Um comunicado divulgado na segunda-feira (7) pelo exército da França diz que um dos líderes da Al-Qaeda no Magreb africano foi morto em uma operação das forças de contraterrorismo francesas no Mali. As informações são da rede France 24.
De acordo com os militares, Yahia Djouadi, também conhecido como Abu Ammar al-Jazairi, era argelino e foi morto durante uma operação realizada na madrugada entre os dias 25 e 26 de fevereiro, ao norte de Timbutku. A operação envolveu ataque aéreo e depois terrestre.
A morte dele “mais uma vez enfraquece a governança da Al-Qaeda” no Mali, diz o comunicado, que classifica o jihadista como “um importante elo no norte do Mali e especialmente na área de Timbuktu” entre a Al-Qaeda e o o GSIM (Grupo de Suporte ao Islã e aos Muçulmanos), facção da organização terrorista e maior aliança jihadista do Sahel.
Djouadi, que antes atuava na Líbia, chegou ao Mali em 2019 e atuou na coordenação das finanças e logística da Al-Qaeda no país.
Retirada de tropas
Principal aliado ocidental do Mali, a França marca presença militar no país há quase nove anos, período no qual foi determinante para acabar com o domínio de grupos extremistas sobretudo na região norte do país. Desde o ano passado, porém, as forças armadas francesas iniciaram um processo de retirada do país, devido a um desacerto entre os governos francês e malinês.
Uma das razões foi a decisão do coronel Assimi Goita, que assumiu o poder no golpe de Estado de fevereiro de 2021, de firmar um acordo para contratação dos mercenários russos do Wagner Group, misteriosa organização paramilitar privada acusada de crimes de guerra em conflitos dos quais participou em diversas partes do mundo.
“Wagner é uma milícia notória na Síria e na República Centro-Africana por ter cometido abusos e todos os tipos de violações que não correspondem a nenhum solução, e por isso é incompatível com a nossa presença”, disse o ministro das Relações Exteriores francês, Jean-Yves Le Drian.
Também pesou contra a colaboração entre os dois governos a possibilidade levantada diversas vezes por Goita de abrir negociações com grupos terroristas, decisão rejeitada por Paris.
A retirada de tropas deve se estender por mais seis meses, período pelo qual o exército diz que “as operações continuam contra grupos terroristas armados, especialmente contra os principais líderes da Al-Qaeda, GSIM e o grupo Estado Islâmico no Grande Saara (EIGS)”.
Por que isso importa?
Ações antiterrorismo globais têm enfraquecido os dois principais grupos terroristas do mundo, o EI e a Al-Qaeda. Já a pandemia de Covid-19 fez cair o número de ataques em regiões sem conflito, devido a fatores como as limitações impostas às viagens internacionais e a redução do número de pessoas em áreas públicas.
Na tentativa de manter a relevância, as organizações jihadistas têm investido em zonas de conflito, como o continente africano, e isso pode causar um impacto a curto prazo na segurança global, conforme as regras de restrição à circulação são afrouxadas.
O EI, em particular, se enfraqueceu militar e financeiramente, vitimado pela má gestão de fundos por parte de seus líderes e sufocado pelas sanções econômicas internacionais. Porém, a organização ganhou sobrevida graças ao poder de recrutar seguidores online. Atualmente, as ações do EI são empreendidas quase sempre por atores solitários ou pequenos grupos que foram radicalizados e incitados através da internet.
Em 2017, o exército iraquiano anunciou ter derrotado a organização no país, com a retomada de todos os territórios que o EI dominava desde 2014. O grupo, que chegou a controlar um terço do Iraque, hoje mantém apenas células adormecidas que lançam ataques esporádicos. Já as Forças Democráticas Sírias (FDS), apoiadas pelos EUA, anunciaram em 2019 o fim do “califado” criado pelos extremistas no país.
Em janeiro deste ano, o exército norte-americano anunciou ter matado Amir Muhammad Sa’id Abdal-Rahman al-Mawla, principal líder da facção, durante uma operação antiterrorismo na Síria. Foi mais um duro golpe contra o EI, que em 2019 havia perdido o líder anterior, Abu Bakr al-Baghdadi.
Assim, o principal reduto do EI tornou-se o continente africano, onde conseguem se manter relevante graças à ação de grupos afiliados regionais, como Al-Shabaab, ISWAP, EIGS e Boko Haram. A expansão em muitas regiões da África é alarmante e pode marcar a retomada de força global da organização, algo que em determinado momento tende refletir em regiões sem conflito, como Europa e Estados Unidos, alvos preferenciais de ataques terroristas.
A Al-Qaeda, por sua vez, passou a contar com um forte aliado no Afeganistão, que desde a tomada de poder pelo Taleban abriu as portas do país para os extremistas do grupo. Grupos afiliados à organização terrorista também continuam a controlar o noroeste da Síria, na área de Idlib.
No Brasil
Casos mostram que o Brasil é um porto seguro para extremistas. Em dezembro de 2013, levantamento do site The Brazil Business indicava a presença de ao menos sete organizações terroristas no Brasil: Al Qaeda, Jihad Media Battalion, Hezbollah, Hamas, Jihad Islâmica, Al-Gama’a Al-Islamiyya e Grupo Combatente Islâmico Marroquino.
Em 2001, uma investigação da revista VEJA mostrou que 20 membros terroristas de Al-Qaeda, Hamas e Hezbollah viviam no país, disseminando propaganda terrorista, coletando dinheiro, recrutando novos membros e planejando atos violentos.
Em 2016, duas semanas antes do início dos Jogos Olímpicos no Rio, a PF prendeu um grupo jihadista islâmico que planejava atentados semelhantes aos dos Jogos de Munique em 1972. Dez suspeitos de serem aliados ao Estado Islâmico foram presos e dois fugiram.
Mais recentemente, em dezembro de 2021, três cidadãos estrangeiros que vivem no Brasil foram adicionados à lista de sanções do Tesouro Norte-americano. Eles são acusados de contribuir para o financiamento da Al-Qaeda, tendo inclusive mantido contato com figuras importantes do grupo terrorista.
Para o tenente-coronel do Exército Brasileiro André Soares, ex-agente da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), o anúncio do Tesouro causa “preocupação enorme”, vez que confirma a presença do país no mapa das organizações terroristas islâmicas.
“A possibilidade de atentados terroristas em solo brasileiro, perpetrados não apenas por grupos extremistas islâmicos, mas também pelo terrorismo internacional, é real”, diz Soares, mestre em operações militares e autor do livro “Ex-Agente Abre a Caixa-Preta da Abin” (editora Escrituras). “O Estado e a sociedade brasileira estão completamente vulneráveis a atentados terroristas internacionais e inclusive domésticos, exatamente em razão da total disfuncionalidade e do colapso da atual estrutura de Inteligência de Estado vigente no país”. Saiba mais.
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