A junta que governa Mianmar desde o golpe de Estado de fevereiro tem a Rússia como principal fornecedora de equipamento militar. A revelação teria sido feita na terça-feira (20) por Alexander Mikheev, chefe da Rosoboronexport, empresa estatal russa de exportação de armamento, segundo a agência Reuters.
“Há uma estreita cooperação entre nós no fornecimento de produtos militares, incluindo aeronaves”, disse Mikheev, em afirmação atribuída à agência de notícias russa Interfax. Segundo ele, Mianmar é um dos principais clientes da empresa no sudeste asiático e parceiro-chave da Rostec, conglomerado russo aeroespacial e de defesa.
O comentário teria sido feito durante o Moscow Airshow 2021 (MAKS), uma feira internacional de aviação que teve a presença inclusive do presidente Vladimir Putin. E a revelação gerou reações de ativistas pelos direitos humanos, que acusam Moscou de legitimar a junta em meio à violenta repressão.
Em junho, durante uma reunião com o ministro da Defesa russo Sergey Shoygu, o general que comanda a junta militar em Mianmar, Min Aung Hlaing, havia dito que “graças à Rússia, nosso exército se tornou um dos mais fortes da região”, de acordo com a agência estatal Tass. Segundo ele, a amizade entre os dois países é “cada vez mais forte”.
Os laços entre os países ainda incluem bolsas universitárias para milhares de soldados de Mianmar.
Cronologia do golpe
Mianmar enfrenta “uma campanha de terror com força brutal”, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas). A repressão imposta pelo governo já causou a morte de ao menos 900 pessoas desde o golpe, que ocorreu após as eleições presidenciais de novembro de 2020.
Na ocasião, a NLD (Liga Nacional pela Democracia) venceu as eleições com 82% dos votos, ainda mais do que havia obtido no pleito de 2015. Em fevereiro deste ano, a junta militar, que já havia impedido o partido de assumir o poder antes, derrubou e prendeu a presidente eleita Aung San Suu Kyi.
O golpe deu início a protestos no país, respondidos com violência pelas forças de segurança nacionais. Centenas de pessoas foram presas sem indiciamento ou julgamento prévio, e muitas famílias continuam à procura de parentes desaparecidos. Jornalistas e ativistas são atacados deliberadamente, e serviços de internet têm sido interrompidos.
Mais recentemente, o governo declarou guerra a médicos e demais trabalhadores da saúde. As forças de segurança têm prendido, agredido e até matado os profissionais da área, considerados inimigos da junta que governa o país.
“Os ataques ao sistema de saúde são encarados como uma arma de guerra da junta”, declarou um médico em fuga há meses, cujos colegas de clínica foram presos. “Acreditamos que tratar os pacientes, fazendo nosso trabalho humanitário, é um trabalho moral, não um crime”.
Os médicos entraram na mira da junta porque são respeitados pela população e extremamente bem organizados, com sindicatos e grupos profissionais atuantes. Desde o o golpe eles formam uma forte oposição ao governo militar, e atualmente são voz importante para denunciar e combater os abusos.
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