Mais um site investigativo russo entrou na mira do governo Putin. O iStories foi denunciado pelo empresário local Alexander Ionov por supostamente ter recebido financiamento estrangeiro. Com a denúncia, a intenção dele é enquadrar o site na lei do agente estrangeiro, conforme informações do site Meduza.
A citada lei prevê que qualquer ONG que receba financiamento de indivíduo ou entidade de fora da Rússia e realize atividade considerada política seja listada como “agente estrangeiro”. O termo na Rússia remete a espionagem ou traição.
O texto legal, que é constantemente modificado, foi alterado em 2020 para permitir que o governo russo incluísse na lista diversos indivíduos, entre eles jornalistas estrangeiros, impondo assim restrições a eles. O próprio Meduza.io foi enquadrado nessa categoria pela Justiça russa.
Roman Anin, editor-chefe do iStories, publicou um artigo no qual atribui a Ionov outras denúncias contra veículos jornalísticos. O empresário é fundador do Movimento Russo Anti-Globalização e membro do chamado Comitê Público Para Identificar Interferência Estrangeira.
“Foi após sua denúncia, em abril deste ano, que o Ministério da Justiça reconheceu o Meduza como um ‘agente estrangeiro’; no final de junho, ele também fez uma denúncia contra a Novaya Gazeta ao Comitê de Investigação (SK)”, diz Anin.
O jornalista ainda refuta acusação de que o iStories tenha como beneficiário o sueco Anders Alexanderson, vice-presidente da Escola de Economia de Estocolmo. “Em princípio, uma organização sem fins lucrativos não tem um beneficiário – ela tem fundadores que não podem lucrar com as atividades da fundação e reivindicar sua propriedade. Anders Alexanderson não fundou o Istories Fonds”, diz ele.
Por fim, Anin admite a participação do sueco no site: “Alexanderson de fato atua no conselho de diretores da Istories Fonds”. Porém, nega que ele contribua financeiramente. “Anders Alexanderson nunca me pagou nada. Alexander Ionov terá que responder por essas palavras em um tribunal russo”.
Site ilegal
Uma decisão da justiça da Rússia, anunciada na semana passada, tornou irregular a atuação do site jornalístico Proekt, em represália contra uma série de reportagens sobre erros ou ações questionáveis do presidente Vladimir Putin e de alguns de seus aliados.
A ação ocorreu no momento em que o Proekt investigava o ministro do Interior Vladimir Kolokoltsev, que enriqueceu muito desde a nomeação, em 2012, e é suspeito de ter ligações com o crime organizado. O site chegou a noticiar que Putin teve uma filha secreta com uma amante.
Na última semana, jornalistas do site tiveram suas casas invadidas para operações de busca e apreensão da polícia, usando como justificativa um antigo caso de calúnia envolvendo Roman Badanin, editor-chefe do veículo. Como parte da ação do governo visa a sufocar financeiramente o veículo jornalístico, eventuais doadores, através de qualquer esforço de crowdfunding (financiamento coletivo), também são passíveis de punição.
A repressão do governo Putin a veículos de imprensa tem aumentado. Sites noticiosos, como Meduza e VTimes, também foram declarados “agentes estrangeiros”, mas a medida de considerar o veículo ilegal, caso do Proekt, não é habitual. Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão. A RFE recebeu multas milionárias.
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