Os conflitos na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, deixaram mais de 750 mil pessoas na dependência de ajuda humanitária. A região está sob controle do Estado Islâmico (EI), e as forças nacionais de segurança aguardam apoio militar estrangeiro para tentar derrotar a milícia jihadista.
A ONU (Organização das Nações Unidas) estima que cerca de US$ 121 milhões sejam necessários para apoiar 750 mil pessoas na região de Cabo Delgado, até o final deste ano. O Programa Mundial de Alimentos, PMA, adverte que, sem o dinheiro, “uma das crises de deslocamento de crescimento mais rápido no norte de Moçambique corre o risco de se tornar uma emergência de fome”.
“O conflito destruiu os empregos, as vidas e as esperanças dos moçambicanos para o futuro. Os insurgentes destruíram famílias, queimando suas casas, traumatizando crianças e matando pessoas”, disse no mês passado o chefe do PMA, David Beasley.
Entidades assistenciais
Em meio à crise humanitária, entidades locais se desdobram para dar suporte à população local e aos deslocados. Uma delas é a Ajudemu (Associação Juvenil para o Desenvolvimento de Murrupula), criada em 2007 no distrito de Murrupula. O grupo promove políticas de combate à pobreza e presta assessoria jurídica na região, além de oferecer saúde, educação e assistência social.
“Os afetados perderam parentes, bens materiais, perderam praticamente as suas vidas”, diz Iassito Mohamede Kamuedo, diretor-geral da Ajudemu. “Queremos oferecer um novo começo. Sabemos que essas pessoas estão em uma nova realidade, e, para que sejam inseridas nesta nova realidade, precisam de uma base para começar”.
Atualmente o projeto atende a 30 refugiados, com 15 pessoas em cada um dos cursos. Um dos jovens assistidos pelo projeto é Titos Cornélio Moamba, de 22 anos, refugiado vindo de Cabo Delgado, distrito de Muidumbe. Ele conta que, no dia 7 de abril de 2020, ele e os sobreviventes de sua família fugiram de suas casas para o mato, a fim de se esconderem dos extremistas.
Um dos jovens assistidos pelo projeto é Titos Cornélio Moamba, de 22 anos, refugiado vindo de Cabo Delgado, distrito de Muidumbe. Ele e os sobreviventes de sua família fugiram de suas casas para o mato, a fim de se esconderem dos extremistas
“Vivemos lá por duas semanas, esperando a situação se acalmar para voltarmos à nossa casa, mas o conflito permaneceu”, conta o jovem, que tem desenvolvido o trabalho de serralheiro na Ajudemu. “Fazer o curso está me fazendo muito bem, irá ajudar a mim e a minha família”.
A crise econômica causada pela pandemia de Covid-19, porém, também atingiu a Ajudemu, que perdeu parceiros e verbas de editais e outras instituições. “Esperamos que haja pessoas que se identifiquem com o projeto e possam apoiá-lo, pois ele transformará vidas. Esses alunos terão a oportunidade de desenvolver um negócio e assim participar ativamente na comunidade, diminuindo as dificuldades em que vivem atualmente”, diz o diretor-geral da entidade.
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