinês de vigilância governamental é maior que o imaginado.
Os dados aparecem em uma apresentação de Power Point que estava disponível no site da empresa e foi removida. Repleto de itens “confidenciais”, o arquivo mostra como a tecnologia da empresa pode ajudar Beijing a identificar indivíduos por voz, monitorar pessoas de interesse, gerenciar reeducação ideológica, organizar cronogramas de trabalho para prisioneiros e rastrear compradores através do reconhecimento facial.
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