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sábado, 24 de julho de 2021

Rússia ataca robôs do Telegram para tentar sufocar o jornalismo investigativo

Jornalistas investigativos estão entre os principais alvos de repressão no governo Putin atualmente. Profissionais da área têm sido investigados e presos, e sites e ONG’s têm sido atacados jurídica e financeiramente ao ponto de encerrarem suas atividades. A mais nova arma do Kremlin para combater esses veículos é digital. O alerta foi feito pelo jornalista búlgaro Christo Grozev em entrevista ao site local Coda Story.

Grozev é o principal jornalista investigativo do site holandês Bellingcat na Rússia. O foco do trabalho dele é segurança nacional, operações clandestinas extraterritoriais e o uso da informação como arma de repressão. Ele foi um dos autores da reportagem sobre os envenenamentos cometidos por agentes russos na Inglaterra em 2018, pela qual ganhou o Prêmio Europeu de Jornalismo Investigativo.

Rússia ataca robôs do Telegram para tentar sufocar o jornalismo investigativo
Christo Grozev, jornalista búlgaro do site holandês Bellingcat (Foto: Facebook pessoal)

Segundo o jornalista, a nova estratégia do Kremlin para sufocar investigações que possam afetar o governo é impedir o acesso digital a informações cruciais para as reportagens. “Na Rússia e em outros países da ex-União Soviética, muitos dados pessoais vazaram ao longo dos anos. Está consolidado em diferentes bancos de dados, que contêm milhões de registros pessoais”, explica ele.

O acesso a esses dados acontece através do aplicativo russo Telegram. “Existe um mercado próspero de bots do Telegram que fornecem acesso a uma grande coleção desses bancos de dados. Portanto, as pessoas fazem negócio fornecendo acesso a qualquer pessoa que queira comprar uma assinatura”.

Grozev conta que foi essa ferramenta que permitiu a um colega alemão rastrear um importante oficial russo envolvido na compra de equipamentos militares confidenciais na Alemanha. “Procurei esse número em um dos bots do Telegram, e ele me deu o nome do proprietário, o número do passaporte e o número de contribuinte pessoal da pessoa”.

Agora, em meio às constantes denúncias que surgem contra membros do governo e outros aliados do presidente Vladimir Putin, o governo tem trabalhado arduamente para bloquear esses bots e dificultar a atuação jornalística. “Eu diria que houve mais de 10 fechamentos de bots nos últimos seis meses”, conta ele, que admite ter o trabalho dificultado pela iniciativa. “Nosso escopo é limitado em comparação com o que tínhamos antes”.

Entretanto, Grozev acredita que não há como encerrar totalmente o negócio. Afinal, os dados estão disponíveis, o desafio é encontrar ferramentas para divulgá-los. “Não consigo imaginar como essa indústria, que se baseia em dados que vazaram anteriormente, possa ser silenciada, porque está tudo lá fora”.

Presidente Vladimir Putin no Kremlin, Moscou, em janeiro de 2020: jrnalismo investigativo na mira (Foto: Divulgação/Kremlin)

Site ilegal

Em meio à perseguição contra jornalistas e sites jornalísticos, uma decisão da Justiça da Rússia, anunciada na semana passada, tornou irregular a atuação do Proekt (Projeto, em tradução literal), em represália contra uma série de reportagens sobre erros ou ações questionáveis do presidente Vladimir Putin e de alguns de seus aliados.

A ação ocorreu no momento em que o Proekt investigava o ministro do Interior Vladimir Kolokoltsev, que enriqueceu muito desde a nomeação, em 2012, e é suspeito de ter ligações com o crime organizado. O site chegou a noticiar que Putin teve uma filha secreta com uma amante.

Na última semana, jornalistas do site tiveram suas casas invadidas para operações de busca e apreensão da polícia, usando como justificativa um antigo caso de calúnia envolvendo Roman Badanin, editor-chefe do Proekt. Como parte da ação do governo visa a sufocar financeiramente o veículo jornalístico, eventuais doadores, através de qualquer esforço de crowdfunding (financiamento coletivo), também são passíveis de punição.

A repressão do governo Putin a veículos de imprensa tem aumentado. Sites noticiosos, como Meduza e VTimes, também foram declarados “agentes estrangeiros”, mas a medida de considerar o veículo ilegal, caso do Proekt, não é habitual. Muitos jornalistas ligados ao oposicionista Alexei Navalny, atualmente preso em Moscou, tiveram suas casas invadidas pela polícia sob ordens de busca e apreensão. A RFE recebeu multas milionárias.

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